SEXTA PARTE DA BUSCA PELA SUA CIDADANIA

Enquanto o dinheiro não aparecia com o seu Florisvaldo, o farmacêutico continuava a lhe medicar. O pai pega o pouco de dinheiro que tinha,que era quase nada, vai ao baralho e faz uma aposta; na tentativa de ganhar uma quantia desejada, que não acontece, ficando ele devendo quase a quantia que ele precisava para levá-la ao hospital, mais próximo que dava mais ou menos uns trinta KM, de sobe e desce.

Ele quase enlouqueceu, com o acontecido. Mas se acalma quando chega a casa, e vê que Catarina estava sentada tomando uma canja de galinha. A sua preocupação fora diminuindo.

Catarina vê a alegria de vida humana que se arrasta pela face de seu pai; pois ele não era um mau pai, só que não conseguia se livrar do maldito vicio. Foi quando ele resmunga com ele mesmo:

_ Preciso me livrar deste maldito vicio. Murmurando isso ele segue em passos lentos até a que chega a cama onde Catarina tomava a canja a mãe lhe servia na boca. Catarina esta presa ao soro, ele senta ao seu lado e lhe da às ultimas colheradas de sopa.

A mãe se coloca em pé, ao lado, mas de certa forma, ausente, lembrando de um acontecido recente, que se passou ali no vilarejo, em alguns meses.

Um afilhado deles, filho de uma família ainda mais pobre que eles, uma boa família; o menino lentamente foi consumido até a morte por uma doença que na qual ninguém ficou sabendo.

Agora na escuridão da noite começa a acenderem os lampiões e lamparinas, e vem o também o luar. O pai sai ainda antes do jantar, ele precisava arranjar a grana para pagar os ganhadores e pagar a farmácia, uma vez que segundo o farmacêutico, era só manter o medicamento e fazer repouso. A infecção já tinha sido controlada.

Ela mais de sema na cama, em tratamento e repouso. No oitavo dia ela se levantou com a ajuda da mãe e da Tereza, sua melhor amiga, que lhe trouxe de presente uma chinela havaiana; e lhe deu a noticia de que já estava pronta a montagem da antena que o seu pai havia comprado para a televisão. Ela estava ansiosa para lhe mostrar. A Tereza já conhecia a televisão. Ela conhecia, pelas passeada que dava na casa da família da sua mãe em Cascavel.

A construção da antena da televisão demorou cerca de duas semanas. A antena era de mais ou menos uns quarenta metros. Até que estalasse a televisão foi para uns dezoito dias de serviços.

Catarina estava na janela no primeiro dia de televisão no Vilarejo. A expectativa era grande, o povo faziam um grande ajuntamento enfrente o comercio do pai da Tereza. Ela estava ansiosa para conhecer como era a televisão.

Um aparelho onde aparecia a fala e as imagens! Isto era mesmo o fim do mundo! Era assim que muitas pessoas diziam por uma boca só. Ela pensa:

_ Eu acredito que este povo só vai embora depois que o seu Caboclo desligar o motor.

Somente ele é que tinha motor estacionário, sendo ele o único a ter energia elétrica. Sendo assim eram os únicos que tinha geladeira e outros aparelhos eletrônicos.

Catarina ainda na janela do seu quarto, sua mãe lhe bronqueia; para que ela fosse dormir, ou ela podia pegar outra pneumonia. A sena não modifica subitamente, mas lentamente, o luar, frio e imóvel brilhava sobre os membros. E uns por um foram deslizando, se afastando do local mais atraente do Vilarejo. Ela imagina que aqueles povos foram dormir depois de uma noite feliz, onde se regozijaram em ver um aparelho que dava para ouvir e ver o personagem ao mesmo tempo.

A lua ganhava espaço, que acentuava até ao fundo do jardim. Catarina se recolhe para a cama, pensante que no dia seguinte iria conhecer o dito aparelho. Se o radio já era bom; que só ouvia as vozes; imagine agora um aparelho que da para ouvir e ver as imagens com movimentos.

Pela manha a Tereza veio lhe visitar, e Catarina logo - lhe, indago cautelosamente, pois seus pais não queriam ela fosse conhecer aquele aparelho; eles afirmavam que devia ser a maior pouca vergonha.

_ Tereza, me fale! Como é a televisão? Fale para mim estou curioso ver alguma coisa.

