UMA NOVA CHANCE - Final
Sabendo um pouco sobre esses seres espirituais, resolveu caminhar pela casa. Tentou captar alguma lembrança, mas nada passava pela cabeça.
- Não consigo me lembrar. Será que se eu ver a minha mãe vou conseguir, já que meu corpo eu identifiquei?
- Podemos tentar.
Novamente uma viagem na velocidade da luz. Aquilo tava começando a deixá-lo tonto.
- Vai devagar, sou novo nesse troço.
As viagens deram uma dúvida curiosa.
- Os espíritos, Anjos, Arcanjos, enfim, podem fazer estas viagens, mas pelo tempo? Podem voltar no tempo? Ver o passado.
- Podemos. Nós temos esses poder.
- Então porque não voltamos para eu ver a minha primeira vida depois de terminarmos por aqui? Eu poderia ver quem foi Lucas.
- Não. Sua áurea não está pronta para isso. Sua energia não está forte suficiente.
- Então a gente volta num passado recente. Na vida de João.
- Não importa o tempo. Se a viagem será longa ou curta. A questão é fazer a volta. Se você não está preparado, pode causar problemas.
- As pessoas fazem isso. Você sabe né? Chamamos de regressão.
- Isso é extremamente errado. É jogar com a sorte. Regressar pode causar seqüelas ou coisas piores. O ser humano não está evoluído o bastante. Se um rapaz fizer regressão, seu espírito pode ficar preso naquele passado e não voltar mais ao corpo. O espírito nada mais é que a mente humana. Caso consiga retornar, pode voltar com algum trauma. A pessoa pode ver uma vida que não gostaria de saber.
- Então melhor ficarmos por aqui viajando no presente. Onde estamos agora?
- Este é o trabalho da sua mãe. E aquela lá sentada é ela. Mariene.
Infelizmente nada veio na memória. Só podia ter algo errado. Não se lembrar da própria mãe. Realmente a vida de morto não agrada no início. Novamente irônico.
- Eu não consigo me lembrar. Temos que tentar algo novo.
- Acho que sei o que. Vamos para o ponto importante. Sua morte.
Suas palavras o arrepiaram. Não sei como, estava morto e era um espírito. Não tinha pêlos para arrepiar. Apenas sentiu a sensação. De uma forma foi bom, porque se sentiu vivo novamente.
A rápida viagem não afetava mais. Ele a fez com a maior naturalidade. O espírito começava a se acostumar e a se fortalecer.
- Olhe esta mulher.
- Quem é?
Eles olhavam para uma moça que chorava bastante.
- Acho que me conhecia e está triste.
- Esta é Rebeca, a mulher pela qual...
- Me apaixonei.
As palavras saíram sozinhas sem que quisesse. Era uma demonstração dememória.
- Acho que estou me lembrando de algumas coisas. Sim. Lembro sim. Eu me apaixonei por ela. Rebeca.
- Você se lembra realmente de tudo?
- Creio que não. Por quê?
- Você era apaixonado sim por ela. E muito. Mas nunca abriu a boca. Nunca se declarou. Na verdade se declarou sim. Na hora errada.
- Como assim?
- Você verá.
Sentiu alguma coisa envolta de si. Era uma força enorme.
- Seu espírito está pronto. Podemos voltar no passado. Vou te mostrar como morreu.
O movimento na Rua México era intenso. Carro pra cá e para lá. O Sinal finalmente ficou vermelho deixando os pedestres passarem. Lá foi João ao lado de Rebeca. De repente um carro virou na rua onde estavam com grande velocidade. Empurrou-a, mas o corpo de João ficou no mesmo lugar. A pancada foi horrível. Lançou-o alguns metros fazendo bater com a cabeça no chão. Tinha poucos segundos de vida. Rebeca correu em sua direção, ajoelhou ao lado.
- João... – disse chorando sem saber o que dizer.
- Rebeca... acho que vou morrer.
- Não vai. Vou te ajudar. Você me salvou, tenho que te ajudar.
- Não tem mais como. Bati forte com a cabeça e não sinto o corpo.
- Não, por favor.
- Rebeca, quero que me escute.
- Diga.
- Sabia que eu te amo de verdade. – soltei pequenos risos. – Eu me apaixonei... Eu te amo.
Enfim ali João morreu.
- Então assim que eu morri. Nossa muito triste isso. Caio vamos sair daqui.
Um tempo se passou. Fez uma viagem para conhecer Lucas. A primeira vida. Quando retornou veio a surpresa. Caio apareceu com notícias novas.
- Lucas, tenho uma novidade. Temos um corpo e você está pronto para voltar.
- Mas já? Não tem muito tempo que parei no mundo espiritual!
- Se passou três anos.
- Nossa, nem senti tudo isso. A vida de fantasma passa voando. (risos)
- Seu corpo vai nascer. Precisa se apressar
- Espera, tenho que ver com que roupa é melhor para essa viagem. (risos)
- Chega de brincar, vamos logo.
Caio se despediu colocando-o num local iluminado e disse algumas palavras.
- Espero te rever não tão cedo. Viva bastante hein.
- Pode deixar.
Novamente como num passe de mágica lá estava Lucas num lugar escuro. Provavelmente no útero de nova mãe.
Enquanto isso outro Arcanjo veio falar com Caio.
- Quando este rapaz morrer, você terá uma grande jornada. Terá que explicar muita coisa.
- Eu sei. Terei que explicar melhor a teoria da reencarnação.
- Bem, vamos aproveitar o momento do parto. Rebeca deve estar feliz por ser mãe.
- Com certeza.