A véspera do hoje.

Uma cidade calma e pequena foi ali que viveu a pequena e solitária menina, solitária não por estar sozinha, mas por estar cercada de pessoas que a ignorava e menosprezava, lembro-me bem como a conheci... Ela estava abaixo de uma sombra brincando com seus magros dedinhos, sentei-me atrás de um pilar e fiquei a observando, ela tinha uma expressão triste, seus olhos eram negros igualmente a seus cabelos, ela não trazia no olhar o brilho que as crianças carregavam, trazia no olhar uma tristeza profunda, sua pequena boca fazia uma curva que tornava sua expressão ainda mais triste, eu não entendia o motivo de uma garota tão pequena estar mergulhada em tamanha melancolia, ela deveria ter entre nove ou dez anos; Decidi me aproximar mais um pouco, sentei-me ao seu lado e fiquei em silencio por alguns segundos, ela olhou para mim e eu vi teu rostinho molhado, ela andara chorando e a melancolia que a envolvia findou por envolver-me também. Perguntei se ela estava legal e ela fez um sinal de positivo com a cabeça, ora mais que pergunta mais ingênua essa minha, era obvio que a garota não estava legal, mais ainda assim insisti em fazer mais perguntas, perguntei se tinha certeza e ela fez outro sinal, só que dessa vez não era um sinal de positivo e sim um de tanto faz, eu queria que ela falasse mas eu entendia que era difícil para era falar a respeito, eu já havia notado a algum tempo o quanto ela andava solitária pelos cantos escondidos da escola, sentia vontade de ajuda-la, tirei uma bala do bolso da minha calça e a ofereci, ela a pegou e ficou segurando na mãozinha pequena, bom, isso já era um inicio, perguntei onde estavam suas amigas e ela respondeu “ eu não tenho amigas, as garotas daqui fazem piadas comigo, elas dizem que sou diferente, feia e magra, elas pisam em mim, e os garotos ficam do lado delas e me ignoram, ninguém que brincar comigo, então eu acho que não tenho ninguém aqui...” Me partiu o coração ver uma criança passar por isso, como outras crianças poderiam ser tão insensíveis assim? Eu segurei a mão da pequena garota e disse que agora ela tinha a mim, e que sempre poderia me procurar que eu faria companhia a ela, ela mostrou-me um largo sorriso e perguntou se eu seria a nova amiga dela, e eu disse que sim durante todos os dias da eternidade, o sinal tocou e então subimos as escadas, e fomos cada uma em direção a sua sala; Naquele instante me senti muito bem, ao ver surgir o brilho nos olhos da garotinha novamente senti uma felicidade indescritível. Nove anos se passaram, eu e a garotinha já não éramos mais crianças éramos mulheres, é incrível como ela mudou, tanto interiormente quanto exteriormente, ela agora era uma mulher decidida, já não se importava com o que outras pessoas pensavam ou falavam, ela tinha amigos que não trocaria por nada na vida, aprender a controlar a dor, dentro de si já não existia mais uma garotinha tímida e indefesa, e sim uma mulher confiante, brava e sonhadora; A garota aprendera a se defender, a colocar contra a parede aquele que tentasse passar por cima dela, o que havia acontecido naquele passado amargo não mais lhe machucava, mas deixou algumas feridas que eram impossíveis cicatrizarem, ela descobriu que o ser humano era cruel, que as pessoas não se importavam em ferir os sentimentos dos outros, era como se para se sentirem vivos, para se sentirem melhores, precisassem humilhar os outros, para poderem sentir-se bem precisassem ver outros mal, com o coração feito em milhões de cacos... A pequena garota aprendeu a sobreviver sem algumas pessoas, aprendeu a ser feliz com seus poucos amigos, seus livros, textos e suas musicas, bom, a velha garota que um dia vi chorando por não ter amigos, hoje tem milhões de sorrisos largos para oferecer aqueles que são seus amigos, e para aqueles que não são, mas que precisam de um sorriso para sentirem-se melhor, ela gosta de ajudar outras pessoas; A pequena garota que hoje não é mais garota não tem um simples brilho no olhar, e sim uma chama ardente de esperança.

Débora Woolf
Enviado por Débora Woolf em 27/09/2011
Código do texto: T3243278