A Cama Cor de Saudade

Era uma manhã de chuva: relâmpagos e trovões assolavam o céu, uma tempestade cinzenta caia sobre a terra como flechas do mal.

Fabrícia olhava pela janela de vidro da sala de sua casa enquanto o céu desabava lá fora, ela se perguntava onde havia errado, pois pensava que havia errado de alguma forma; Fabrícia não estava bem.

Aquele era o primeiro dia do seu afastamento do trabalho, ela, uma jovem loira de 25 anos, economista, havia deixado a rotina de bancária após ser acometida de uma Depressão em sua forma mais grave: a forma a Psicótica.

Fabrícia via coisas: demônios, fantasmas e horríveis zumbis que a visitavam à noite, eles olhavam para ela enquanto andavam em sua casa sorrindo.

A tristeza assolava o peito de Fabrícia, a solidão a tirava para bailar e a inferioridade fazia com que ela, por vezes, vegetasse... Fabrícia ficou assim, doente, após seu casamento ter acabado: seu marido, um médico de 28 anos, havia a deixado para ir morar com a sua melhor amiga, ele a traía já bem antes mesmo do seu casamento.

Agora Fabrícia morava só, num casarão da rua 07, no bairro do Quartel, em Santo Afonso, Brasil.

A jovem economista tentava resistir a dor da alma que a abatia, ela fazia sessões de terapia e usava psicotrópicos para amenizar o vazio e a decepção acinzentada que a envolvia, mas a moça de olhos azuis, quando se olhava em frente ao espelho, concluía que as sessões com seu psicólogo não estavam a ajudando, pois ele dizia repetidamente a ela que a mesma deveria ser forte e lutar para enxergar nas entrelinhas da vida uma saída, aquilo não fazia sentido, dizia a Economista. Fabrícia se lembrava de tudo isso enquanto olhava para a janela de vidro da sala do andar de baixo do seu casarão, e a tempestade continuava assombrando lá fora...

Fabrícia decidiu que não iria tomar café naquela manhã, pois o que de fato desejava era tomar um remédio para aliviar de vez a sua alma... Repentinamente a moça se lembrou de uma arma de fogo que a muito estava na parte superior de seu guarda-roupa, arma comprada para sua proteção. Fabrícia subiu as escadas ligeiramente em direção ao seu quarto, no caminho deixou cair pelo chão os psicotrópicos que iria tomar, já próximo do quarto acelerou ainda mais os seus passos, pois tinha pressa sem medida.

Ao chegar ao seu quarto, dirigiu-se ao guarda-roupa gigantesco que cobria toda uma parede, a moça suspirou aliviada como alguém que houvesse encontrado a paz celestial.

Fabrícia, convencida de que nem psicólogos, nem médicos, nem tampouco Deus pudesse a ajudar, decidiu tomar o remédio eterno: atirou em sua própria cabeça... O barulho do tiro se confundiu com o de um trovão da tempestade que ainda caia lá fora...

A irmã de Fabrícia a encontrou morta dois dias depois do suicídio da jovem economista que nunca mais voltaria ao trabalho... Ela agonizou sobre a cama que um dia havia sido dela e de seu marido.

A cama, início e fim de uma história. A cama cor de vinho, cor de sangue, cor de saudade.

Lui Jota
Enviado por Lui Jota em 14/10/2011
Reeditado em 09/08/2014
Código do texto: T3275804
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