UM NOVO AMANHÃ
Um Novo Amanhã
“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus...”(eclesiastes)
Com noites mais longas e dias mais curtos, o outono que faz transição do verão para o inverno traz como características, períodos de mudanças bruscas de temperaturas. Inicia-se o tempo da colheita. Os frutos bastantes maduros começam a cair dos pés. As arvores vão perdendo suas folhas formando um tapete colorido cobrindo todo o chão com folhas amareladas e avermelhadas , cedendo seus lugares para o nascimento de novos brotos.
Nas primeiras horas na manhã do dia oito de abril de 1959, na pequena cidade de Cristalina, vizinha da Capital Federal,precisamente no planalto central, nasceu Dorothéa. A sexta filha de uma numerosa família de quatro meninas e um menino. A mais recente moradora chegara ao mundo numa manhã em que um denso nevoeiro cobria toda a cidade. Numa rua de terra próximo ao adro da igreja ficava o velho casarão que os abrigava . Desgastado pelo tempo, com grande parte dos adobes à mostra , o lar da menina Dorothéa refletia a dificuldade financeira da família.
No terceiro andar de um apartamento num prédio situado no setor oeste da capital goiana, uma senhora sentada próximo ao parapeito da sacada,com os braços jogados no colo olhava contemplando a paisagem exuberante do “Lago das Rosas” também conhecido como “Horto,” privilegio que visualizava de seu apartamento. Com idade outonal, seu rosto revelava marcas ainda tênues...tributo cobrado pelo tempo.Seus olhos verdes bondosos e inteligentes conservavam um olhar sonhador como de outrora. Aos cinqüenta e dois anos, casada, mãe de um casal de filhos já adultos e profissionalmente realizada, a nossa personagem como todos mortais vivera entre compensações e enganos, surpresas agradáveis e desagradáveis ..
Um exame de rotina revelara que Dorothea tinha um nódulo no pulmão direito. Tal revelação submergiu toda a família num mar de preocupações. Extirpado todo o pulmão direito, Dorothea agora se recuperava da traumática cirurgia. Com fé inabalável, ela não perdera a esperança. Deixando de lado seus temores e duvidas, procurou segurar o leme do barco para que este não afundasse. Sentada na confortável cadeira agora tinha tempo para pensar, recordava o passado. Seu lábios desenhou um tímido sorriso ao recordar parte tão ingênua de sua infância. No quintal do velho casarão havia as mais variadas espécies de frutas: abacateiro, mangueira, laranjeiras, bananeiras e dois maravilhosos pés de jabuticaba que quando carregado de flores exalavam um perfume adocicado por todo o quintal, prenuncio de que em breve surgiria frutos maduros e deliciosos. O quintal fora o parque de diversão das crianças da família e seus amiguinhos. Para Dorothea e seu irmão Daniel: um ano e meio mais velho, era mais que diversão...era um mundo repleto de magia.Naquela época só se iniciava o estudo aos sete anos, portanto o casal de “anjinhos” tinham muito tempo livre para suas traquinagens. Apesar do imenso pé de manga que havia em seu quintal , a manga do quintal da vizinha parecia de melhor sabor.Portanto quando dona Luisinha se ausentava por algum motivo e, se fosse época de manga “coquinha”, os pequenos traquinas pulavam a cerca de arame e invadiam o quintal “trepavam” na arvore e saboreavam a doce fruta. Por vezes ficavam de castigo de cócoras nos galhos mais altos entre as folhas escondidos devido a chegada repentina da velha senhora, que na maioria das vezes percebia e ficava um tempo no terreiro do fundo...não por maldade e sim para divertir um pouco com as crianças.
Chegada a idade escolar o tempo para traquinagem ficara limitado. Vieram outras incumbências. Passaram a “fazer miçanga “ ( cristais de rocha extraídos de garimpos, os menores eram “descascados’ por pequenos martelos que originavam as miçangas) para ajudar no sustento da família. No quintal de sonhos, grandes magias foram realizadas.Circos foram erguidos ali, pelas irmãs mais velhas,as crianças da vizinhança formavam a platéia. Malabaristas se equilibravam em uma tabua que ficava sobre um pequeno tronco roliço. Trapezistas escalavam uma corda que estava “amarrada” ao galho do abacateiro. Em seguida era girada sob uma chuva de aplausos. Até que um dia...Plaft...a coisa ficou feia, a trapezista depois de alguns minutos...segundo... Gritou “__To sem fala!” o circo acabou. Dorothéa crescia. Perde-se algumas coisas para agregar outras. “O tempo não para:” Ela amou, deixou de amar, foi amada. Voltou de sua viagem no tempo quando ouviu o toque da companhia. Dorothéa percebera, que o sol se despedia. As luzes da cidade já estavam acesas.Nas ruas lotadas de carros com motoristas apresados buzinavam na ânsia e impaciência de chegar em casa depois de um dia de trabalho. No apartamento de Dorothea filhos e marido chegavam do trabalho preenchendo todo aquele lar de amor e ternura.
Na manhã seguinte a vida recomeçava. Dorothéa acordara disposta. Lá fora a primavera fazia sua parte: Animais nasciam, pássaros cantavam harmoniosamente, flores salpicavam por todos os lados enchendo o ar com perfumes variados. A natureza em festa fazia seu papel transmitindo alegria,distribuindo esperança depois de um inverno frio.Dorothéa vivera um momento reflexivo: passado e presente haviam se fundido por um tempo,deixando a certeza de que ...”O futuro a Deus pertence.”