A escrita-Caixa de Gepeto 3

Ano I - nº 3 Setembro de 2011

Editorial Caixa de Gepeto

Escrever é o mesmo que pintar com palavras a paisagem da alma! Mas toda representação é uma Eforma de falsear aquilo de que se fala. As palavras, tomadas literalmente, são falsas. A verdade mora no silêncio. Temos que prestar atenção ao que não foi dito, ler entre as linhas. Isso exige atenção e toca as palavras sem cair em suas armadilhas, sem ser por elas enfeitiçadas. Lida a palavra há um

momento de silêncio. É preciso pensar, observar o que ela faz conosco, que associações ela provoca.

O silêncio é o espaço onde as palavras nascem e começam a se mover (como nos poemas sagrados). Por vezes, elas nascem porque a dizemos. Dependem de nossa vontade de pensar, de falar, de escrever: são pássaros engaiolados. Mas no silêncio ocorre uma metamorfose. As palavras se tornamselvagens, livres. Elas tomam a iniciativa. E só nos restar ver e ouvir. Elas pervertem o óbvio, falam de

mundos melhores, acho que são emissárias de outro mundo, um mundo que não havíamos visitado antes. Não, talvez tenhamos visitado. Talvez tenhamos nascido nele. Mas foi esquecido quando o brilho

dos reflexos nos fez esquecer nossas origens. Assim, cada palavra e poesia é um testemunho desse mundo perdido.

"Como podemos supor, um bom cozinheiro pode dar gosto até a uma

velha sola de sapato; da mesma maneira, um bom escritor pode tornar

interessante mesmo o assunto mais árido"

(Schopenhauer).

Ramires Karamázov

Pregador de Pensamentos vagabundos

Os escritos de minha vida-Ewelyn

Uma frase que escrevi quando tinha oito anos que me chama bastante atenção é "Claudia,você é a mais linda flor que há em todos os jardins". Cláudia é minha irmã, uma pessoa do qual sempre admirei e meu maior desejo na época era tornar-se alguém como ela: simpática, alegre,inteligente e elegante. Às vezes, volto ao tempo observando papeladas antigas onde eu era bem pequena e noto pelos escritos o quanto era objetivo. Meu vocabulário se consistia em frases curtas que possuíam significados mútuos, hoje me tornei alguém mais complicada. Se escrevesse novamente sobre a minha irmã lhe diria algo do tipo: "Claudia, gosto de você por seu jeito especial,por fazer parte de minha, porque você é linda, simpática, amorosa. Porque sei que me ama, por tantas coisas, tantas...", talvez pudesse vir a escrever um livro intitulado "Hanna Cláudia, a mais bela flor" e com certeza teria inúmeras páginas ou mesmo poderia não ser um livro apenas, quem sabe uma série com os melhores momentos que vivemos juntas, mas tudo isso poderia ser limitado a minha visão infantil: "Cláudia você é linda". Isso bastaria pois seria o resumo de todas as observações futuras.

Outro registro muito importante sobre escrita é um livro bíblico de minha avó que era uma pessoa muito religiosa e infelizmente faleceu muito nova (com 35 anos). Nesse livrinho que possui

algumas orações, minha avó escreveu algumas coisas sobre catequese e por esse motivo hoje depois de tantos anos posso saber como era a letra dela.

Eu amava desenhos quando não sabia escrever. Nas séries iniciais é muito comum encontrarcrianças que se expressem apenas com desenhos (e eu como estudante de Pedagogia não poderia

esquecer de citar isso), na verdade o desenho é uma escrita simbólica , letras também são desenhos e para as crianças elas só ganham significado com o tempo, em dado momento são apenas códigos sem fundamento escritos de forma mecânica.A medida que eu ia crescendo minha curiosidade ia aumentando e eu me via perguntando:

Pai, como é que se escreve o "E"?

Mãe, qual é a segunda letra do meu nome?

Aqueles códigos começavam a ter algum significado, não mais me passavam despercebidos, na verdade foram tão notados que me encantei com a possibilidade de utilizá-los, de

uma hora para outra o mundo todo me pertencia e eu poderia descrevê-lo e levá-lo além do que poderia imaginar.