_ Olha, Catarina agente consegue saber tudo o que acontece, até coisas fora do nosso país, pelo jornal, e fora distração dos programas que são transmitidos atreves deste poderoso meio de comunicação.

_ olha, aqui amiga este aparelho esta sendo sós para as pessoas mais favorecida, mas daqui a pouco tempo, todos vão poder ter uma televisão. É que agente mora no mato, mas nas Cidades grandes já faz muito tempo que as pessoas têm a sua própria televisão.

_ Nossa, Tereza! Como que eu estou atrasada. Mas já se aproxima do final do ano e eu vou embora daqui.

_ Catarina, eu vou te dizer ainda mais, o homem nunca estará satisfeito, ele sempre buscara novas coisas para ser feliz.

A Tereza era mais instruída do que a Catarina, ela continuava os seus estudos e estava sempre viajando nas férias para Cascavel na casa dos parentes.

Catarina às vezes queria desanimar, pois não tinha nem um documento que confirmasse que ela existia. Digo existia, porque de viver estava muito longe; o que era mesmo; era viver, o que é muito diferente de existir.

Quando estava já bem recuperada foi conhecer o aparelho de televisão; aos seus quatorze anos de idade. A televisão não era muito velha no Brasil. Tina uns doze anos somente. A primeira emissora: _ a TV Tupi.

Catarina ficou de boca aberta quando viu aquele avanço tecnológico. Como ela era amiga da família, proprietários do aparelho revolucionário do Vilarejo. A TV proto e branco. A única do Vilarejo; pois para ter um aparelho deste funcionando era resolução de um grande investimento.

A sala era pequena, mas para Catarina e suas irmãs sobrava um lugarzinho, para assistir a Telenovela; o Pai Herói; em mil novecentos e setenta e nove, Catarina ficava fascinada pela imagem de abertura onde um pai anda de mãos dadas com filho, e muito mais ainda com a musica de abertura do Fabio Junior.

Era somente uma família que se dava ao luxo de ter energia elétrica, por maio de um motor estacionário. Catarina tinha avantajem de entrar na sala, enquanto a frente da sala, pelo lado de fora da rua, onde se entendia uma multidão de gente, assistindo; isso era quase que todas as noites. Catarina contava com uma desvantagem. Os seus pais não a liberava, para assistir portanto ela só assistia alguma coisa nas escapadas, nas escondidas. Para a maioria do povo aquele aparelho era mesmo do demônio. Catarina terminou de assistir a telenovela na Cidade de Cascavel; agora lá o irmão tinha uma TV, em sua casa. E os fantasma da ignorância foram ficando cada dia mais distante.

Um dia, na hora de bater o sino da igreja, já bem de tardezinha, a ultima badalado do sino, veio um anuncio:

Um dia lá pelas dezoito horas depois da ultima badalada do sino, um anuncio no alto falante da igreja católica:

_ Amanhã os fulanos de tal, estarão aqui o dia todo, que trarão dentistas, oculistas e outros tipos de profissionais para ajudar a comunidade carente; oferecendo-lhe mais Cidadania.

Catarina não pensou tanto no dentista, como já que se tratava de política quem sabe ela conseguiria tirar sua certidão de nascimento, para poder estudar em paz.

Não deu outra. No dia seguinte o vilarejo em peso está à porta do pavilhão da igreja, uns para extrair dentes, uns para aproveitar trocar as dentaduras (Próteses dentarias), e outros para tirar “documentos”.

A família da Catarina era uma das indigentes que procuravam enfim tudo o que lhes ofereciam, pois tudo era de suma importância, e de grande necessidade.

Dentes danificados eram o que não faltava; onde na família da Noêmia não escapava um para contar a historia.

Antes dos trabalhos comunitários começarem, há uma fila de políticos para discursarem.

Um dos discursos foi de um candidato a vereador pelo partido da oposição; PMDB:

_ Finalmente, após um intenso e grande esforço que conseguimos trazer até aqui estes generosos profissionais que não mediram esforços para nos ajudar. Busquei nestes jovens da faculdade de Curitiba uma solução para o sofrimento do povo desta Cidade. Eu digo Cidade, porque aqui somos desprezados, onde ninguém acredita que aqui podemos fazer uma grande Cidade. Muitos não acreditam na minha capacidade. Os meus adversários dizem que se eu ganhar as eleições isto aqui nunca passara de um Vilarejo. Como já trousse estes médicos, mesmo antes da minha vitoria, imaginem vocês meu povo, quando eu for eleito representante do nosso Município! Vou trabalhar mais na área da saúde e da educação. Quantos destes jovens e crianças que vivem aqui, quem sabe estarão no meu lugar, fazendo ainda mais do que eu. Estes jovens e crianças serão o futuro do país e por isso que o partido esta investindo neles.

