VIVENDO TEMPOS E CONTRATEMPOS

Roberto e Dina decidiram passar um mês de férias em Treze Tílias, um pedaço da Áustria aqui no Brasil. É um lugar lindo que fica no sul do país.

Como o sul foi colonizado por alemães, todas as cidades têm um pedacinho muito parecido com a Alemanha, principalmente Treze Tílias, que chega a ser mais bonita que o Tirol, uma região montanhosa e também linda, particularmente no verão onde as flores dão vida aos lugares.

Logo que Dina e Roberto desceram do avião, um carro já os esperava para levá-los ao hotel. O hotel ficava no alto, o que lhes dava uma linda vista. O apartamento em que ficaram era grande, espaçoso e com uma decoração bastante elegante. Havia um quarto e uma sala, na qual tinha uma TV de plasma e um frigobar, além de uma máquina de fazer café. Olhando pela sacada do apartamento, via-se uma linda paisagem, com muitas árvores e jardins muito floridos, era uma visão maravilhosa. Dina logo guardou seus pertences e os de Roberto. Apesar da idade, Dina era vaidosa, elegante e jovial. Fazia questão de se manter sempre muito elegante, por isso estava constantemente preparada para sair. Dina gostava de passear e era uma senhora muito bem disposta.

Realmente, era uma mulher bem resolvida. Estava sempre muito feliz e tinha um sorriso que lhe enfeitava o rosto.

Seu marido também gostava de passear, mas já não era tão expansivo como Dina, Roberto era mais tranquilo em suas atitudes. Era um homem bem sucedido, era executivo em São Paulo de uma multinacional. Roberto e Dina já estavam casados há mais de quarenta anos. Dina já estava acostumada com o modo de ser do marido, com o seu jeito mais reservado.

Roberto dedicava-se mais ao seu trabalho e, por conseguinte, quase não tinha tempo para se dedicar à família. Mesmo assim eles formavam uma família perfeita, a vida fora boa para eles.

A esta altura da vida, já tinham casado os filhos. E por isso, Dina ocupava-se mais de seu trabalho voluntário, para não sentir tédio.

Ela estava muito feliz com estas férias, já fazia muitos anos que eles não viajavam juntos. Dina estava tão contente que comentava com o seu marido que parecia inacreditável que estivessem, naquele lugar magnífico, vivendo momentos tão sublimes.

Roberto gostava de vê-la feliz e se culpava por não ter se dedicado muito a ela nos últimos anos, devido a sua dedicação ao trabalho. Mas eles tinham um relacionamento muito bom e faziam planos para o futuro, para quando Roberto se aposentasse.

Em seu retorno a São Paulo comentavam o quanto seria bom retornarem àquele local, de tanto que gostaram. Entretanto, os meses e anos foram passando, tudo voltando à rotina de sempre. Ele saía cedo para o trabalho e só retornava à noite. Ela cuidava da casa, como de costume, fazia as compras necessárias e à tardinha dedicava-se ao trabalho voluntário, o que lhe dava muita satisfação.

E eis que, na manhã do dia 27 de abril de 1989, Dina levantou com uma dor de cabeça incrível e tomou o remédio que estava acostumada para passar a sua dor. Porém aquela dor foi aumentando cada vez mais. Como Dina já não estava suportando tamanha dor, ligou para Roberto e pediu que ele a levasse para o pronto-socorro. Ela estava desesperada. Prontamente Roberto saiu do trabalho e foi ao seu encontro. Ao chegarem ao pronto-socorro, os médicos imediatamente a levaram para fazer alguns exames, e os primeiros diagnósticos mostravam que o seu caso era bastante sério. Os médicos ainda não tinham certeza do que era e disseram apenas a Roberto que seria melhor que ela ficasse em observação para fazer outros exames.

Diante de sua hospitalização, Dina pediu para o marido ir até a sua casa pegar alguns objetos de higiene e roupas. Roberto deixou o hospital e foi para casa pegar as coisas que sua mulher lhe pedira.

Quando Roberto chegou a sua casa, achou tudo muito esquisito. Ele nunca havia observado que, com a falta de sua esposa, tudo parecia sem vida.

Roberto foi até o quarto para pegar as coisas que sua mulher lhe pediu. Mas, não tinha a menor ideia em que gaveta as roupas estavam. Abriu e fechou várias delas. Quando abriu uma das gavetas, observou que lá no fundo tinha um pacote de presente.

