OVO DE AEROPLANO
Hoje em dia, não é tão interessante as invenções, como era a uns trinta anos ou mais. Lá pras bandas do centro de Minas, o povo é contador de causos e fazedor de modas de violas, até hoje. Aliás, adoram um arrastapé. Forró por essas bandas é mato, ditado também dessas pairagens. Mas o que preciso relatar aqui é muito interessante. História vivida e contada nas terras do Ipiranga, um dos berços da indústria textil em Minas. Terrinha das boas, povo hospitaleiro, naquela época e atualmente, pode com certeza passar por lá pra confirmar. Tem comida boa, paçoca, frango caipira e muito dos temperos, ainda socado no pilão, tem que ver. Mas rompendo com o causo , acredito que uma das monstruosas invenções daquela época, foram os automorizados, pois aquele povo desbravava fronteiras no lombo de um animal ou montavam moradia dentro de uma carroça pra visitar a capital. Meu pai era amante de uma lambreta, montava na cabrita e descobria tudo que era prima, pode acreditar. Era raparigueiro, assim o descrevia minha mãe nas prosas de adulto que eu espreitava . O danado era metido a galã, sempre engomado, cheiroso e dinheiro na algibeira. O pior, quem mantinha seus bolsos cheios, era a boa e honesta minha mãe. E justamente nos momentos mais descontraídos de minha infância, à tardinha, depois do terço das seis horas, eu encarapitava na fornalha pra esperar a "janta". E ela contava uns casos compridos mas deliciosamente recordados. Enrolava o avental na mão e enquanto mexia nas panelas passeava os olhos em mim , preocupada com o crepitar do fogo nos tições, com medo de faiscar na minha roupa. Eu era o pemba de saia e maria chiquinha ,nem queiram confirmar. Só ficava quieta pra escutar aquelas maravilhosas prosas, que hoje quero repassar. Dizia ela, que numa tarde, do nada, entre as árvores do serrado, os munícipes ouviram pela primeira vez o ronco de um motor do aero plano. Foi um Deus nos acuda, era gente correndo pra tudo que era lado. Muitos mudaram de endereço pra debaixo do catre ou pra dentro do paiol. No outro dia, o assunto nas vendas, esquinas e muitos na igreja em busca do perdão, era que o demônio tinha vindo na terra, soltando fumaça pelas ventas pra buscar o pecador. Outros afirmavam, ser o fim do mundo ou invasão de moradores do outros planetas, sabe-se lá. Alguns desmentiam outros queriam era mudar dali, o mais rápido possível, antes da volta do bicho. Pra salvar a pátria, graças a Deus, já tinham os doutores mais esclarecidos, conceituando o fato e esclarecendo o pavor do povo. Era justamente para condução que inventaram o tal do Aero- plano, um avião. Teve pessoas que exaltaram o invento da geringonça, falando orgulhosos do mineiro Santos Dumont. Uns acreditavam, outros duvidavam, mas pelo menos amenizou o terror. E no meio disso tudo ,como dias atuais,coloco-me nessa “tipagem “, têm pessoas que vivem sonhando acordadas. Uma Dona Maria das Tantas, casada de pouco, não podia revelar da gostosura que era, de suas noites e horas furtadas no almoço do Bem. De tantas descobertas , manhã, tarde, noite e se perdessem o sono belas madrugadas, ninguém tem nada com isso, se viu sabe como é, em estado de graça. A vergonha era muito, contava pros outros e envermelhava todinha. Daí, o desespero da aparência do primogênito que chegaria em uns meses. Dona Fulana, dizia nos dias de benzer de aguação, sobre várias criancinhas que nasciam babando e de boca aberta, até provar o que a mãe desejou e não comeu. Mas afinal, do que mesmo ela queria se fartar? Pasmem! Com muita dificuldade revelou o desejo: -Tudo pelo Juninho ou Juninha, não sei se vai dá “congestã”, mas pelo amor de Deus, fico só salivando de desejo pra degustar uma farofa ou, um bem cozido, com uma pimentinha do reino. Será que dava pra um de vocês arrumar pra mim pelo menos um ovo de aeroplano? Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.