O discurso foi por mais de hora. E o povo aplaudia.

As ultimam palavras do discurso foram:

_ A ênfase da verdade é dignidade, felicidade e dar ao meu povo condições digna; mais Cidadania. No dia 15 de novembro votem em mim. Para o progresso continuar. Foram vários discursos.

Os trabalhos comunitários se iniciam. Neste momento o mundo se transforma na cabeça de Catarina, que pensa que no próximo ano pode estudar livremente, então esta liberta do sofrimento que a prendia pela falta da certidão de nascimento, pois não seria mais uma indigente.

No consultório odontológico improvisado sem nem um cuidado de higiene onde corriam todos os riscos de contaminações, os dentistas desenvolviam seus trabalhos.

Eram crianças, adolescentes, jovens, adultos que saiam desdentados, uns já estavam banguelos de dentes quebrados corroídos de cárie, mas até os dentes perfeitos foram extraídos, ficando ali cerca de dois ou três dias, uns só extraindo dentes e outros só tirando a moldura de próteses.

Catarina, e entre tantas com treze anos de idade foram extraídos todos os dentes e colocado próteses. Catarina fica feliz da vida, pois nuca mais sentiria dor de dente. E com o resultado daquela ação social ela também estava por adquirir a sua certidão de nascimento para estudar.

No meio de todo aquele tormento de movimento de gente que entravam e saiam do pavilhão da igreja. Lá pelas dezesseis horas o sino da igreja bate. E todos correm para a igreja. Era um defunto.

Foi horrível. Ele estava com a cabeça toda retalhado, as arca dentaria estava toda dilacerada caída para baixo a altura do seu pescoço. Vitima de facão que recebera de sua mulher que não suportou mais a violência pela bebida.

Uma das biatas concluiu no ouvido de outra:

_ É! Ara ele que foi tão ruim para a família, só algumas rezas já esta de bom tamanho. E saíram levando o defunto par o cemitério.

De volta aos trabalhos comunitários; o povo se imprensava para serem atendidos. Ao passo que iam sendo atendidos iam saindo para a rua única do Vilarejo. Que mais tarde se reuniriam todos enfrente da vendo do seu Caboclo para assistirem a dita televisão.

CAPÍTULO IV

A SAIDA DE IBIRACEMA

Catarina perde o ano de aula, mas não se da por vencida. A noite em suas orações suplica para sua santa protetora Nossa Senhora de Aparecida:

_ sei que podes me ajudar. Se a Senhora me ajudar que pelo menos no próximo ano eu possa estar nas salas de aula, eu vou me dar por muito feliz, e te agradeço muito, rezo dez ave Maria e dez Santa Maria.

Agora ela promete a si mesma:

_ Não vou me deixar levar facilmente por esta pobreza desgraçada; um absurdo eu com quatorze anos de idades e não ter um documento se quer que prove a minha existência a não ser um batistério velho em pedaços ruído pelos ratos.

Nada consegue tirar o seu animo, da esperança de voltar para a Escola. Para ela só tem um jeito de tirar o documento. Seria juntando o dinheiro que ganhava como baba da filha de sua prima.

Sua mãe não se agradava muito de para quem Catarina trabalhava, pois a prima tinha fama de mulher pervertida.

A mãe dela tinha medo que Catarina ficasse na boca do povo. Ela trabalhou um bom tempo com sua prima; aprendeu muitas coisas com ela, coisa que sua mãe não lhe ensinava.

Em vez de o direito ao acesso para o sistema educacional; encaminhavam para a marginalização, que encaminhavam a maioria das crianças daquele Vilarejo; começando pela escola e pela família que mecanizavam o trabalho infantil sem nem um tipo de reconhecimento de auto-estima. Que deixavam lesões cerebrais em grandes seqüelas. Estas feridas ficaram com muito pouca chance de cicatrização. Porque que só, se punia os filhos dos pobres. As infâncias daquelas crianças foram roubadas.

