Conto #035: O INTERDITADO Parte 4/4
EPÍLOGO
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Tinha tudo para ser um profissional bem sucedido, mas o pior ainda estava por acontecer.
Com a suspensão da pensão da falecida, as coisas ficaram difíceis. Com o orçamento cada vez mais apertado, o padrão de vida que antes levavam agora era difícil de ser mantido. Como seria possível contornar aquela situação vexatória? O Francis seria incapaz de sustentar o padrão da família a menos que conseguisse um emprego ou negócio bem lucrativo.
Depois de muito pensarem, tiveram uma aparente brilhante ideia, mas certamente não seria uma boa, mas uma desastrosa decisão. Eles tinham muita amizade com os peritos do Sistema de Aposentadoria e Pensões. Após horas e horas de discussões concluíram que o único meio para recuperassem o antigo nível sócio financeiro seria interditar o Júnior. Era um plano maquiavélico, pois ninguém pensou no bem estar do jovem, mas apenas em não perder a pensão da falecida. Era uma medida jurídica pela qual o Júnior, maior de idade e capaz, seria privado da gestão de seus bens, em virtude de “não se achar em condições de saber governar-se”. Além de ser uma farsa, era um ato de crueldade que a médio e longo prazo sofreria desastrosas consequências.
Em outras palavras, ele não mais teria autonomia nem poderia decidir nada sem a permissão do seu tutor. Adeus sonhos, adeus profissão. Seria quase que um vegetal ambulante. Ele que antes viajava livremente pelo país e pelo exterior, agora teria que sempre ter a permissão do padastro para fazer o que desejasse.
Com grande sacrifício, a junta familiar conseguiu (não sei como) a concordância do jovem que, para o bem-estar da família, resolveu sacrificar a sua própria liberdade. Foi um gesto aparentemente louvável, mas aquilo era mais uma porta para a mentira prevalecer e a farsa continuar, trazendo mais maldição e condenação e, certamente, ele iria pagar muito caro. Até onde isso iria dar, só Deus saberia.
O nosso maior medo é quando ele acordar para a realidade perceber que teve que não só adiar, mas abdicar de todos os seus sonhos. O mais curioso disso tudo era a tutela passada para alguém bipolar, sem a mínima capacidade emocional e sem a mínima condução de conduzir esse processo. Onde estaria o bom senso daquela família que não conseguia ver o absurdo e o crime que estavam cometendo contra aquele pobe rapaz? Era algo inadmissível.
_ Muito bem, Sr. Júnior! Você está ciente de que não mais terá decisão própria, será tutelado por um de seus familiares, não poderá mais... _ E foi citado tudo o mais que não poderia fazer ou decidir como interditado.
_ Estou ciente sim, Excelência. E, por isso mesmo, não concordo, pois me sinto absolutamente capaz de trabalhar e cuidar de minha própria vida.
Surpresa para todos. Júnior, diante do juiz que arbitraria a interdição, mostrou um homem capaz e digno de trabalhar e vencer e não aceitou ser interditado. O juiz, vendo que o rapaz é adulto, normal, capaz, indeferiu.
Fico a pensar no texto nas Escrituras Sagradas:
“O amor ao dinheiro é a origem de todos os males”.
Deus os abençoe!!!