Para minha melhor amiga
Pessoal, meu está está publicado no Projeto Eu Amo Escrever da Cantão. Gostaria bastante que me ajudassem :D
http://www.li3.com.br/clientes/euamoescrever/contos.php?para-minha-melhor-amiga&p=1783
Obrigado pela atenção!
Nunca neguei que amo a natureza. Nunca mesmo. Sempre vivi rodeado de flores do jardim que minha mãe cultivava e arbustos incrustados nas paredes. É diferente, mas sempre tive esse elo com a natura, poeticamente e naturalmente, especialmente com as árvores. Ah! Eu adoro árvores. As minhas mais belas companhias e minhas únicas amigas. Desde moleque vivia agarrado em uma. Trepava em seus numerosos galhos e ricocheteava sem parar. Se não estava pendurado como um macaquinho à procura de diversão, estava subindo e escalando pelas firmes ramificações das pimpolhas, me desviando dos afiadíssimos espinhos e, depois de muita dificuldade, chegava até o topo. Sempre custava para chegar, mas valia a pena. Lembro-me que ficava o dia inteirinho tentando subir. Às vezes, quando minha mãe esperneava louca: “- Desce já, guri, e vem almoçar” (tinha um sotaque gaúcho muito mimoso) e eu não descia, queria chegar até o ponto mais alto e observar o majestoso céu de pertinho. Chegava ao meu momento de glória e, como um rei, eu poderia comandar a humanidade e também as graciosas arvorezinhas, no meu trono, a copa da mais alta árvore do jardim.
Minha infância passou-se como um cometa. Vivia naquela inocência do campo, porém tive que largá-lo e vir para a cidade. As grandes metrópoles me aguardavam, o grande amante das árvores havia de chegar... Porém, me sentia triste, imaginava que no caos urbano não encontraria nenhuma árvore, apenas asfalto quente, carros buzinando e edifícios que arranhavam o céu (era o que me falavam da cidade grande). “Pobre de mim! Levaria anos para escalar esses prédios e, caso haja uma queda, seria fatalidade.” Minha linda pureza de um anjo. Mas por incrível que pareça, eu me surpreendi. Encontrei parques florestais nos arredores da concretização. Foi difícil achar um verde em meio a tanto cinza... todavia, eu o descobri. Descobri a virgem relva: era encantadora. Era um paraíso, digno como o Éden. Não só o fantástico eco parque, mas também encontrei a árvore mais linda que eu já tinha visto. Devia ter uns cento e vinte anos, no mínimo. Era formidável. Seus grandes ganhos encapuzados com milhares de folhagens verdes. Seu caule? Magnífico. Um marrom envelhecido e rígido. Era maravilho estar junto daquela figura que apelidei de Iasmim. Era sublime sentir o cheiro de celulose penetrando em minhas narinas, além de apreciar a suave brisa tocar em minha face. Respirava um ar limpo, puríssimo. Perfeito. E, de brinde, a sintonia mais natural e bela do Mundo: o canto dos passos. Realmente me sentia em um conto de fadas, ou até mesmo, Iracema.
Sensações que eu gostava de contemplar toda tarde após as aulas. Desligava-me do preocupante Mundo real e repousava naquela sombra divina. Momentos que minh’ alma desejava a cada segundo mais...
Toda essa alegria durou pouco mais de três anos, os três melhores anos da minha vida. Até que em um pútrido dia me veio à notícia de que aquela amiga estava partindo, estava sendo arrancada pelo ego capitalista. Não aguentei, larguei tudo e corri rumo ao desastre. Queria ao menos estar ao lado da minha Iasmim. Contudo, era tarde demais.
Chegando ao “funeral”, vi apenas raízes mortas no solo, e a madeira desbotando no sangrento chão. Agonia e sofrimento prostaram-se diante de mim. Já não sentia mais meu corpo, pois tinha um pacto com aquela beleza natural. Por azar, não morri naquele momento, e fiquei com as lembranças daquela tragédia em mim. São as lembranças mais dolorosas da minha vida, as que eu desejaria apagar, sinceramente.
Anos após aquela cena, aproximadamente uns sessenta e cinco, estou tendo os últimos segundos da minha penúria. Infelizmente, não queria ter nascido por passar por tudo que passei na minha vida. Ver tudo o que eu mais adorava ir embora sem ao menos me despedir. Detesto estar aqui nesse medonho quarto de hospital, com meus batimentos cardíacos diminuindo cada vez mais, queria estar junto de ti: Iasmim. Como eu queria. De estar ao teu lado e te dar o último abraço aconchegante neste teu tronco abrasador. É, não foi possível, por isso eu escrevo meus últimos versos para minha melhor amiga. Peço para que me enterrem ao teu lado e minhas lágrimas passem a te dar conforto e encher tua terra com meu corpo vazio. E um lindo campo de flores possa habitar entre nós.
As minhas últimas palavras de consciência são para você: que estejamos em paz.
Gabriel Almeida