Oisicrato
28/03/10
Oisicrato
Era homem forte e trabalhador. Sempre estava pronto para qualquer tipo de labor, desde o mais simples ao mais pesado.
Cansaço não tinha de “jeito maneira”.
Até que um dia, passando na calçada, pisou a um objeto pontiagudo. A dor foi até ao coração, parecia que ia morrer naquele momento; logo ele que tinha muito trabalho pela frente e sonhos a realizar.
Olhou os pés e encontrou um prego enferrujado. Que horror!!! Mas ele era homem para aguentar todo tipo de dor. Tirou ele mesmo o objeto sem dó, nem piedade e foi para casa mancando.
A esposa tomou um baita susto. Ele contou entre gargalhadas a sua própria desventura cirúrgica, mas Valquíria não ficou confiante com o novo talento de seu esposo, e a cada dia, exigia-lhe que fosse ao médico. Mas era tão forte, que não sentia nada, dizia ele.
Aí é que reside o perigo.
Considerava-se forte demais e nenhuma agulhada, com certeza, far-lhe-ia bem.
Passaram manhãs, tardes e noites, apareceram inchaços na perna onde foi picado, mas nem isso o convenceu a ir ao médico. Teimava que o inchaço não tinha importância.
Para realmente confessar, ele não era fã de médico. Ele próprio realizava a sua cura. Segundo ele, tomando uma coisa ou outra. Rezava até que viesse o milagre do jeito que pedira a Deus. Ele pensava ser saudável, considerava não precisar de médicos. Em sua concepção, só precisaria de algum profissional de saúde quando estivesse doente, o quê não era o caso.
Ledo engano. Sempre é necessário realizar check-up para se descobrir o início de alguma doença e uma possível cura ou controle, mas não fazia nada disso, tamanho era o medo de agulha e outros instrumentos médicos e/ou cirúrgicos. Por tudo isso, nem suspeitava que tivesse diabetes com risco até de morte.
Já existe estudo sobre célula-tronco, extraída do cordão umbilical ou do dente de leite para uma possível cura de doenças aparentemente incuráveis. Mas é preciso estar atento para quando a cura do diabete for real, os demais órgãos estejam saudáveis.
Mas Oisicrato ia curtindo a vida, sempre na contramão dos médicos.
Até que um dia, não teve jeito, apareceu com um febrão, sendo levado à força ao hospital, pois nem força tinha mais. Encontrava-se abatido e sem coragem até para levantar um objeto, mesmo pequeno. Sintomas da diabetes descompensada.
A família desconhecia a doença e suas consequências.
O caso era sério demais.
Ele sempre se elogiava dizendo que era Macgyver (personagem da série de mesmo nome - “o faz tudo”), Super Homem, ou qualquer super-herói que se imaginasse. “Sempre estava pronto para outra”, mas agora parecia o super homem perto da criptonita ou Kryptonita verde, ou seja, enfraquecido.
Levaram-no ao hospital, onde foram realizados todos os exames, os quais constataram que estava com diabetes altíssima e por um triz, sua perna não seria amputada.
Foi receitada dieta rigorosa: nada de açúcar, pouca massa, frutas e muita água. Controlando a glicose e fazendo exame diariamente, medindo a glicose para controlar a hiperglicemia e hipoglicemia, daria tudo certo.
Os diabéticos são todos iguais, adoram comer o último melado da lata, mas depois sofrem risco de vida e sem chance de uma possível cura.
Depois da gula, os diabéticos resolvem tomar insulina para queimar todo o açúcar, mas a queima total pode virar hipoglicemia, deixando os parentes loucos procurando glicose ou açúcar para normalizar a taxa de glicose no sangue.
Oisicrato correu sério risco de morte. Se tivesse adiado um dia sequer, talvez não estivesse vivo para contar sua história.
Oisicrato leu tudo sobre a doença e descobriu que se divide em tipo I e II, sendo que a última é silenciosa, e, se não tiver o devido cuidado, pode ser fatal ou gerar séria consequência.
O do tipo I é a que precisa de insulina artificial para que a pessoa possa sobreviver. Caso contrário, morte ou comprometimentos dos membros ou órgãos vitais.
O tipo II é hereditário, isto é, está nos genes da família. Geralmente aparece na terceira idade, aliado à obesidade e sedentarismo. Nesse tipo, há produção de pouca insulina ou dificuldade na sua absorção pelo organismo, aumentando a taxa de glicose no sangue.
Para ajudar na produção de insulina, é preciso de remédio via oral, dieta e exercício para controlar a taxa de glicose no sangue. Se não houver controle pode acabar a insulina natural e consequentemente precisar de insulina artificial injetável: agulhada mesmo.
Estudo comprovado cientificamente explica que o uso de corticóide pode desencadear a diabetes mais cedo ou mais tarde. Cuidado com as crianças quando do uso dessa substância.
Depois de entendermos um pouco sobre diabetes, esclareço que Oisicrato não tem força pra nada, mas pelo menos para um cafezinho ele tem. Pelo menos para isso, ele tem.
Adriana Quezado
XXXIV Concurso Internacional Literário de Conto
CLASSIFICAÇÃO 10° LUGAR
Aniversário 23/10