QUE É SER FELIZ?
Raimundo chegou à casa desanimado. Trabalhava muito, mas não via o resultado, pois o clima inclemente do sertão não ajudava.
Há meses não chovia. O rio já secara, não havia mais água no açude, as plantas pereciam e os animais morriam de fome e sede.
O pouco de agua trazida pelos caminhões-pipa e a cesta básica recebida eram o mínimo que precisavam para sobreviver.
Revoltava-se:
—Não sei por que não morremos logo em vez de morrer aos poucos com tanto sofrimento.
Dulce procurava confortá-lo:
—Paciência, meu velho. Um dia tudo vai melhorar. Deus não desampara ninguém.
—Não sei o que esse tal de Deus anda fazendo que não vê a nossa penúria.
Comeu um pouco e foi dormir emburrado.
Dulce ainda olhou o céu estrelado, tão bonito tão tranquilo em contraste com a terra árida, Fez uma prece. Que Deus mandasse uma boa chuva para amenizar o sofrimento ou se isso não estivesse em seus desígnios que desse força e paciência para superarem a desdita
Deitou-se ao lado do marido e adormeceu.
Acordou com um estrondo muito próximo do casebre. Um trovão? Será isso mesmo?
Estaria porventura sonhando?
Não. Era realmente a chuva. Uma chuva torrencial que logo acordou o marido e ambos levantaram,
O vento forte arrancou uma telha da cobertura da sala e a agua começou a jorrar como se fosse uma torneira,
Dulce trouxe o bacião de banho e colocou para aparar a agua.
Raimundo despiu a cueca, e entrou na bacia.
—Eta homem desavergonhado! Vê se as crianças acordam e levantam...
— Acordam não. Estão dormindo pesado. Vá buscar o sabão que eu quero tomar um banho.
Por falta de agua não se lavavam há muito tempo. O rio onde costumavam banhar-se secara, não havia agua na bica e o caminhão tanque só dava o necessário para fazer a comida.
A mulher trouxe um pedaço de sabão de cinza enrolado em um pano, abaixou-se junto à bacia e foi esfregando as costas, peito, braços, pernas, o corpo todo do marido carinhosamente, deixando- deliciosamente relaxado
—Agora é minha vez. Pode sair dai que quem vai tomar banho agora sou eu.
Dizendo isso despiu-se rapidamente entrou na bacia entregando o pano ensaboado para que o marido retribuísse o seu carinho.
Só bem mais tarde voltaram ao quarto. Ainda chovia. Havia uma goteira sobre a cama, mas eles nem ligaram. Não seriam umas gotas de agua que lhes roubaria o encantamento daquela noite,
O dia amanheceu escuro, prenunciando mais chuva e eles se encheram de esperança de que o rio voltasse a correr, o açude enchesse, as plantas brotassem e os animais pudessem viver.
E descobriram que apesar de tudo eles eram muito felizes.
~0~0
Este texto faz parte do desafio literário CHOVE LÁ FORA
Veja os outros textos
http://encantodasletras.50webs.com/chovelafora.htm
Obrigada pela visita e comentário.
Raimundo chegou à casa desanimado. Trabalhava muito, mas não via o resultado, pois o clima inclemente do sertão não ajudava.
Há meses não chovia. O rio já secara, não havia mais água no açude, as plantas pereciam e os animais morriam de fome e sede.
O pouco de agua trazida pelos caminhões-pipa e a cesta básica recebida eram o mínimo que precisavam para sobreviver.
Revoltava-se:
—Não sei por que não morremos logo em vez de morrer aos poucos com tanto sofrimento.
Dulce procurava confortá-lo:
—Paciência, meu velho. Um dia tudo vai melhorar. Deus não desampara ninguém.
—Não sei o que esse tal de Deus anda fazendo que não vê a nossa penúria.
Comeu um pouco e foi dormir emburrado.
Dulce ainda olhou o céu estrelado, tão bonito tão tranquilo em contraste com a terra árida, Fez uma prece. Que Deus mandasse uma boa chuva para amenizar o sofrimento ou se isso não estivesse em seus desígnios que desse força e paciência para superarem a desdita
Deitou-se ao lado do marido e adormeceu.
Acordou com um estrondo muito próximo do casebre. Um trovão? Será isso mesmo?
Estaria porventura sonhando?
Não. Era realmente a chuva. Uma chuva torrencial que logo acordou o marido e ambos levantaram,
O vento forte arrancou uma telha da cobertura da sala e a agua começou a jorrar como se fosse uma torneira,
Dulce trouxe o bacião de banho e colocou para aparar a agua.
Raimundo despiu a cueca, e entrou na bacia.
—Eta homem desavergonhado! Vê se as crianças acordam e levantam...
— Acordam não. Estão dormindo pesado. Vá buscar o sabão que eu quero tomar um banho.
Por falta de agua não se lavavam há muito tempo. O rio onde costumavam banhar-se secara, não havia agua na bica e o caminhão tanque só dava o necessário para fazer a comida.
A mulher trouxe um pedaço de sabão de cinza enrolado em um pano, abaixou-se junto à bacia e foi esfregando as costas, peito, braços, pernas, o corpo todo do marido carinhosamente, deixando- deliciosamente relaxado
—Agora é minha vez. Pode sair dai que quem vai tomar banho agora sou eu.
Dizendo isso despiu-se rapidamente entrou na bacia entregando o pano ensaboado para que o marido retribuísse o seu carinho.
Só bem mais tarde voltaram ao quarto. Ainda chovia. Havia uma goteira sobre a cama, mas eles nem ligaram. Não seriam umas gotas de agua que lhes roubaria o encantamento daquela noite,
O dia amanheceu escuro, prenunciando mais chuva e eles se encheram de esperança de que o rio voltasse a correr, o açude enchesse, as plantas brotassem e os animais pudessem viver.
E descobriram que apesar de tudo eles eram muito felizes.
~0~0
Este texto faz parte do desafio literário CHOVE LÁ FORA
Veja os outros textos
http://encantodasletras.50webs.com/chovelafora.htm
Obrigada pela visita e comentário.