O dia que meu VR acabou.
Você tem que. Você precisa de. Você quer o.
Você tem que ter espírito corporativo e socializar ou beijar o saco de alguém que tenha o cargo superior ao seu. Esse é o caminho para o topo do qual eles não falam.Você tem que chegar às oito, cumprir oito. O cartão bate mas o que quebra é a cabeça com as buchas pra resolver durante o dia. É isso de segunda à sexta-feira, com pessoas auto-enganadoramente felizes por não ser também aos sabados e domingos.
Hoje depois do almoço, aqui na empresa, rolou uma dessas palestras motivacionais. Já começou errado: empresa depois do almoço, quando tudo o que você quer depois de quase morrer de tanto comer é morrer de tanto dormir.
Beleza.
Fui.
Cheguei e vi umas pessoas que eu mais ou menos gosto sentadas ao fundo do auditório e fui até lá. Me acomodei em uma dessas poltronas confortáveis e olhei pro telão só pra ter certeza de que lá estava escrito "SAIBA COMO TER SUCESSO E FELICIDADE" . Olhei. Errei, era "SUCESSO E FELICIDADE COM A ARITA". Arita é o nome da empresa das palestras, óbvio.
Um japonês com cara de afetado estava lá , provavelmente era o palestrante (pra deixar bem claro: gosto de japoneses e suas caras, menos desse e de um dono de um boteco que me vendeu salgado estragado um dia). Impressionante como todos esses palestrantes-empresários-bem-sucedidos são todos iguais: além de ricos, uns babacas. Com suas barbas feitas (deio barbafeitisse(homens) e unhasfeitisse(mulheres), é impossível ter barba ou unhas sempre impecáveis e ter uma vida legal ao mesmo tempo.), cabelos penteados, sapatos lustrados, sorrisos e celulares e relógios e cafés e etc etc etc. Fora as piadinhas sobre dinheiro, casamento e sexo. Mas quem liga pra eles(os palestrantes)? Bom, aparentemente todo mundo menos eu. Pelo menos aqui nessa empresa.
O auditório estava com o maior número de pessoas chatas por metro quadrado que eu já vi. Perdendo só pra igreja, pra USP e pro Verdurada.
Comecei a pensar na merda: uma hora ouvindo/vendo o cara falar da droga dos passos para a felicidade enquanto eu só queria saber dos passos que eu daria pra rua às 17h30.
Como meu VR acabou no meio do mês, decidi ficar porque ia ter lanche depois. Você acha isso feio porque nunca me viu peladgênha (mentira, sou linda(mentira)). Comi como se não houvesse amanhã. E realmente acho que não vai ter amanhã (a comida). Tô sem um puto.
Ouvir "Respire", "Relaxe", "De um abraço na pessoa do lado" ao som de uma playlist com sonzinhos de gaivotas e cachoeiras foi desesperador.
Mas eu consegui. Aguentei todos os oi-ten-ta minutos, amigos.
Mas então,
Se eu não tivesse aproveitado o momento que o japa-boa-pinta disse pra fechar os olhos pra refletir, pra na verdade dormir, esse texto seria uma boa critica à essa putaria franciscana que é uma palestra motivacional.
Muito motivacional. Tá me motivando ao suicídio.
Mas o que importa é que eu cochilei um pouco e ainda comi. E fim.