O Menino e a Mãe do Menino
Não é prá qualquer mulher exercer com competência
a função de mãe, pois esta requer sensibilidade
e sintonia de coração e mente.
Há filhos privilegiados que prestam às suas genitoras
homenagens sinceras e merecidas, mas infelizmente há
filhos que se ressentem deste bem precioso: “o afeto
materno manifesto,” guardando consigo mágoas indeléveis
a ação do tempo.
Na época em que alguns gestos eram tidos como obscenos,
um garoto de uma pequena cidade do interior, foi acusado
de ter praticado um crime: “dar banana” para um respeitável
Senhor residente na mesma rua em que ele morava.
A conversa rendeu e chegou aos ouvidos de sua mãe; esta,
incapaz de sintonizar com seu menino, prometeu diante de todos
dar-lhe uma “sova” e se repetisse tamanha indecência, cortaria
o seu braço!
O pequeno repetia: “é mentira, eu não dei banana nenhuma ao
Senhor Neném.” O menino sentia-se flechado, seu coração sangrava
frente à injusta acusação e a insensibilidade do coração materno.
Para sorte dele, seu pai, ouvindo a confusão, aproximou-se e
vendo o filho na berlinda, saiu em sua defesa e assim se expressou:
“Conheço a natureza do meu filho e sei que ele é incapaz
de fazer algo indecoroso! Resgatando assim, a auto-estima do filho.
O tempo passou e o menino tímido, mas inteligente, resolveu dar
aulas para os outros garotos de sua cidade.
Um casal que passava por aquelas plagas, soube da história
da criança que ensinava a outras crianças. Curiosos, foram
conhecer o menino e sua família: propuseram então levá-lo para
uma cidade maior onde teria melhor chance de aproveitar sua
capacidade intelectiva.
Os pais pediram um tempo para pensar sobre a proposta,
decidindo então liberá-lo para que pudesse estudar. Assim,
o garoto foi levado para um centro maior, onde trabalhava e estudava.
Concluído o segundo grau, submeteu-se a um concurso para
preenchimento de uma vaga no Banco do Brasil.
Como o coração humano está sempre voltado para o objeto do
seu afeto, ao ser aprovado e empossado na função, seu primeiro
pensamento foi : resgatar o pai da difícil luta pela sobrevivência.
Comprou uma casa para ele, estipulando também uma ajuda
financeira fixa. Cercou-o de merecida atenção e carinho.
A mãe sobreviveu ao pai, ficando incapacitada na velhice.
A ela, apesar da distância física e talvez espiritual, nada deixou
faltar, enfrentou com coragem toda adversidade, sendo seu
esteio até o fim.
Hoje, o nosso herói é casado e pai de duas belas moças
ás quais dispensa atenção, educação de qualidade e um amor
velado, visto que, suas reservas interiores não lhe possibilitam
verbalizar sentimentos, deixa-os sempre nas entrelinhas,
embutido nas atitudes.
Já aposentado, dedica-se ao ensino de matemática, pois
concluiu Faculdade nesta área.
Sua esposa, sempre firme ao seu lado, tenta traduzir e entender
o que ele não pode confessar...
Atualmente, dedica-se a escrever versos e trovas bem
elaboradas, além de pitorescas histórias do seu povo e de
sua terra.
A história aqui narrada entretanto, ele nunca
escreveu, mas emociona-se às lágrimas ao contá-la.
Daí o provérbio popular que diz:
“O coração tem razões que a própria Razão desconhece.”