MINHA VELHA TOALHA DE MESA

Mais um dia de festejos... Pra mim, outro dia comum. Desses dias, em que sempre se espera que alguma coisa boa realmente aconteça. Mas, sinceramente, eu sentia a presença de algo especial no ar. Talvez por que o ano estivesse acabando. Não sei? Poderia ser. Pois no reveillon as esperanças de sentimentos novos, relacionamentos calorosos, melhorias financeiras e econômicas, (se não for pedir demais), são sempre desejadas. E neste ano, novamente, continuei desejando os calorosos...

A noite já havia caído e outra vez sem luar. Olhei as chaves do carro sobre a tv. Decidi continuar em casa e esperar por alguma vibração mais positiva... Pus a melhor roupa preta que tinha. Sentia-me outra vez renovado. Pensei: Quem sabe? Ela pode dar uma ligadinha... E ainda sob o efeito de toda esta euforia fui à geladeira e peguei uma cidra e dois copos. Seria uma noite maravilhosa...

Quase meia noite. Não tinha mais nada a fazer. Então dei o grand finale. Enfeitei a mesa com uma velha toalha, aquelas de todos os momentos especiais. Duas velas e um vaso português, herança da família... Perfume com notas amadeiradas. Era o preferido dela. E pronto! Tudo OK! Agora era só uma questão de tempo... Talvez eu estivesse exagerando com tudo aquilo. Mas não! Era apenas uma precaução. Então, como em todas as noites os ponteiros voaram... Nove, dez, onze e meia... E nada.

A cidra não estourou. Enchi, demais, os copos que acabaram transbordando de tanta espuma e molharam a toalha. Esperançoso, fui até à janela e não vi as luzes das lâmpadas e nem dos fogos de artifício. Não ouvia nem as buzinas de carros. Um completo nada! No momento em que os ponteiros estavam juntos e apontados para cima sentei na poltrona de couro em frente à porta fechada. Pensei: Feliz ano novo, cara!

Minhas pálpebras batiam num movimento fremente e descontrolado, como se não quisessem fechar, pois esperavam aquela porta, de súbito, se abrir. O cheiro de cidra e de vinho tomava o ambiente. Os meus olhos não resistiram por muito tempo e como sempre o sol me despertou. Olhei ao meu redor. As garrafas secas pelo chão. O disco continuava girando... Ela não veio... E o outro copo ainda continuava cheio. Ansioso pelo primeiro brinde e pela marca de batom, que seria extremamente necessária para suprir as inumeráveis manchas de champanhe e vinho da minha velha toalha de mesa.