Neusa de Lourdes

Para meu pai o

Ser que soube

falar-me de conflito,

paciência e bondade

I

Quando Nasci Não Tinha Nome

O nome revela muito sobre nós. O meu deveria ser Lourdes e foi Neusa. Neusa, no entanto, nunca figurou em livros de Santos como o de Lourdes.

Também nada posso falar sobre isso. Não sei como a santa veio a ser Lourdes ou Lourdes a ser Santa.

Quantos nomes tenho? Não sei ao certo, se cada um que tenho revela-me mais sobre mim mesma, quero ser sempre moderna como Mário de Andrade e dizer que sou trezentas. Já fui , em minhas ficções é claro, Lara Gabriela, Brisa Fontes, Lira Nascimento e Larência Corrente. Posso vir a ser “Rosa Púrpura do Cairo”, “Madalena Arrependida”. A Rosa do Cairo precisou entrar dentro de um filme para viver o que a vida não lhe deu. A Madalena parece-me que deixou os outros manipularem a sua vida, senão não teria arrependido.

Eu posso sempre andar por mil caminhos.

Os nomes eu os prefiro, entretanto, mais belos, como: Clarinda de Tiros, Josefina do Paranaíba ou ainda Rosa Encandecida.

II

Não Tive Herdeiros

Poderia, talvez, Ter sido feliz para sempre com um dos namorados que me acompanharam em tempos de crença em príncipes. Não fui: alguns eram príncipes demais, outros sapos demais. Não cruzei com varinha mágica para transformá-los em simplesmente homens amantes companheiros e sensíveis.

Cruzei com alguns que amei, mas os caminhos do tempo nos “desencruzilharam” . Amei! Posso dizer como Vinícius: “a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu”, e não posso repetir Brás Cubas da Obra de M. de Assis : “Não tive filhos, não deixei a ninguém o legado de nossa miséria”.

III

Cultuar a Vida

Cresci de criança, para adulta, muito intranqüila em relação às aparências.

Lia, lia … chorava, sorria, namorava, pouco estudava…

O que era pronto era muito difícil.

Tinha queda para a sensação de construir mas eu não sabia, ninguém sabia.

Descobri as Letras do Curso da Universidade de Maringá, a mais linda vida de minha vida, a leitura deixava de ser o proibido, a mentira, a simples imaginação era mesmo, a minha vida. Era como se o mundo enfim respondesse aos meus sonhos e se resignificasse em meu coração para que a minha cabeça não fosse estranha a mim.

Daí … o teatro, a ficção, a cultura de tudo enquanto fala se eu posso interpretar, pedras, garranchos, gentes … até o meu canto que não posso mais cantar.

No entanto sou Beija – Flor.

Escolhi o humano no universo para que dentro dele eu possa aprender a ser mãe e filha dos que estão ao meu redor . Será que vou aprendendo a ser mãe e filha para mim mesma também?

Esses últimos dias de minha vida parece que saio de um baú e entro em um jardim.. …

IV

Raízes do Bem

Mamãe, Papai, Tiros, manas e manos, preciosos amigos, eu lhes garanto: o mundo nunca pode ser maior que o instante que nós nos misturamos às ramificações da palavra raiz.

Que sentido têm os galhos de minha árvore se antes eu não pude ser sementinha na terra?

Quero com vocês a compreensão dos enganos, a sorte das alegrias, o conforto das tristezas e as recompensas das lutas.

Por isso não quero sair do aconchego do coração.

Neusa Azevedo
Enviado por Neusa Azevedo em 09/10/2011
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