Retratos Do Cotidiano: Pais & Filhos


Sábado último, pela manhã, recebo um torpedo de uma amiga: “Preciso falar com você urgente. Preciso de um conselho. Quando puder me liga.”.

Minha amiga tem trinta e poucos anos, seu marido também, e dois filhos :14 e 7 anos
.
Parei o que estava fazendo e liguei para ela. Ela estava com a voz um tanto alterada, num misto de angústia e dúvidas.

Disse-me que precisava de um conselho, pois seu filho mais velho foi ao shopping com uns colegas e de lá ligou para o pai (que trabalha vizinho ao shopping) avisando onde estava e perguntando se o pai poderia levar-lhe um dinheiro para lanchar com os colegas, no que foi prontamente atendido pelo pai.

Mas quando o pai chega lá toma um susto, pois a garotada estava vestida de short, camiseta e chinelo, inclusive seu filho!

O pai se controla para não repreender o filho na frente dos colegas, mas logo em seguida liga para a mãe e relata os trajes do filho, acrescentando que os seguranças do shopping estavam próximos trocando conversas pelo rádio e reparando naqueles meninos suspeitos. Ambos concordaram que aquilo era um absurdo. A mãe fala para o pai se tranquilizar, que iria ter uma conversa com o filho.

E a conversa rolou naquela sexta-feira mesmo.

Foi o moleque pondo os pés em casa e a mãe já disparou o sermão... Como pode ele ir ao shopping vestido como um maloqueiro? Será que ele não percebeu que os seguranças estavam até de olho no grupinho dele?Um bando de maloqueiro!

O garoto tentava justificar-se em vão: mãe, todos os meus amigos se vestem assim. Porque só eu tenho que andar todo “embecado” como um “mauricinho”? A gente foi só no shopping!

A mãe, à beira de um ataque, não queria ouvir explicação nenhuma. Dedo em riste afirmava que ele não iria mais vestido assim a lugar nenhum, que ele tem roupas decentes e pais que educam, que se os amigos dele não tem pai nem mãe, ele tem. E que não iria mais ao shopping sozinho! De castigo – encerrou.

Durante todo esse relato eu não disse uma só palavra. Ouvi e aquilo parecia ter eco na minha cabeça.

Minha amiga, me pergunta com voz embargada: o que faço? Você tem um filho de 17 anos, já tem mais experiência que eu!

Respirei fundo, mas foi mais forte que eu...

Disparei um “Você e seu marido são dois malucos!”.

A coitada tomou um susto e me perguntou o porquê daquilo?

Respondi: ora, tenha santa paciência, você e seu marido façam-me o favor de ir ao shopping hoje só vocês dois. Sentem-se num lugar qualquer e fiquem observando as pessoas... Vocês tomarão uma dose de realidade. Verão o tanto de pessoas que andam de short, camiseta, chinelo, penteado, despenteado... Será que todos são maloqueiros? E os “bem-vestidos” são todas pessoas de bem? Será que esse rotulo é mesmo válido? E os seguranças ao rádio, será que não é praxe, rotina exigida pela função?

Agora o silêncio era dela. E eu continuei...

O comportamento do seu filho em casa com você, com o pai, o irmão, tem mudado? A resposta foi que não, que ele continua carinhoso, obediente e prestativo como sempre foi.

Pois então, costumamos eu e meu filho ir a lugares vestido tal foi seu filho e os colegas ao shopping. Meu filho usa brinco e eu sou tatuado o que, partindo do seu conceito de maloqueiro, somo quase uma gangue. É hora de você repensar, rever conceitos...

Os trajes podem até traduzir um estilo, mas não revelam o caráter. Isso só o comportamento o fará.

Ela me responde: não tinha parado pra pensar por esse ângulo.

Sugeri como conselho a minha amiga que, mesmo ela e o marido sendo participantes assíduos de encontros de casais, procurassem ajuda de um especialista e lerem artigos e livros que tratem do assunto, pois temo que tais encontros estejam focado apenas no casal e não na família.

Um especialista pode fundamentar e argumentar melhor do eu, afinal posso estar pensando errado e dai, também eu preciso rever conceitos, procurar ajuda.

Apenas temo que por uma tradução de vida equivocada se crie um ambiente insalubre dentro da própria casa e, naquela busca insaciável da adolescência por descobertas, o filho da minha amiga encontre fora do seio familiar “abrigo” para suas experiências.

Reza a estatística e a realidade que tais abrigos quase nunca geram proteção.

 
Flávio Omena
Enviado por Flávio Omena em 24/10/2011
Código do texto: T3296299
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