O Que Um Mendigo Me Ensinou
Certa tarde, caminhando pelo centro de Florianópolis, deparei-me com um senhor de vestes muito sujas, barba prolongada e que caminhava com passos lentos e reflexivos. À princípio, percebendo que se aproximava de mim, pensei em recusar-me a lhe oferecer qualquer auxílio. Pensamento egoísta, vindo do orgulho inconsciente que sentia em ser um homem bem-sucedido, em contraste com aquele homem que era a minha imagem oposta.
Apesar de estar realmente caminhando em minha direção, o homem ignorava a minha ainda distante presença, levava uma mochila surrada nas costas e olhava meditativamente para o chão. Nesse momento, desejei que me abordasse, que me pedisse ajuda, pois admito, eu me sentiria bem em lhe dar algumas poucas moedas que carregava na carteira. Mas ele parecia disposto a permanecer em seu mundo, com suas idéias, suas misérias, seus ideais. Recusava a minha intromição, os meus sentimentos egóicos, as minhas ilusões tão humanas e as minhas crenças errôneas.
Fora com embaraço que percebi a insólita situação. Eu necessitava mais do mendigo, da sua atenção, do reconhecimento do quão afortunado sou, do que necessitava ele das minhas pequenas e apáticas moedas. Sem aquele homem e as suas vestes sórdidas, a minha riqueza pouco valor teria, assim como passamos a ter maior apreço pelo calor quando conhecemos o frio.
Ao passar por mim, levantou a cabeça, e talvez, percebendo o quão miserável e medicante eu era, sorriu-me afavelmente. Aturdido, estaquei no lugar onde estava e o homem passou caminhando com seus passos relaxados e decididos. Para onde ia? Que tinha em mente? Quem pensava ser? Mas não havia repostas para estes questionamentos. Sim, aí estava, não havia respostas! E por mais que esta situação me aflingisse, creio que me responderia o mendigo se eu lhe perguntasse: E por que haveria de ter?