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UM OLHAR ALÉM DA JANELA
 
O olhar percorreu cada canto daquele espaço. Era tudo tão frio. Tão distante. De repente, tudo estava transparente e sem razões para apegos. Havia amadurecido nos últimos meses, tanto, que sua sensibilidade não lhe permitiu sequer que uma lágrima ali caísse. Sem abraços, sem palavras, tudo ficara mais fácil. Sentia-se fortalecida! Todos os seus pertences haviam sido retirados. Era chegado o momento solitário do adeus. Havia apenas suas impressões impregnadas em cada objeto, piso, parede. Havia vozes e sorrisos que ecoavam, remotamente, como se percorressem os labirintos de sua mente. Havia um vazio repleto de muitas lembranças, como se fosse um filme. Um filme de uma vida Inteira. E como toda vida, recheada de difíceis e bons momentos. Queria lembrar somente os bons. A sua mente começava a liberar cada cena do cotidiano ali vivido. Os momentos compartilhados, as vitórias alcançadas, que agora levava gravadas em seu banco de memória.
Olhou pela última vez, além da janela... Do outro lado, o sol brilhava intensamente, como a se despedir. Como se dissesse adeus, através de seus brilhantes raios, que tantas vezes a aqueceu, depois das noites frias do último inverno. Lembrou-se das noites, que dali, também observava o luar. Muitas vezes viu o clarão da lua cheia, linda e mágica a encantá-la.
Das chuvas fortes, que despejavam suas águas, banhando a vidraça. Esse contato, mesmo indireto, com a natureza. Sua parceira de tantas horas, quando a solidão batia à porta de seu coração. Suspirou já saudosa.
Atravessou a porta. Fechou-a sem demora. Não quis olhar para trás. Caminhou até a escada, e, elegantemente, pisou em cada degrau, convicta de que ali deixou os melhores fluídos que o seu ser pôde, naquele momento, aspergir.
 
 
 
 
 
 
Cellyme
Enviado por Cellyme em 27/08/2011
Reeditado em 27/08/2011
Código do texto: T3186019
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