Domingo.
Dor, tristeza, arrependimento, raiva. Nada pode ser pior que o tédio, nada!, eu pensava enquanto olhava da janela do meu apartamento a tiazinha da reciclagem com seus sacos e um cachorro a acompanhando(óbvio). Não tinha um namorado, não tinha amigos de infância, não tinha almoço em família aos domingos, não tinha convite pra nenhuma festinha e ainda bem que não tinha. Eu, não a tiazinha.
Nada disso me agradava, porque nada me agradava. Precisava de um homem, ou de um cigarro.
Fui até a cozinha e preparei algo pra comer. Miojo, sempre miojo nessa porra!, reclamei. Me sentia feia, me sentia gordinha e me deu vontade de dançar. Balançar todo o meu corpo gordo e minha cara feia no meu apartamento sem ninguém pra encher o saco: meu sonho. Realizei meu sonho ao som de Rude Boy, de Desmond Dekker e voltei pro miojo. Tirei o miojo do microondas. Desliguei o microondas. Comi tudo prometendo começar o regime de todas as segundas.
Até aí tudo bem: apartamento fechado, música, miojo e tédio, nada anormal. Anormal (mas muito comum por essas bandas) mesmo é receber ligação de ex-namorado querendo marcar um choppinho, um barzinho, um filminho. Tudo inho, né? igual seu pintinho, eu disse encarando o celular.
O botão vermelho do celular salvou minha vida e voltei pro inferno (?).
Voltei pra janela, a tiazinha da reciclagem estava no fim da rua e ela tinha um cachorro. E dor, tristeza, arrependimento, raiva. Nada pode ser pior que o tédio. Nada.