Em um domingo depois da missa Catarina desse a ribanceira do córrego para buscar água. Em meio à cantarola de Catarina, vem o barulho das pisadas de um homem que se aproxima. Com uma tosse; de como quem queria chamar a atenção da guria ali agachada; levando o balde embaixo as bica de água.

Catarina se volta para traz; vê ele que esta bem perto. Ele não tarda em cumprimentá-la:

_ Bom dia!

_ Bom dia!

Catarina responde meia sem jeito. Não sabia o que dizer. Logo ficou vermelha; foi tomada de medo. Se a mãe visse que estava lá de conversa com um homem; meu Deus!

Ele foi logo esclarecendo o motivo de estar ali:

_ Eu vejo que é uma moça que só cuida dos afazeres. Não vejo por ai como outras meninas. Sei que você é uma moça de família. Quero me casar com você. E se você me quiser vou falar com os seus pais.

Catarina meio atordoada diz:

_ Eu não quero me casar com ninguém, por enquanto. Eu quero estudar.

A Eva que não era burra nem nada, quando viu que ele foi seguir a Catarina; chegou bem de mansinha, silenciosamente por traz de um pé de Santa Barba. Na beira do córrego, para escutar o que aquele homem dizia para Catarina.

Ele continua falando enquanto a Eva estava na escuta:

_ Já faz muito tempo que eu te observo, ao passar para a escola; eu tenho muito interesse em me casar com você; posso lhe dar uma boa vida.

Catarina com pretexto de que tinha de levar água para a mãe colocar na panela de feijão, foi logo aparando a água embaixo de uma bica, e foi saindo, e dizendo que tinha que ir logo para casa, a mãe esperava-a, com a água; e lá se foi.

O homem, vendo que Catarina impressionada com as suas palavras diz:

Você não acredita que eu posso lhe dar uma boa vida? Eu tenho certeza que você não vai se arrepender.

_ É claro! Disse Catarina, dando uma pequena volta por traz dele e subiu o morro que se erguia a beira do córrego. Lá em cima deu de cara com a Eva, que a observa – lhe, e pergunta:

_O que, que aquele homem queria com você

_ Nada! Segredou ela embaixo da grande sombra da Santa Barba.

_ Tenho medo disso que me pelo! Quando vejo estas coisas, pois você sabe o quanto sou contra este tipo de coisa. Isso não tem futuro. Você deve estudar; para depois pensar em casar, se não vai acabar como eu. Deus, que te livre dessa vida! Até sinto formigar o meu corpo em pensar nisso! Credo!

_ Sim eu sei que você sofre muito, e eu não quero passar pelo o que você passa!

_ Eu não acredito que a comadre e o compadre irão aceitar de que você se envolva tão sedo com casamento! Disse a Eva.

O homem já havia desaparecido, como se levasse um correrão de um boi, ou de um cachorro bravo.

As duas ergueram-se uma longa conversa sobre o assunto; enquanto a mãe da Catarina; escutava-as, em silencio, atrás de uma moita de buva. E depois de algum tempo ela apareceu repentinamente pegando a Catarina pelo braço e ali mesmo lhe deu uns sopapos e puxões de cabelos, havia entendido que ela estava dando ouvido a uma rapariga. Depois daquele episodio violento com a Catarina, a pequena ficou ainda mais apreensiva, e mais triste que já estava pela falta de sorte de ter perdido o ano de estudo, e que só Deus sabia quando era que voltaria às salas de aula.

Agora já, lá no quarto bem encolhidinha, vinham os suspiros; um atrás do outro; e os soluços que não acabavam mais; depois de ter engolido o choro, ai dela se chorasse, fazendo ouvir quem estivesse a três metros de distancia!

Embaixo da grande arvore a Eva pegou uns gravetos, para acender o fogo de manhã; e tenta se explicar para a comadre a conversa que estava tendo com a Catarina. Acreditava mais certo levar ao conhecimento dos pais. Ela achava inconveniente um homem ficar ali iludindo, (assediando) a guria e ela sabendo de tudo e ficar calada, por que tudo podia ser evitado por um meio de uma boa conversa com a Catarina, evitando um desencaminhamento na vida daquela criaturinha, tão carente de afeto e de carinho e de experiência na vida.

A Dona Ondina protestou logo, com muito ódio em seus olhos.

