Paranóia
PARANÓIA
Há duas semanas que Afrânio, morador da Estrada Velha da Pavuna, em Inhaúma, acha que está sendo espionado, seguido ou até mesmo marcado para morrer. No escritório que trabalha, centro da cidade, décimo segundo andar do edifìcio central, alimenta a idéia que alguém passa o dia o observando do terraço do prédio vizinho. Segundo sua intuição o observador é asiàtico. Quando isso ocorre Afrânio deixa algo cair de propósito embaixo da mesa e alegando estar procurando algo que caiu fica entrincheirado sob a mobília de dez a quinze minutos em tremedeiras.
– Ele está doente! disse o chefe.
– Quem sabe anda puxando um fuminho para relaxar! Opinou o colega. –Afrânio, vou te dar licença para tratamento médico! O chefe o entregou um memorando. Quando estava no elevador para ir embora no sétimo andar entrou um sujeito de olhos apertados vestindo sobretudo. Em pânico Afrânio saiu no sexto andar e desceu as escadas em disparada. No mesmo dia foi a um psiquiatra.
– O senhor está saindo com alguma mulher casada? Perguntou o médico. – Não senhor! Respondeu Afrânio deitado no divã.
– Tem inimigos, puxa a erva do diabo ou anda envolvido com coisas ilícitas? Insiste o médico e Afrânio afirma que não. Então o doutor deu o diagnòstico: _paranóia!
Afrânio pensou “eu tenho certeza, querem mesmo acabar comigo”. Abandonou o tratamento na primeira consulta e se confinou em casa.
Durante os três dias que ficou trancado em casa, todas as noites, viu um mesmo carro passar várias vezes pelo seu portão. Na quarta noite sem dormir chegou a uma conclusão. “Já sabem onde moro não é, então, se me querem me terão” Pela madrugada vestiu-se e saiu pelos lugares mais perigosos, inclusive nas proximidades do cemitério de Inhaúma. Pela manhã, tendo sobrevivido a uma noite na zona da Leopoldina carioca resolveu voltar para casa. Quando dobrou a esquina e parou na banca de jornal a manchete daquela manhã o fez estupefato. Contrabandista é assassinado pela máfia oriental. Ao lado das letras garrafais estava a foto do tal contrabandista. Era parecidíssimo com o Afrânio, cara de um, focinho do outro. Afrânio suspirou aliviado e retomou a rotina. No escritório que trabalha foi tido como herói de grande intuíção.
– Essa foi por pouco heim Afrânio! Era o único comentário do dia. FIM