O Templo

Era uma rua larga e comprida, cheia de todo tipo de comércio, por onde transitavam turistas e filhos comuns daquela terra. Na esquina, ainda fresco, cheirando a obra recente, um templo enorme. Um meio de consumo em meio a tantos outros: uma casa onde se vendiam bênçãos. Seus comerciantes ornamentavam as entradas pessoalmente, sempre na tentativa de captar mais um entre os muitos que circulavam pela rua larga: mais um que contribuísse, mais um que doasse, mais um que tivesse de onde tirar para colocar ali naquele templo universal.

Na outra calçada, logo do outro lado, embaixo de uma marquise, acomodado entre um monte de inutilidades, um ser invisível para os muitos que transitavam pela rua larga. Sem bênçãos, sem perspectivas divinas, sem nenhuma ilusão ou pregação. Mãos esticadas esperando um acalanto qualquer, uma moeda que nunca chegava. Passavam os dias e o mendigo, debaixo de sol ou chuva, observava o templo em frente. Aquela casa ficava aberta o dia todo para cercar turistas e transeuntes dispostos a pagar pela fé. Depois da meia-noite, quando o comércio fechava, encerrava a temporada de caça. O templo cerrava suas portas para que o mendigo pudesse fuçar nos lixos. Isso não precisava ser visto, já não era mais interessante para o templo. Resgatar ou ajudar aquele homem não dava e nem daria dinheiro. Quem queria investir nisso?

E o templo crescia e se mantinha universal, mas somente para aqueles que pudessem investir nele: uma universalidade cerceada de interesses e hipocrisia, onde o abastado era sempre bem vindo e o menos favorecido sequer era notado. Assim passava o tempo do lado de dentro do templo, assim arrastavam-se os dias embaixo da marquise. Enquanto o mendigo ansiava por um espaço de terra onde pudesse plantar o seu, o templo vendia o céu a quem por ele pudesse pagar…

Barbara Nonato
Enviado por Barbara Nonato em 04/10/2011
Código do texto: T3258085
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