... Segredos de um velho.

Papel azul e caneta vermelha são as únicas coisas além da xícara ao alcance daquele homem de sessenta e oito anos, com aparência de oitenta. Em sua juventude os homens de sessenta e oito ainda tinham algum vigor sobre os ombros, apesar das rugas localizadas. Toma a caneta e desliza com força sobre o papel, este preso por um dos braços. Palavras arrastadas como em receita médica. Poesia. Recordações. O tempo que já não volta e o corpo que dá sinais do fim.

“Meu medo é o segredo. Meu segredo é o medo.

Medo de saber que os outros já sabem do meu segredo.

Tenho vergonha de sentir vergonha.

Sinto que sentirei algo que não quero sentir.

Jamais.

Medo da vergonha.

Medo de contar um segredo.

Segredo que todos sabem,

Mas não quero ter certeza da certeza deles.

Escrito em Nova Cidade, junho de 2045.”

Voltando à xícara, nota que o passado esfriara o seu café.

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