Hoje escrevo em um site chamado Recanto das Letras e certa vez, recebi a seguinte mensagem: "Ewelyn, há algum tempo acompanho as belíssimas mensagens que você tão divinamente transmite. Mesmo em Pernambuco, tenho se beneficiado de sublimes lições. Tenho

por você um profundo respeito e indizível admiração. Respeito pela pessoa iluminada que se revela e admiração pela jovem, ainda tão menina, mestra, que ensina aos mais experientes a fé, o amor

universal e as verdades que perfumam a alma e suavizam o coração. Li diversos autores ao longo da vida e posso afirmar com a sinceridade de um coração que muito já pulsou e que plena experiência

acumulou pelos caminhos da vida: Você é uma das criações espirituais mais belas e perfeitas que Deus enviou à Terra, verdade que se reflete no conteúdo dos seus textos, pilares inquebrantáveis

que se apóiam na dignidade do seu coração. Ewelyn, quando meu neto, que tanto amo, fruto de uma família sedimentada nos princípios cristãos, dominar a leitura, vou incentivá-lo a ler os seus

escritos, o que contribuirá para a formação de um caráter íntegro e protegido pelo manto da dignidade. Receba beijos de admiração e um afetuoso abraço do leitor e admirador que tem o

privilégio de sentir na alma a essência de uma pessoa iluminada pelo Divino Mestre". (Bosco Farias)

No momento em que recebi esse e-mail acordei e reparei que humildes escritos poderiam fazer diferenças. No texto original ele faz observações pessoais e conta um pouco de sua história, confesso que desde aquele dia escrevo alguns textos não mais esperando que várias pessoas leiam, mas aquelas que necessitarem delas. Quando li os dizeres do Bosco senti uma motivação que nunca havia sentido. Traz-me uma alegria tão grande saber que uma pessoa que já teve toda uma história de vida me enxergar como uma mestra e falar que usará meus textos como base de ensinamento ao

neto, nenhuma palavra falada ou escrita demonstraria o quanto me sinto honrada.

Quando era mocinha ganhei um diário em 1999, eu tinha 14 anos na época, era um diário digamos "vagabundo" daqueles que eram comprados na loja de R$ 1,99. Eu o utilizei como agendadiário,selecionei os melhores amigos da época para escrever nele, minhas irmãs, a Vanessa, a Taina ,a Eliane,a Niedje, a Evódia, os Leandros,a Micheli e um grande número de pessoas. Com o tempo

isso virou mania, comprei agendas, guarda bilhetes, pastas de recadinhos e pensamentos e textos que eu mesma montei, micro diários e um diário grande que utilizo até hoje que ganhei da Paulinha,

minha irmã.

Sempre recebi muitas demonstrações de afeto escritas, lembro dos postais de minhas tias e primos que moravam longe e garanto que preferia receber cartas a ganhar presentes, os cartões de

minhas tias Célia e Edilene feitos em papel seda todo trabalhado com furador, eram lindos ,tenho todos guardados com muito carinho. Manter esses registros e verificar o que escrevia antes nos

diários e o que escrevo agora me ajudou de certa forma a notar em mim mesma alguns progressos e ao mesmo tempo observar os muitos erros que já tive no decorrer da vida, é tão difícil analisar a nós

mesmos sem que tenhamos uma prova do que já fizemos de bom e de ruim, nós nos esquecemos de tudo muito rápido. O diário é uma organização de nossos pensamentos cotidianos que poderiam ser

esquecidos, deixados de lado.

Certa vez escrevi esse pequeno trecho em meu diário que julgo importante comentar: "Um amigo inexistente e importante, imaginário e concreto, tão meu camarada quanto de meus pensamentos mais profundos, companheiro de meus sentimento, aquele que sempre sabe o que passa por minha consciência sem me julgar, onde por vezes me deixa borrar suas folhas por minhas lagrimas de momentos alegres e tristes sem reclamar de minhas reclamações, minhas dúvidas, meus

medos e meus amores. Meu grande amigo “mudo”, que me deixa expor tudo o que sinto em suas folhas onde a verdade nua e crua é dita de palavras que muitas vezes foram caladas seja lá por qual

motivo e só encontram aconchego pela escrita que amplia o conhecimento a mim de minha própria identidade por isso nossa "amizade" cresce cada vez mais porque com ele estou face a face com o espelho de minhas verdades."