_ fique longe das minhas filhas, pois tenho muito gosto de fazer a Catarina casar-se com um homem bom de família; e que pode dar uma boa vida para ela.

Eu estimo muito a Catarina; tanto que não podia deixar de tentar desperta-la, e levar ao conhecimento da senhora, não quero que aconteça com ela o que aconteceu comigo!

Acudiu a Eva.

_ A verdade, é que você já era uma rapariga, antes mesmo do compadre te carregar; você sempre foi uma perdida, pensa que eu não sei que você era mulher do seu pai, e até dos seus irmãos?

A Eva não considerando as ofensas; ajeitou o feixe de gravetos nas mãos. E diz:

_ Bem, a filha é da senhora, e talvez a senhora tenha razão, quem sabe ele pode dar estudo para ela. E daí quem sabe, ela tenha mesmo sorte grande. Só que, o que a senhora não sabe é que, eu era obrigada a manter relação com meu pai e com meu irmão; só eu sei o quanto eu sofri!

_ Dona Ondina declarou guerra se ela se atrevesse a se meter com as suas filhas.

_ A senhora pode ficar sossegada, que eu não vou mais falar com sua família. As boas famílias não se perdem; pois estarão sempre livres de qualquer tipo de vergonha; más pessoas como eu não fará falta se, se mor por ai. Eva diz isso. E pedem desculpas pelo intrometimento, ela pensava em estar prestando um favor de muito boa vontade. Ela ainda diz:

_ Não poupe em contar comigo, se por ventura houver alguma precisão, é só me procurar que estou a sua disposição. Eu desejo unicamente a felicidade de Catarina.

Veio a questão que Dona Ondina maquinava ultimamente; a de não havia melhor vida do que a de Catarina tivesse a sorte de se casar com um homem bom, homem que supostamente possuía dinheiro; dizia que Catarina fizera muito mal em consentir que uma rapariga andasse por ai às escondidas a conversar.

Eva retirou-se afinal, entre protesto sobre o pensar da comadre; só que em silencio; mas prometendo em segredo que não abandonaria a Catarina, até que pudesse que a acompanharia, sempre, mesmo que de longe.

O seu Florisvaldo aparecia de vez enquanto; mas nem percebia o reboliço em que ia a vida da família.

Por todo o vilarejo se espalhou o boato de que Catarina se casaria em breve.

O Geraldo, muito feliz, metido em um belo pano passado, calça de tergal preta, e camisa azul clara e sapato de cor preto bem polido, bem composto, passeava pela rua, cantarolando, em voz alta, o de vitoria.

_ Olha que nojo! Resmunga a Eva ao vê-lo passar e, já encolerizada pala injustiça que estava vendo à hora de acontecer.

Ela se benze:

_ Cruzes, Ave Maria! _ coitada dessa infeliz, pois vai só sofrer nesta vida! Apiedou-se da Catarina, pois ela bem sabia também qual era o resultado de um casamento sem amor.

O pai da Catarina é quem bem pouco se incomodou com a noticia, tinha lá o pensamento de que não escolhia casamento para suas filhas; só bastava que fossem pessoas honestas.

Estava quase chegando a hora de a Eva discutir com os compadres sobre aquele assunto, durante aquele dia, quando viu que nem mesmo Florisvaldo foi contra aquele mal feito. Ela correu logo ao seu encontro e lhe pediu que não aceitasse tamanha loucura; a de Catarina tão menina se casar. Catarina estava ainda em faze de formação!

Seu Florisvaldo respondeu como já de costume, meio grosseiro, asperamente.

_ Olha comadre Eva, fique bem longe das nossas vidas! Volte para sua casa! Era só o que faltava, pois nem eu dou palpite em casamento das minhas filhas, agora eu tenho que aturar conversas de quem não tem um pingo de brio! Estamos bem servidos mesmo!

A Eva com grande espanto se convenceu pedindo desculpas e que definitivamente a Catarina estava perdida, que a sua vida estava em ruína.

_ Meu compadre estou pasma! Desde que moro aqui e conheço o senhor, é a primeira vez que o vejo, assim!

Diz a Eva.

_ Diabo!Resmunga ela, deixando a casa do compadre, e se retirando para a dela.

Resolveu que só restava rezar para que Deus acompanhasse a guria, durante toda a sua vida.

