Menino, Pobre Menino

O menino bebeu demais.

Bebeu demais na ilusão de que a noite ia ser decisiva, de que ia conseguir dizer e fazer tudo que tinha planejado desde domingo. Tomou coragem. Tomou outra dose. Depois mais outra.

A noite prometia e o menino estava eufórico.

Ironicamente, como já é do feitio da vida, a noite foi de fato a mais decisiva de sua pequena e não tão gloriosa vida - a única que o menino tem, que vai ele fazer?

Foi enganado pelo próprio cérebro.

Viu ali sinais que não existiam, na sede de algo que fosse acontecer. Sinais que provavelmente seu cérebro forjara de uma maneira escrota e mesquinha. Egocentrismo deveria ser o nome do meio do menino.

Pois é, menino. Que papelão.

Não contente, o menino bebeu mais durante a noite. A desilusão já ia se tornando parceira inseparável, não só nessa noite, na vida. Ia ver a cena fatídica como se a dor proporcionasse a ele algum pequeno prazer interno.

Agora anda de cabeça baixa porque falou demais, aos prantos.

Aprenda, menino, a ficar mais quieto. O que foi dito muda não só a sua como a vida de muitas outras pessoas que você ama incondicionalmente.

O menino falou demais.

Não é a toa que é um menino, e não um homem.

João Aranha
Enviado por João Aranha em 22/09/2011
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