Ficou intrigado e pensou: “Para quem será este presente? Que eu saiba ninguém faz aniversário por estes próximos meses! Para quem será?” Então, resolveu abrir o pacote. Enquanto ia tirando o papel, que envolvia aquele presente, Roberto lembrou que aquele era um pacote que ele mesmo havia dado para sua mulher, qual não foi seu espanto... “Meu Deus!” E ele abriu o embrulho novamente.

Nesse momento, Roberto falou em voz alta:

– Este é o presente que comprei para ela na última viagem que fizemos, em 1985, ela nem usou o presente. Provavelmente estava esperando uma ocasião especial. Dina tem mesmo esta mania de guardar as coisas para momentos especiais!

Roberto resmungou:

– Que bobagem guardar para uma ocasião especial. Pobre Dina, se ela soubesse que cada dia que vivemos já é um dia muito especial, quando temos a graça de Deus de ter saúde...

Roberto, admirado, dizia para si:

– Estou perplexo com a atitude da minha mulher de guardar para amanhã. Na vida, todos os momentos devem ser vividos.

Certos hábitos que nós temos não nos deixam desfrutar dos bons momentos. Por vezes nos esquecemos que aquele momento pode ser o único em nossas vidas. Devemos levar a vida o mais leve possível. Sentar em um jardim e apreciar a beleza das flores, o cantar dos pássaros, dedicar o maior tempo possível às pessoas queridas... Isso é ter momentos especiais, é ser feliz!

Devemos compreender que a vida deve ser uma fonte de experiências, as quais devem ser desfrutadas intensamente, com amor e dedicação às pessoas que amamos.

Não devemos guardar nada para amanhã, devemos desfrutar todos os momentos com muita alegria e satisfação, porque o amanhã pode não chegar!

Roberto, ali naquele quarto com seus pensamentos, estava triste porque sabia que sua mulher estava no fim de sua vida. Ela teria feito melhor se tivesse usado o presente no momento em que o recebeu. Aquele momento sim era especial.

Ali, absorto em seus pensamentos, Roberto ouviu o telefone tocar. Ao atendê-lo, estremeceu quando soube que era do hospital.

– Está tudo bem?

A voz do outro lado, então, disse:

– Não, sua mulher...

Não precisou terminar a frase, Roberto entendeu que tinha chegado o fim de sua companheira de tantos anos. Roberto colocou as roupas em cima da cama e pensou:

– Bem, agora não precisa de tudo isso.

Roberto resmungou:

– Estou certo que se minha mulher soubesse que era o fim, teria agido diferente, teria aproveitado mais a vida.

Por vezes não imaginamos que os nossos minutos estão contados e que não teremos o amanhã. São nestas horas que as pequenas coisas deixadas por fazer nos deixam tristes. Se soubéssemos que nossas horas estão limitadas...

É muito melhor pensar que fizemos tudo. Roberto argumentou:

– Temos que viver felizes e fazer todos os nossos queridos felizes. Mesmo que seja por alguns momentos, já valeu a pena. Devemos esquecer estas frases: “Qualquer dia...”; “Quem sabe amanhã...”; “Se eu puder...”; e “Talvez...”

Roberto pensou então:

– Vou tirar do meu vocabulário estas palavras. Dina também teria aproveitado mais a vida se soubesse levá-la mais leve, sem tantas restrições. Agora é tratar de não adiar nada... De não guardar nada... Vivamos todos os momentos de alegria e felicidade hoje, o amanhã Deus proverá.

Essa foi a vida de Roberto e Dina. Não devemos fazer como ela fez, aguardar por um momento especial. Somente viver já é um grande momento especial.

Roberto passou a viver cada momento como se fosse o mais especial de sua vida.

E fica aqui a sugestão: abra a gaveta de sua mente e jogue tudo que estiver te deixando triste, amargurado, sem alegria, fora. Porque para viver só temos esta vida, e ela muitas vezes não é tão longa e nos pega de surpresa.

Mas, onde quer que esteja Roberto, ele estará sempre se lembrando de todos os momentos que viveram juntos e estará agradecido a Deus pela vida que tiveram, que foi sempre abençoada por Deus.

Diva Mendes
Enviado por Diva Mendes em 17/10/2011
Código do texto: T3281621
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