A catequista que já passa, a saber, do caso, começou logo uma novena para a Nossa Senhora Aparecida iluminar a vida de Catarina. Ela lamentava que justamente nesta causa ela não podia fazer nada, era assim que esta gente pensavam:

_ Casar suas filhas era uma questão de honra! Tomara que isso em pouco tempo seja mudado. Tenho muita pena desta juventude!

Acudiu à catequista.

A noite cai e Catarina na cama, sente-se uma grande insegurança, e no eu triste abandono derrama suas queixas a Nossa Senhora Aparecida, continuava a frustração por não poder estudar, crescendo a amargura no seu pequeno peito, como podia caber tanta tristeza em um peito tão pequeno!

Na noite deste dia, rolava na madrugada, acesa queimando em febre, acompanhada de suor frio; a Dona Ondina variava em cima da cama. Uma dor que era como se estivesse quebrando todos os seus ossos. Como ela era muito pobre, não havia em casa nem mesmo uma sibalena, o remédio mais barato da época.

Catarina ouve os delírios da mãe e corre a porta da vizinha mais próxima, a Eva. Ela pede lhe socorro; estavam sozinhos. O pai estava jogando.

Lá pelas duas horas da madrugada, Dona Ondina sentiu que alguém passava levemente a mão pela sua testa, e despertou perguntando; quem era? Ela mal enxergava por meio de um lampião que clareava muito pouco; o querosene estava no fim. Estava tudo silencio, o vilarejo estava quieto.

_ Comadre! Disse ela; onde fez muita força para reconhecê-la.

_ sim, sou eu mesma comadre! Fique quieta que vou preparar lhe um chá e uma sibalena para a senhora tomarem

_ Meu Deus!

Diz Dona Ondina.

_ Nada de ficar nervosa comadre! Tome aqui o chá e a sibalena e trate de ficar calma; amanhã vai amanhecer bem melhor, este chá de ponta - live é bom até para pneumonia!

Dona Ondina tomou o chá e o analgésico, com um pouco de dificuldade para respirar; arrastando uma velha coberta por sobre ela; depois de haver deitada ao tomar o medicamento; logo a Eva percebeu que ela estava totalmente ensopada de suor, ao apalpá-la; solicitou, o que a Catarina trouxesse outras roupas.

A Catarina com muita dificuldade procurou em meio as roupas, que estavam sobre postas em cima de um varou, que cortava o quarto de um lado ao outro; este era o guarda –roupa da família.

Cataria encontrou só um vestido velho, as roupas de cama era só uma troca, a única Dona Ondina fazia uso neste momento.

Logo a Eva muito prontamente, ordena Catarina vai a sua casa dizendo:

_ Minha linda! Vai lá ao meu quarto, na ultima gaveta da cômoda e pegue qualquer lençol e traga para trocar a cama!

Catarina entra a casa silenciosamente, para não acordar o primo e a bebe, que dormiam um sono pesado, sobre uma cama de campanha; este tipo de cama ali era uma raridade, era mesmo só que tinha melhor condições de vida. Catarina com bastante cautela abre a gaveta e pega o lençol, saindo pé por pé, pisando no assoalho bem de leve; ela não encontrou dificuldade em entrar na casa e achar a roupa, pois alem de fazer poucos dias que havia deixado ali o trabalho de baba; havia também um lampião a gás iluminando a casa.

_ Vamos comadre mude esta roupa, o chá esta fazendo efeito, e esta soando mais ainda. É preciso trocar também o lençol, que é para a senhora não se resfriar.

Dona Ondina ainda sem força para sair da cama; a gripe entrara no seu organismo; se manifestando pela madrugada, com crise de febres e muita dor no corpo.

_ Agora se sente melhor?

Perguntou a comadre Eva.

_ Estou sim, comadre!

_ Trate de repousar e qualquer coisa me mande a Catarina me chamar! Eu volto cedo ver como esta passando!

A Dona Ondina pediu-lhe que Deus lhe abençoasse, agradecendo-a.

_ Até logo. Despediu-se a Eva.

A Eva sai e volta pela manhã, como prometera, mas a Catarina já havia dado a sibalena e o chá a sua mãe.

_ Então como passou comadre?

Ela perguntou, indo chegando perto da Dona Ondina.

_ Estou bem melhor.

