COISAS DE FAMÍLIA V

- Amanda! - O nome veio como grito. A jovem ouviu com desprezo a voz da mãe. Digitou mais algumas coisas e respondeu um...

- Já vou!.

Porém, como sempre demorou a atender. O que queria era continuar alí, naquele que considerava seu mundo particular. Onde podia ser o que idealizava, falar o que pensava e ter o comportamento da hora sem ninguém para "Encher o saco". A não ser, claro, ela... A mãe que quando chegava, a noite, se fazia presente gritando o seu nome.

- Que saco! - Reclamou.

Esta era a vida de Amanda, quinze anos, filha de Vânia, trinta e cinco.

Duas realidades que conviviam. Para Amanda, a fase da descoberta. Novos amigos, influencias, sentimentos e atitudes.

Já para Vânia, a responsabilidade de "criar" uma filha sem a presença do pai que se fora em nome de uma aventura e pouco participava. Com isso, se consumia no trabalho para sustentar a filha e como forma de compensar a ausência preferia não falar em limites. Para evitar os conflitos, decidira simplesmente confiar na menina.

- Vem comer alguma coisa filha - Disse ao ver a figura de Amanda surgir no corredor. Sem falar nada, Amanda segurou o prato e voltou para o quarto. Vânia, observou o silencio da filha num misto de culpa e tristeza. Não sabia o que fazer. Como agir com o silencio constante dela. Não conversava, não se "abria". O que fazer?. O melhor era deixa-la com as amigas, com as baladas e com o seu jeito de viver. Afinal o mundo mudara, a juventude de hoje é liberada e não havia o que fazer para frear os hormônios desta meninada. Com o tempo as coisas chegariam ao seu devido lugar. Virou-se para a pia e continuou a lavar a louça do café da manhã.

De novo no quarto, Amanda jogou o prato sobre a cômoda e voltou a se conectar. Clicou num dos ícones da tela e passou a digitar: "Oi Bob, desculpe era a chata da minha mãe. Olha estou confirmadissima na sua rave. Vou com uma "roupicha" que vai arrasar. Fique tranqüilo que vou levar a Kelly, ela também vai pra dançar. Obrigado por me dar atenção. Já que aqui em casa, ninguém liga para o que faço ou deixo de fazer. Pra minha mãe o que vale é o que ela vê. Olha não esquece que desta vez eu vou experimentar o "lance", tá bom?...". E assim foi até as quatro da manhã sem ser incomodada por ninguém.

Dois mundos, duas realidades.