MEU CONTO DE NATAL
Esta lenda minha avó gostava de contar na época do Natal.
Para ilustrar certa capela no Vaticano, o Papa encomendou o trabalho de um grande artista, que se propôs pintar as figuras biblicas, com finalidade de evocar simbolismos.
Duas propostas se destacavam na sua arte: o Menino Jesus, para representar todo Amor e Bondade do mundo; e Judas, no outro extremo, para representar o Mal e o Ódio.
Por coincidência, logo no início do trabalho, uma sua criada deu à luz um lindo menino, cuja beleza e inocência, evocava a renovação da vida, a fé no futuro e na humanidade, o amor e a bondade, igual a toda criança quando vem ao mundo.
____ Porque, toda criança ao nascer, é um Menino Deus.
E este bebê foi o modelo para o Menino Jesus, a primeira figura na alegoria da capela.
Passaram-se os anos e o mestre continuou a pintar as figuras biblicas, representadas por pessoas comuns, do povo, retratadas pelo seu talento.
Ao fim do trabalho, entretanto, um problema lhe preocupava.
Ainda não havia encontrado um modelo para representar Judas; alguém capaz de, com a fisionomia e expressão, evocar o Mal e o Ódio que reside, também, na alma do homem.
E, assim deixou a ilustração incompleta, sem a figura de Judas.
Os anos passaram-se.
Um dia, na rua, o pintor viu um centurião que conduzia um prisioneiro para o cadafalso.
Um homem cujos traços resumiam tudo o que há de mal no mundo, todo ódio e desamor da raça humana.
Um assassino, muito ruim, que investia nas pessoas que vieram assistiar o seu castigo.
O pintor, tendo encontrado o modelo ideal, requereu à autoridade o cedesse por algumas horas, a fim de posar para os afrescos da Santa Igreja.
E assim foi feito.
A autoridade conduziu o marginal à capela.
Ao entrar na Igreja, entretanto, a resistência do assassino acalmou-se e ele olhou para todas as figuras fascinado.
Um encanto transformava-lhe as feições.
E, seus olhos fixaram-se no Menino Jesus.
Naqueles traços doces, na expressão de bondade, no Amor que Ele transmite e na esperança que desperta no coração dos homens.
Incerto desespero tomou conta do prisioneiro.
Que não resistiu.
Caiu de joelhos e chorou convulcivamente.
Chorou por tudo o que há de mal no mundo, por todo ódio, por todas as tristezas, por todas as desesperanças.
Acudiu-lhe o grande pintor:
_____ Que tens homem? Que se passa?
_____ Mestre... não me reconheces?
_____ Não!
E o cruel facínora, com uma muito esquecida doçura na voz, que foi buscar no seu passado, respondeu apontando para o Menino Jesus:
_____ Sou eu o modelo... o mesmo homem que um dia o senhor retratou como Menino Jesus!
E, minha avó, estreitando-me nos seus braços, beijando-me as faces, apertava-me ao seu corpo para dizer:
____ É da infância que devemos cuidar, da criança, se desejamos ter um homem bom no futuro.
Naquela capela, o Menino Deus e Judas, ilustrações dos extremos das possibilidades humanas, são representados pela mesma pessoa.
Acalentado, eu dormia nos seus braços.
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23/12/2006
Para minha avó Santa Stuchi