Dona Ondina estava mais incomoda pelo fato de ter precisado da comadre, do que com a sua moléstia, pois a respondeu, com um ar de infeliz; muito amargurada.

A Eva com um largo sorriso, com seus lábios bem vermelhos, bem maquiados; diz:

_ logo a senhora ai trabalhando, pois é mulher forte!

Dona Ondina fez um gesto de repugnância, pela razão de ter sida atendida Poe uma rapariga, ao ver dela.

Logo que o seu Florisvaldo chegou, a Eva se retira rapidamente para a casa.

_ Viu, tié!Que não se pode dizer: comigo nunca!

Afirmou o seu Florisvaldo, voltando-se para a Dona Ondina.

_ Tem toda razão! Meu pai!

Acode a Catarina.

Dona Ondina por muitas vezes repete dizendo:

_ É, que a comadre e todas as mulheres da vida são de bom coração, elas acreditam que fazendo o bem; Nossa Senhora vai interceder por elas quando morrerem; e tiverem que se acertar com Deus dos seus pecados!

Se cuide mulher, queimando a língua e não se ajeita!

Diz Florisvaldo, que tomava café, pretendendo voltar logo para o jogo de baralho.

_ Eu não ponho a mão no fogo por você com ela, pois esta sempre pronta a defendê-la!

Insiste a Dona Ondina em difamar a comadre, que acabara de lhe prestar tão tamanho favor.

_ Agora sim, sei que você não tem jeito mesmo mulher! A comadre terminou de te acudir e mesmo assim...

O seu Florisvaldo tendo dito isso; acendeu um cigarro em um tição de fogo, que pegou no fogão, e saltou em passos largos rumo ao bar, onde de costume passava a maior parte do tempo jogando.

Mais tarde, lá pelas nove horas da manha, ouve se uma pisada forte ruma a casa; as pisadas vinham da rua para a porta da cozinha.

Era o Geraldo, que vinha chegando; Catarina recebe-o, na casa; estendendo-lhe a mão, que ele beijou admirado, fitando um olhar como se estivesse contemplando uma jóia rara.

_ É linda!

Desse ele; tornando a beijar a mãozinha que estava entre as suas.

_ Esta bem pare com isso!

Diz Catarina, puxando a mão.

_Minha mãe passou a noite toda com febre!

Volte outra hora; por causa disso, tenho que cuidar de todos os afazeres da casa.

_ Se me permito eu lhe ajudo!

Diz ele com um sorriso meio maroto.

_ Não carece!

Acudiu a Dona Ondina, que já vem se levantando com algumas rodelas de batatinhas grudadas na testa, que era para acalmar a febre; segundo a medicina alternativa.

A Eva que chegou logo depois fez de conta que não sabia de nada sobre o suposto casamento, não deixa transparecer a sua contrariedade.

_ Então comadre, melhorou?

A enferma com uma cara mais animada responde:

_ Tive uma boa melhora!

O Geraldo deu uma volta por trás da casa, para demorar um pouco mais, dando um tempo, voltando com um cigarro aceso entre os dedos, disse meio desenxabido:

_ Bem, tenho que ir para casa queimar minhas latas! Ele estava ali no Vilarejo cozinhando para os funcionários do seu irmão, que trabalhavam de

ensacadores. O seu irmão era um dos fortes serialistas do vilarejo que haviam chegado ali a pouco.

O Geraldo então acompanhado com o desapontamento se despede:

_ Até, logo mais! Para todos! Se retirando, cantarolando, como de costume, saiu pela rua a fora.

À noite esta calma; Dona Ondina esta preparando o jantar, estava ela bem melhor, não sentia mais a febre.

Catarina estava sentada em um banco na frente da casa, a conversar com a amiga Tereza; elas combinavam, em mais tarde, irem ouvir o velho bem; o negro velho tocar sanfona; quando o Geraldo voltou, chamando a Dona Ondina até lá fora; e perguntou-lhe, colocando uma mão apoiada na velha parede da casa.

_ O que, que a senhora me diz sobre eu e a Catarina?

Dona Ondina respondeu com um movimento balançando a cabeça, como de boa aprovação; que diz:

_ Bem, eu acho que está tudo certo, pois o senhor é uma boa pessoa.

Depois de uma pequena pausa, Dona Ondina ainda diz:

_ Desde o dia que fiquei sabendo que o senhor estava interessado na Catarina, que não deixo de pensar na felicidade da minha filha; sei que o senhor vai dar do bom e do melhor para ela.

