COISAS DE FAMÍLIA II
Ainda não era seis horas daquela manhã de setembro. Um sábado.
Edith, levantou-se da cama para pôr os sacos de lixo no portão. Abriu a porta e sentiu o vento frio.
Olhou para o céu e viu as nuvens de possível chuva.
O sono ainda atordoava sua mente, quando de repente ouviu um choro. Primeiro pensou se tratar do sonho da noite que passava, mas a insistência a fez acordar para a realidade além do muro da sua humilde casa.
Abriu o portão e viu. Uma menina. Mais ou menos cinco anos. Branquinha. Cabelos despenteados. Sentada. Chorando.
Edith sentiu uma pontada no peito ao deparar com aquele olhar e a pergunta:
- Você viu minha mãe?
Por um momento, Edith não pôde responder, mas procurou controlar-se e arriscou:
- Não, mas o que você faz aqui?
- É que minha mãe saiu com o namorado dela e eu fiquei sozinha com meu irmão. Só que eu acordei e fiquei com medo do escuro e vim ver se ela está por aqui.
O que posso fazer? Foi a pergunta silenciosa da senhora, até que a menina continuou:
- Estou com fome.
Rapidamente Edith foi até a cozinha e preparou um pão com manteiga.
Voltou e ofereceu. A menina pegou o pão e comeu com vontade.
Depois perguntou de novo:
- Você sabe onde está minha mãe?
- Não! - Respondeu Edith.
A menina se voltou para o horizonte e passou a brincar com um pedaço de plástico.
A senhora ainda num misto de medo e duvida, resolveu levar a criança para dentro de casa, quando de súbito passou a ouvir vozes. Na verdade, gritos.
De repente, as figuras de um homem e uma adolescente surgiram na esquina.
A menina ao olhar o rosto da mulher deu um pulo e suspirou:
- Mamãe.
E se foi, correndo ao encontro.
A "quase" mulher ao se deparar com a pequena, fuzilou Edith com um olhar e gritou:
- O que você está fazendo aqui?
A menina parou em silêncio e a mãe continuou:
- Você tem que me esperar em casa! sua vadia!
Berrou, pegando a menina pelo braço e andando com pressa.
Edith ficou ali num choro doído; olhando a cena; com uma oração silenciosa que só dizia "Deus, ajude as crianças".