Confissões de uma prostituta


Meu nome é Laurinda, me lembro como se fosse hoje, nós morávamos em uma casinha simples, na fazenda onde meus pais trabalhavam.
Eu tinha apenas dose anos, as canelas finas, os peitinhos apontavam timidamente, maus cabelos eram longos encaracolados, os olhos eram verdes, em outras palavras: era uma neguinha ajeitada. E todos me chamavam de Dadá.
Todos os dias ia para roça levar o almoço do meu pai.
Um dia o capataz me esperou quando voltava para casa, me puxou atrás de uns arbustos e me violentou, amarrou um pano na minha boca para que eu não gritasse, depois ameaçou de matar meu pai, se eu contasse para alguém, e assim ele me pegava duas, três vezes por semana.
Fui crescendo, me sentia uma cadela no cio, os homens viviam atrás de mim.
Minha fama corria pela pequena cidade, foi quando meus pais decidiram que eu tinha que ir embora, estava cobrindo de vergonha à família.
E assim fui para a cidade, tentar uma nova vida, e até tentei, mais não parava em emprego nenhum.
Quando a vida ficou difícil, com a falta de dinheiro, comida e longe de casa, voltei a fazer o que fazia desde os doze anos. Aí eu não tinha escolha era gordo, moço, velho, qualquer um que pagasse pelo programa.
O tempo foi passando e com ele os meus sonhos da adolescência, de casar, ter filhos, uma família foi ficando cada vez mais distantes.
Hoje me sinto doente, abandonada, sozinha e com uma tristeza sem fim.
A solidão dói muito, trás lembranças de um tempo que eu corria pela fazenda, andava a cavalo, tomava banho no rio, era tão ingênua, não tinha malicia, nem maldades, uma inocente criança feliz.
Que jamais imaginei que seguiria por caminhos tão diferentes, e fosse tão maltratada.
Eu nunca conheci um amor de verdade, o carinho, companheirismo, a parceria de um homem. Apesar de ter conhecido centenas deles.
Todos que passaram pela minha vida só queriam sexo, e pagavam por ele. Na maioria das vezes eram brutos, ignorantes, insensíveis.
Entretanto não deixo de pensar que minha vida poderia ter sido bem diferente.
Por exemplo: agora estaria contando historias para os meus netos, rodeada pela família, cercada de amor e carinho.
No entanto, estou aqui maltratada pela vida, esquecida em uma casa de saúde, entregue a própria sorte.
Hoje não posso mais trabalhar, minha sina é ficar aqui esperando a morte chegar. Se depender das tristezas, magoas e frustrações tenho certeza ela não vai demorar.
Ninguém tem noção, como é terrível a solidão é a morte que vai matando bem devagarzinho, até o fim.
 
 
 
 
 
Obs.: duas semanas depois desta confissão Dadá faleceu e foi enterrada como indigente. Sua historia é semelhante à de milhares por aí afora.