Catariana que ouvia, fez um ar de duvida, já com um ponto de raiva pensou:

Eu não quero falar com ele eu quero é brincar com as meninas!

_ Meu Deus! Ora qual! Ninguém me tira da cabeça que vou conseguir vou conseguir me documentar, e então vou Estudar! E não me casar! A não ser que ele me dixe estudar. Mas ora bolas, só uma burra como eu que, pode pensar em estudar depois de estar casada! E também, vou ouvir os conselhos da prima; só vou me casar por amor.

Logo A Catarina se angustia, e vai parar lá no quarto, deitado-a, bem encolhidinha.

A Dona Ondina da à palavra deque daria a mão da Catarina em casamento para ele, o que fez com que ele saísse muito sorridente cantarolando.

A mãe entra no quarto, com um papo que não agrada muito a Catarina.

_ Eu sempre acreditei que você ia conseguir um bom casamento!

_ Minha mãe eu acho que a senhora esta enganada!

_ Guria, você esta com a faca e o queijo na mão! Pode ter de tudo sem precisar trabalhar, não se preocupar com nada! Você não sabe quantas que queriam um marido como esse!Eu vou fazer este casamento e garantir o teu futuro!

_ Sim, mas é que eu não gosto dele!

_ Amor não enche barriga! Deixe de ser cabeça dura guria! Essa é uma ocasião tão boa de você se arrumar na vida já bem cedo!

Catarina que havia sentada na cama, por ordem de sua mãe, meditava de cabeça baixa.

_ Eu até acho que você anda mais quieta do que o de costume! Garanto que esta pensando nas besteiras que a comadre Eva, andou te falando! Mas se, eu te pego de conversinha com aquela tal; você vai ganhar uma tunda de laço, que nunca mais tu vai esquecer!

Ela se aproximando mais de Catarina, exemplificou:

_ Sabes, aquelas moças velhas que ficam por ai sem se casarem, acabam caindo nas garras de qualquer de qualquer pelego velho, para não morrerem encalhadas; é só isso que sobra para elas! Agora você esta recebendo um homem bom e de dinheiro, que quando ele morrer ficara tudo para você! Não vai ter o meu destino, que para mim o teu pai sempre me deu muito pouco; por isso que eu não acho graça nele; garanto que ele guarda os melhores para as raparigas essas vadias podres de doenças!

A conversa foi longe:

_ Que minha mãe! O pai gasta todo o dinheiro com o baralho!

_ Ora, minha filha! Quem conhece o que é um mau casamento sou eu! Vou te dizer uma coisa; se o teu pai me desse dinheiro, ele podia andar com quantas raparigas ele quisesse, mas ele mal tem para o fumo.

_ Não! Exclamou a Catarina, escandalizando aquilo.

E, em pensamento diz:

_ Isso agora eu não perdoa a minha mãe! Eu aqui a vida toda me matando de pena dela, porque na vida dela não há carinho entre ela e meu pai; e ela agora tentando socar em mim, um casamento que eu não quero! Não! Isso não se faz! Sempre sonhei com outra vida para mim!

_ Vou falar com seu pai e com o Geraldo, devemos fazer este casamento o quanto antes, temos que tomar medidas muito seria a respeito!

Diz a mãe fitando os olhos bem firmes sobre a Catarina.

_ Vamos resolver isso antes que seja tarde!

_ Mas, mãe, sem mesmo eu gostar?

_ Ainda que não goste; ora essa! Dos males o menor! Antes que o mal cresça agente corta a cabeça! Lembre-se que este homem pode ser fisgado a qualquer hora, por outra e você vai ficar ai na miséria! E, eu já te disse que amor não enche barriga de ninguém! Estou já para desconfiar que você esta querendo se enrabichar com algum moleque vagabundo; algum candango velho, só por acredita nessa ilusão do amor! Ah, mas se eu te pego! Acha que vou deixar escapar esta galinha de ovos de ouro na tua vida? Só se eu estivesse mesmo Luca! Fica-se, com um documento que levara o nome de uma gente boa! E acha ainda pouco isso minha filha?

_ Isso é desonesto!

_ Desonesto é perder o teu futuro por causa de uma besteira desta; de que precisa amar para ser feliz! Para ser feliz é preciso estar de barriga cheia!