Apesar de existirem blogs e diários abertos eu não abandono meu caderninho por nada, pois sem exposição tenho mais liberdade de dizer o que acho, acredito e penso.

Hoje em dia os meios de comunicação fazem com que as pessoas estejam mais "próximas", e escrever se torna cada vez mais necessário para integração social, os sites de relacionamento como:

orkut, MSN, twitter, facebook, entre outros, usam como base a escrita, a escrita manual foi substituída pela escrita digital, escrita essa que possibilita a comunicação entre inúmeras pessoas e

processa dados e informações com mais velocidade, vocês tem ideia que no começo do século passado uma carta levaria meses para chegar ao destinatário e hoje com um clique posso enviar um

e-mail para onde eu quiser, daqui a pouco você estará lendo esse texto que escrevi, isso não é o máximo!

Escrever para ser luz- Hanna

O ser humano necessita da expressão e, para mim, escrever é uma das

maneiras mais importantes de se expressar. Escrever é uma virtude, uma bênção de Deus. Agradeço muito à minha primeira professora e à minha irmã Cris que me incentivaram muito a aumentar meu amor pela escrita. Cada vez percebo mais e mais a importância de me dedicar a escrita. Lembro-me das dezenas de diários que tive ao longo de minha infância e adolescência. Ali eu escrevia meus anseios, meus medos e tantas dúvidas. Meus diários foram fiéis amigos que me ajudaram a amadurecer e a tentar lidar melhor comigo e com os outros;

ajudaram-me a refletir, pela escrita do meu cotidiano, sobre minhas atitudes.

Escrever sempre foi muito importante para mim. Realmente uma necessidade.Sempre escrevi muito para mim e para os outros. Adorava trocar cartas. Era sempre muito bom recebê-las e respondê-las.

Sempre tive o desejo de me tornar uma escritora. Admiro aqueles que

escrevem coisas belas, mensagens de otimismo e de coragem para dar força e ânimo para aqueles que vez ou outra necessitam de alguma palavra de apoio, afinal todos nós precisamos de uma forcinha de vez em quando. As palavraspodem ser amigas, mas também podem inimigas se mal usadas. Escrever nos dá a liberdade e a oportunidade de sermos ombro amigo na distância, mas também podemos afastar uma amizade para sempre dependendo do que a gente escreva

ou mesmo deixe de escrever. É importante usarmos bem e de maneira

consciente esse presente de Deus que é a escrita. Quem sabe possamos ser luz na vida do próximo. Temos esse instrumento maravilhoso a disposição. Ele nos permite narrar desde o nosso cotidiano até os nossos sonhos mais fantásticos. O papel e a caneta tornam-se amigos nossos muitas vezes. Tem dias que a gente

quer conversar e os amigos andam muito ocupados. Aí a gente desabafa os sentimentos no papel escrevendo músicas, poesias, etc. Tem dias que as mensagens escritas de alguém conseguem tocar nosso coração e nos fazem acreditar em dias melhores, porque como diz uma linda canção "vivemos esperando dias melhores". Nossos sonhos mais fantásticos vão para o papel e podem iluminar os dias de alguém. Aproveitemos portanto a inspiração que vem dos céus para ser luz na vida de alguém.

Que desde a mais tenra idade possamos passar para nossas crianças a

importância desse fascinante instrumento usando-o de maneira significativa para, quem sabe, modificar realidades trazendo a esperança de um mundo melhor, mais bonito e justo.

A escrita-João

Um tema aparentemente fácil, entretanto, extremamente complexo.

Nem ao menos tenho ideia do que escrever sobre escrever, por isso, creio que apenas irei divagar com o óbvio ululante que pulula na minha mente.

De uma forma simples, poderiam conceituar a Escrita como o que

consiste na utilização de sinais (símbolos) para exprimir as ideias

humanas, que teve seu início na Mesopotâmia antiga através dos

Hieróglifos. Entretanto este conceito não me parece ser algo relevante.

Não. Pretendo ir mais a fundo.

A escrita é expressão! Ao menos para mim.

No papel você pode escrever tudo o que quiser, desabafar, chorar, gritar, xingar. Muitas vezes o papel e o lápis ou caneta são seus

melhores amigos, seu desabafo, seu confessor. Escrever te faz exercitar a mente e o coração. Faz você interpretar aquilo que vê, que sente, para si mesmo e para aquele que vai ler.

