097 – AMIGAVELMENTE...

Sorridentes entraram no escritório de um dos advogados mais afamados de nossa cidade, velho conhecido deles, foram recepcionados pelo próprio, sentaram em frente à mesa de trabalho, sorrindo falaram quase que simultaneamente:

- Doutor! Prepara a papelada porque estamos aqui para uma separação amigável!

– O que? Parece que não ouvi direito, vocês querem se separar?

– Isto mesmo! E faremos esta separação amigavelmente!

– Mas porque? Que motivos?

– Absoluta incompatibilidade de gênios!!

O Advogado ainda atordoado tentou inutilmente desvencilhar eles daquela idéia maluca, mas tudo em vão, estavam irredutíveis, e sendo assim não teve outra alternativa se não colher assinaturas em procurações, xérox de documentos, certidão de casamento, etc, etc....

Assim que assinaram todos os documentos necessários, ele se levantou, sorrindo, apertou a mão dela carinhosamente, beijou-lhe o rosto e disse adeus, o advogado avisou que dentro de uns trinta dias iria convocá-los para uma nova reunião, problema de partilhas de bens...

Assim que ele se retirou da sala, ela se pos a chorar e lamentar:

- Doutor! Eu não queria separar dele, gosto dele, mas ele é tão teimoso!

– Teimoso? Como assim?

– De vez em quando ela se ajunta com uma turma de homens que não tem o que fazer na vida, e vão pescar, vão para bem longe, Goiás, Mato Grosso, norte de Minas Gerais, tenho minhas dúvidas se eles ficam por lá só pescando, com essa mulherada dando sopa... Avisei que quando ele sair pra pescar eu saio para passear, foi aí que começou a discórdia.

– Me diga uma coisa, quando vocês se casaram ao que me parece ele já gostava de pescar, ou estou enganado?

– Essa mania de pescar é uma doença Doutor! Gravíssima! É transmissível, o pai dele é pescador, os tios, os irmãos, e durante esse cinco anos de casados lutei, usei de todos os meios para que ele abandonasse as pescarias, tudo em vão, é só visitar uma loja de produtos para pesca, que lá vem ele com carretilhas, molinetes, varas, anzóis, além de motores de popa, barcos, na nossa casa já não cabe tantas tranqueiras, resolvi dar um basta nesta situação, vou me livrar de uma vez por todas dele e das tranqueiras!

– Porque você não vai pescar com ele?

– Deus me livre deste sofrimento, já fui uma vez e jurei nunca mais voltar, é tantos mosquitos chupando a gente, o sol torra os cabelos, no barco não pode fazer barulho que espanta os peixes, é preciso ter muita paciência para pescar!!

– É verdade, é preciso ter muita paciência até para uma boa convivência familiar. Ela se foi, e de todas as maneiras tentava disfarçar seus olhos vermelhos de tanto chorar, um outro advogado entrando na mesma sala:

- Meu colega! O marido dela estava chorando baixinho lá fora, agora eu a vejo saindo chorando, o que terá acontecido?

– São dois cabeçudos, teimosos, fincaram posição, ser feliz significa também aceitar tanto um como o outro com seus defeitos e qualidades, talvez nesses dias separados descobrirão o quanto um faz falta na vida do outro, nem vou dar seqüência nesta papelada da separação, com a minha experiência sei que se reconciliarão!

Passados trinta dias, os dois entram novamente na sala do advogado, sorridentes, de mãos dadas, um tanto encabulados, envergonhados:

- Ah! Doutor! A gente achou melhor não se separar!

– Ainda bem que não perdi meu tempo com aquela papelada!

– Como assim?

– Vocês economizaram, senti que não havia motivos suficientes para uma separação, sabendo o quanto vocês se amam!

– Fizemos concessões, de vez em quando vou pescar com ele, e ele de vez em quando vai comigo passear no shoping!

– De vez em quando ela vai comigo no pesque pague, e eu vou com ela viajar, ela adora praias! Passamos este final de semana em um pesque pague, Doutor! O senhor não acredita a quantidade de peixes que ela pegou, concordamos também em encomendar nosso primeiro filho, ele já esta fazendo falta em nossa casa! Quanto nós devemos ao senhor? – Estão me devendo um churrasco lá na casa de vocês, e vou levar toda a minha família... Quanto àquela papelada que vocês assinaram será fragmentada e incinerada.

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 29/08/2011
Reeditado em 30/08/2011
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