VIDEOGAME FAZ MAL A SAÚDE
Estamos em um país do leste europeu.
No horizonte há uma cadeia de montanhas. Baixando o olhar vemos uma cidade acinzentada aonde predomina um conjunto com centenas de apartamentos. A arquitetura do condomínio privilegia o formato caixote. A cor dos apartamentos, sim, também é cinza.
Em uma daquelas unidades habitacionais, moram pai, mãe e dois filhos. Filhos adolescentes. Filhos adolescentes que gostam de novidades ocidentais, ainda mais agora que o totalitarismo encerrou oficialmente o seu ciclo naquele ex-satélite soviético.
Era uma família comum. Os pais trabalhavam, os filhos estudavam e todos jogavam xadrez. Mas o filho mais novo era viciado ... em videogames.
Ele estava muito bravo com os pais porque o videogame que ele ganhara não era exatamente um Playstation. Professores que eram, seus pais não tinham tantos privilégios naquela democracia nascente.
Compraram então um tal de Polystation, um videogame parecido apenas externamente com Playstation 1, e muito mais barato.
A discussão era constante. O filho revoltado, o videogame abandonado no pequeno quarto.
Naquela noite, sem nada para fazer, o caçula acabou abrindo a caixa do obsoleto videogame.
No outro quarto, seus pais conversavam e acabaram por decidir que iam comprar o tal de Playstation 1. Na universidade em que trabalhavam tinha um muambeiro muito competente. Falariam com ele na primeira oportunidade.
No outro dia, no café da manhã, as arestas foram aparadas e tudo parecia um feliz comercial de margarina.
Todos comiam quando um míssil atravessou as paredes acinzentadas daquele apartamento. A explosão foi ouvida por toda a cidade.
Uma guerra civil começava e o lado rebelde escolhera acabar com o maior condomínio da região. Era o chamado primeiro alvo, o cartão de visitas dos rebelados que viviam nas montanhas.
A família parcialmente carbonizada foi exibida ao mundo pelas CNNs da vida.
Em meio aos escombros o Polystation observava tudo. Do alto dos seus 8 bits continuou sobrevivendo ...