Alguns trechos de escritos que muito me chamaram atenção e

que ponho aqui:“Caríssimo amado meu. Não paro de sofrer desde

que me deixaste. Destino desgraçado que nos separou. Sinto tanto tua

falta. Sinto-me doente por não te ter aqui próximo de mim, ouvir tua

voz, sentir teu cheiro, teu toque, teu abraço, teu carinho. Parece-me

que sou esfaqueado toda vez que lembro-me de ti, e sempre lembrome

de ti, pois tudo que eu vejo me lembra você.

Ao ir ao shopping, vejo a loja que costumávamos ir e passar

horas. Me lembro de você. Ao ver um filme de romance no cinema,

lembro-me de suas juras de amor. Dói. Dói mesmo a distância entre

nós. Sinto tua falta, e parece que nossas míseras conversas por

telefone ou online não são o suficiente para me satisfazer. Sinto sua

falta. Eternamente sua, Juliana!”

Isso para mim é maravilhoso. Esse é um dos objetivos da escrita,

e para mim, o mais importante. A comunicação. A expressão!A escrita

também pode demonstrar nosso lado obscuro, por exemplo: “Sou um

Filósofo, Poeta, Escritor, que ama a verdade e a sabedoria. Mas essa pergunta

é mais profunda que meros adjetivos... Quem sou? Realmente não sei... Sou

alguém que sabe assumir seu lado obscuro e por ele lutar, afinal, todos somos

apenas dualidade: vida, morte, felicidade, tristeza....”

Escrita é isso. Vive-se, não faz-se!

O encantador de palavras-Ramires

Uma das maiores descobertas do ser humano, se não a maior, foi e continua sendo a escrita. As palavras com suas tipologias caminham há muito tempo com a humanidade, traduzindo sentimentos e pensamentos. Elas são antropofanias! Como não ficar extasiado diante de formas tão belas e sensuais quando se está diante de

uma escrita arábica ou com uma profunda interioridade diante dos ideogramas orientais?

As palavras possuem a capacidade de transformar as pessoas! Quando um escritor escreve vê diante de si não um papel, mas um rosto oculto. Suas palavras são

direcionadas a rostos, por isso, tem sentimentos e respostas. É como uma carta: elas não servem para dar notícias, não para contar nada, não para repetir coisas por demais sabidas, mas para que mãos separadas se toquem, ao tocarem a mesma folha

de papel.

Quantas decepções, e quantas surpresas felizes, não nos revelam a caligrafia de uma pessoa? Fulano, em geral sério e ponderado, tem a assinatura de um pateta do pré-primário. "A letra de uma pessoa é como um rosto" (Marcelo Coelho). O mais bonito é que na letra cursiva se reúnem, em tese, o individual e o universal. Cada pessoa pode ter lá suas idiossincrasias: escreve o "n" como se fosse um "u", não se dá o trabalho de fazer direito o corte do "t", mistura o "g" com o "y" e o "q", mas não importa. Ao menos que o sujeito seja um garranchista irremediável, acabamos entendendo o que escreveu.

Decifrar letras moderadamente ilegíveis é um trabalho prazeroso. É

interessante perceber que, ao longo da vida, adotamos algumas variantes em nossa escrita. Mas há uma necessidade de ser entendido por quem lê, está em jogo o respeito pelo outro e a expressão de quem sou eu.

A letra cursiva reflete a nossa profundidade, a nossa interioridade e

intimidade. Ela faz com que as pessoas fiquem mais próximas e mais íntimas. Por seu turno, as letras de computador, por mais práticas que sejam, correspondem a uma realidade mais mecanizada e uniforme. São frias! "Um belo erro de ortografia, assim como uma letra da idade da pedra, revelam verdades que a assepsia da tela branca do Word se

esforça em ocultar" (Marcelo Coelho).

Confusões e confusões

O que eu posso dizer, ou melhor, o que eu devo dizer? Um tema desafiador e merecedor de toda a minha atenção. Passaram-se dias e eu escrevendo e apagando, não achava que seria tão complexo olhar com outros olhos algo que temos a experiência de vivenciar todos os dias.

