Bodas de Prata
Naquela noite permitiu-se algumas extravagâncias. As doses de uísque relaxaram a musculatura e o pudor. Ousou dançar. O joelho sem dor, não estalava; ou talvez era o som que estava camuflado pela embriaguês e ele nada ouvia.
De nenhum sabor privou seus sentidos. Empanturrou-se feito criança. Distribuiu simpatia até mesmo às mais intoleráveis companhias, presentes apenas por uma infeliz questão de parentesco.
A festa se dava em comemoração ao casal. Vinte e cinco anos. Uma longa história de tolerância, paciência e respeito. Ele sabia das angústias dela pelo simples enrolar dos cabelos nos dedos. Ela compreendia os aborrecimentos dele ao notar que mordiscava os lábios, na tentativa de digerir o próprio ódio.
O anel dourado, com um detalhe em prata, passou a adornar o dedo logo após a missa de homenagem. Adequadamente como manda a tradição. Se bem que ela detestava a cor prateada, e ele, qualquer tipo de anel.
A esposa conversava banalidades sobre o frio e os filhos. Agradecia elogios e votos de felicidades. Sua aparência discreta e altiva sempre fora alvo de encanto e inveja.
Ao enfastiar-se de sorrir, recolheu-se, recolhendo juntamente o marido. Deitaram-se, se entreolharam, finalizando com um beijo de boa noite.
Ao homem foi mais penoso dormir. O estômago abarrotado, a digestão que há tempos não possuía a velocidade de outrora, as paredes que rodavam: todo o conjunto lhe causava enjôo e pesadelos.
O sono seguiu sobressaltado, um incômodo constante o deixava na iminência de acordar. Logo uma dor aguda se iniciou na têmpora esquerda, juntamente a um leve zumbido no ouvido. A bexiga a ponto de transbordar forçou-o a se levantar. Ainda bastante sonolento, olhos meio fechados, se dirigiu ao banheiro. Felizmente o caminho era tão automático quanto seus passos. Pisou firme e certeiro. Arremessou a testa na janela. O vidro provocou um estampido seco. Apoiou as mãos um tanto assustado. Olhou em volta, se sentindo perdido. Todos os passos calculados. Vinte e cinco anos de rotina. E errou a direção da porta.
Estava bem mais acostumado a dormir no sofá.
Naquela noite permitiu-se algumas extravagâncias. As doses de uísque relaxaram a musculatura e o pudor. Ousou dançar. O joelho sem dor, não estalava; ou talvez era o som que estava camuflado pela embriaguês e ele nada ouvia.
De nenhum sabor privou seus sentidos. Empanturrou-se feito criança. Distribuiu simpatia até mesmo às mais intoleráveis companhias, presentes apenas por uma infeliz questão de parentesco.
A festa se dava em comemoração ao casal. Vinte e cinco anos. Uma longa história de tolerância, paciência e respeito. Ele sabia das angústias dela pelo simples enrolar dos cabelos nos dedos. Ela compreendia os aborrecimentos dele ao notar que mordiscava os lábios, na tentativa de digerir o próprio ódio.
O anel dourado, com um detalhe em prata, passou a adornar o dedo logo após a missa de homenagem. Adequadamente como manda a tradição. Se bem que ela detestava a cor prateada, e ele, qualquer tipo de anel.
A esposa conversava banalidades sobre o frio e os filhos. Agradecia elogios e votos de felicidades. Sua aparência discreta e altiva sempre fora alvo de encanto e inveja.
Ao enfastiar-se de sorrir, recolheu-se, recolhendo juntamente o marido. Deitaram-se, se entreolharam, finalizando com um beijo de boa noite.
Ao homem foi mais penoso dormir. O estômago abarrotado, a digestão que há tempos não possuía a velocidade de outrora, as paredes que rodavam: todo o conjunto lhe causava enjôo e pesadelos.
O sono seguiu sobressaltado, um incômodo constante o deixava na iminência de acordar. Logo uma dor aguda se iniciou na têmpora esquerda, juntamente a um leve zumbido no ouvido. A bexiga a ponto de transbordar forçou-o a se levantar. Ainda bastante sonolento, olhos meio fechados, se dirigiu ao banheiro. Felizmente o caminho era tão automático quanto seus passos. Pisou firme e certeiro. Arremessou a testa na janela. O vidro provocou um estampido seco. Apoiou as mãos um tanto assustado. Olhou em volta, se sentindo perdido. Todos os passos calculados. Vinte e cinco anos de rotina. E errou a direção da porta.
Estava bem mais acostumado a dormir no sofá.