A breve história de um dia qualquer de um homem qualquer

06h de segunda. O despertador toca. Despertador atirado contra a parede. Levanta da cama, com seu mau humor matinal já bastante normal. Pega o despertador, nota que as pilhas foram parar embaixo da cama. Abaixa-se, bocejando, pega as pilhas e bate a cabeça embaixo da cama. "Puta que pariu, mas que inferno!"- Esbraveja. Manhã chuvosa e gelada. Reluta em tomar banho, mas não há escapatória. Toma uma ducha, a temperatura da água fica mudando de "extremamente quente" para "estupidamente gelada". Sai do banho resmungando, caga enquanto lê as páginas de esporte. Descobre que seu time perdeu mais uma partida. Resmunga mais um pouco. Puxa a descarga, se limpa com o jornal, limpa as mãos com um resto de sabão. Frita três ovos e uma porção de bacon. Liga o rádio, passa por todas as estações que costuma acompanhar, a programação da segunda feira de manhã é tão lamentável quanto a programação dominical da "televisão aberta". Arranca o rádio da tomada com força excessiva. Resmunga enquanto mastiga. A chuva fica mais forte. O relógio marca 06h45min, está atrasado novamente. Toma meio bule de café em um único gole, abre a geladeira, pega uma garrafa de cerveja, também a toma em um único gole. Pega o guarda-chuva e sai correndo já bastante estressado. O Guarda-chuva acaba quebrando com o vento. Joga o mesmo no chão e o pisoteia, esbravejando meia dúzia de palavrões aleatórios. Corre quatro quadras embaixo de chuva, chega suspirando e respirando forte na parada de ônibus.

Entra no ônibus, paga sua passagem, fica em pé, remoendo em sua mente um ódio mortal contra as segundas, seu trabalho, sua vida e todas as demais pessoas do mundo.

Esmagado entre duas senhoras obesas de rostos sem expressão, sufocado, sofrendo no caminho que o levará ao trabalho, que o levará as suas 10 horas diárias de visita ao inferno.

Olha de relance a expressão das demais pessoas, vê que todas se encontram em um estado mútuo de desmotivação, estresse, insatisfação. Sorri sozinho por alguns segundos; Saber que os outros compartilhavam do mesmo sentimento de raiva extrema lhe alegrava. Então a ficha caí, nota que seu sorriso é apenas um lampejo de idiotice. "Todas esses robôs no ônibus, também estão ferrados. Todos estão acordando cedo em uma segunda chuvosa para rumar ao próprio inferno pessoal...haha...Mas que se foda, que raios estou pensando? Que dane-se se eles estão felizes ou não. Não me importo com eles, nem ao menos os conheço, e certamente prefiro não conhecê-los. Que se foda se estão felizes ou não, o que importa é que eu não estou. Puta merda! Puta merda!"- pensa consigo mesmo. 07h30min, chega ao seu destino, entra em um bar, resolve beber mais três ou nove garrafas antes de mergulhar em seu inferno pessoal e profissional. Olha de cinco em 5 minutos no relógio, conta com ansiedade os minutos para poder pegar outro ônibus repleto de serezinhos fedidos pós um dia de trabalho, voltar em casa, comer o resto do bacon que deixou na mesa de manhã, e passar alguns momentos no seu paraíso: quatro horas de sono profundo e interrupto em uma cama velha, com um travesseiro com uma mancha de vômito.

Existirá uma segunda em que ele não mais acordará, existem inúmeros motivos para tal, ainda lhe falta coragem para decidir, mas ele sabe que a hora está chegando.

Beckerf
Enviado por Beckerf em 09/10/2011
Código do texto: T3265739
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