Quando falamos de sentimentos a forma mais usada para expressá-los é a escrita. Ela abre para todos, e principalmente para quem tem o dom da escrita, um mundo mágico. Um mundo no qual o indivíduo tem o imensurável prazer de escrever pode tudo. Os sons das

palavras ecoam descompassados em minha cabeça, uma mistura de palavras, é uma confusão e ao mesmo tempo uma confissão de sentimentos e no instante seguido necessito com certa pressa escrever, desabafar comigo mesmo numa folha já gasta ou como tive que me adaptar a modernidade em uma tela de computador.

As palavras saem descompassadas, e ao mesmo tempo em que necessito escrever sobre a escrita sempre caio nesse conflito com sentimentos. Minha avó sempre dizia que quando colocamos sentimentos no meio das coisas tudo fica mais difícil, eu como sempre,

contradizendo o que ela dizia, digo que sempre que colocamos sentimentos no meio das coisas, elas se tornam mais verdadeiras. Todos os sentimentos amor, ódio, esperança, tristeza, ansiedade, desilusão, felicidade todos são merecedores de uma escrita, tudo pode

ser resumido dentro de um simples e belo texto.

Assim como em um casamento que eterniza o enlace entre os noivos que tanto se amam, é a escrita que permanecera eternizada a partir do momento em que conseguirmos expressá-las através das palavras. Isso tudo é a superfície da vida, que é a parte fácil de ser

enxergada, é essa parte externa que nós encontramos com muita facilidade.

Agora se começarmos a pensar que a realidade é muito mais o que meus olhos podem revelar, ai sim começamos a entrar no mistério das coisas, “ultrapassar o limite das aparências” daquilo que na filosofia chamamos de senso comum, que é o dado natural

daquilo que podemos saber sem muito esforço. A sabedoria nos ensina e a filosofia nos encaminha para isso, que todas as vezes que nós ultrapassamos a superfície da realidade nós somos presenteados com os pensamentos de profundidade, com aquele conhecimento

que vai além daquilo que nossos olhos podem enxergar e a escrita nos proporciona isso: ir além, ultrapassar barreiras.

Eu particularmente penso que “ultrapassar o limite das aparências” é

verdadeiramente conhecer, e assim conhecendo de fato alguma pessoa, podemos nos entreguar a uma escrita sem censuras. Penso que assim como eu, muitas pessoas têm essa necessidade de escrever o que pensam e sentem. Talvez, muitas vezes ninguém tenha o privilégio de ler essas mal digitadas linhas. Por sorte às vezes o que eu realmente quero dizer fica parecido com o que eu consigo expressar pela escrita. E que às vezes sinto que palavras não são necessárias, é apenas necessário sentir, sem regras, assim como Jesus que o tempo todo quebrava as regras, por uma razão muito simples: Jesus não sabia enxergar a margem, ele ia sempre além, por isso ele era capaz de convencer as pessoas de entrarem

numa dinâmica de crescimento, de superação, de limites, justamente pela sua capacidade a de olhar com profundidade, olhava no pescador e enxergava no pescador o chefe de sua igreja, olhava para aquela pecadora pega em público e enxergava a grande mulher que poderia se tornar, por que se Jesus parasse apenas nas aparências das pessoas que ele encontrou ao longo da sua vida, não teria acontecido muita coisa. A escrita é a forma mais

antiga que temos de se expressar, e essa ferramenta nos possibilitou abrir um universo novo, um mundo de faz de contas onde tudo é possível, podemos dar vida a tudo que imaginamos.

Permaneço por aqui, do outro lado do céu, no meu universo paralelo, escrevendo sobre os mais diversos sentimentos, pois a Escrita me permite isso.

Escrever sobre a escrita foi uma alegria e um desafio. Uma alegria, pois espero ter conseguido passar algo de construtivo para todos que venham a ler, que todo o conteúdo espalhe a integridade que lhe são merecidas. E um desafio, por que... Bem para ser honesta

creio que tudo que escrevo é um desafio. Existem aquelas pessoas, no entanto, que tornam esse desafio muito mais instigante; assim, sem mais delongas, gostaria de agradecer ao Ramires pelo tema do mês, tão desafiador e inspirador.

A arte de escrever

Escrever, escrever, escrever. Pensar, pensar, pensar. Chorar, chorar, chorar. Um escritor parece que nunca está satisfeito com a obra prima de sua escrita. Sempre é possível tirar um virgula, colocar um ponto de interrogação, um acento que está faltando, a bendita

crase...

Não é tão fácil escrever um texto em que você tenta meditar sobre sua vida e fazer a ponte com outras vidas. Esse é o objetivo da escrita, ser a ponte, caminho, estrada. Apontar caminhos que podemos seguir.

Muitos blogs nesse mundo virtual contêm inúmeras palavras, mas que não geram vida, não faz ponte do meu universo com o mundo do outro. Uma palavra é mais do que rima, contos, métricas, ela está livre e transita no mundo profano e sagrado.

A arte de escrever deve gerar uma vida nova – ressurreição – nos outros. E vida em todos os sentidos, muitas vezes essa vida nova que o autor nos propõe requer muito sofrimento, dúvidas, angústias. Gosto muito dos livros infantis, dos contos que começa

com: ERA UMA VEZ...

Era uma vez no livro, mas que continua ainda hoje. Eu posso ser o príncipe que a Bela Adormecida espera para acordá-la do sono profundo, ou então eu posso ser o sapo que espera o beijo daquela que irá me libertar do feitiço da bruxa.

Toda vez que a estória é recontada, toda vez que alguém imita o lobo mau que busca comer os três porquinhos, a imaginação vai junto. Os cristãos sabem muito bem da importância da arte de escrever. A Palavra de Deus é mais do que o livro, a Palavra de Deus

é toda criação: “Então Deus disse faça-se...”.

No Evangelho de João diz que: “No princípio era o Verbo (palavra)”. E com a elaboração teológica da Palavra chegamos ao que temos nas celebrações. Usa-se uma palavra para conseguir superar o cotidiano. “Memorial”, ou seja, não apenas contar estórias, mas ser a própria estória no nosso corpo. O passado se torna presente.

Quando evocamos um texto que escrevemos para uma pessoa que já não vive em nosso meio, um texto que elaboramos para algum amigo ou textos de amores, não lemos simplesmente as palavras, mas evocamos, trazemos as pessoas para a nossa realidade,

mesmo que esteja a 1000 Km de distância, conseguimos sentir tudo que passamos.

Por isso existem escritores, como os autores sagrados, que conseguem passar algo além de suas comunidades e dúvidas. Autores como do livro O PEQUENO PRÍNCIPE onde você se enxerga em vários personagens, ou então como o MENINO MALUQUINHO, onde

o leitor fica imaginando se ele é um menino maluquinho ou se existe algum na rua.

Em meus textos existem inúmeras presenças invisíveis no meio deles. Textos que escrevi para pessoas, mas sem dizer nomes – aqui lembro a grande arte de escrever na época da ditadura, tudo estava nas entrelinhas – viajo no meu mundo interior para que o leitor

perceba algo diferente. Para quem escreve, alegria em poder compartilhar isso com outra pessoa; para quem lê saber que o mundo é maior que a sua rua. De vez em quando vejo pessoas conversando sobre textos. Um banquete em nome do ato de escrever, assim como

os discípulos de Jesus. Eles estão em volta da mesa e da Palavra.

Uma grande maneira de escrever, que me contagia é quando o autor está sendo movimentado pela SAUDADE. É um desafio escrever quando você olha uma foto antiga, um brinquedo que te leva ao mundo infantil, amizades de tempos de escola e até mesmo uma carta

que acabou de ler. Aquele texto parece ser também meu, algo arrancado do meu universo. Textos escritos assim não têm a pretensão de comprovar nada, mas de poder saborear a vida com

temperos estranhos, do mesmo como fazem as culinárias. São textos que nos dão leveza da beleza e dos sonhos. Um amor que queima onde não sei se dou risada ou choro com o autor.

Rezo todo dia para que Deus livre meus textos do comércio capitalistas. Ler meu texto apenas porque é legal, ou por estar na moda ler sobre meus assuntos. Que meus textos errantes não caiam na rotina dos que nada entendem sobre poesia. Que meus textos possam ser apenas ponte para as pessoas. Que meus textos façam as pessoas olharem o mundo de outro modo, de cabeça para baixo ou vendado... Imaginar que sempre estamos construindo uma ponte. Ponte:ERA UMA VEZ.....continuamos as estórias em nossas escritas.