Canseira

O pensar me cansa. Estudar me cansa. Os olhares maléficos me cansam. A dor de sua inexistência me cansa. Ando cansado de tudo. Da sua não aparição, que com dor no coração, insiste em me irritar nos sonhos. Pesadelos seriam sonhos pueris, desses que nós não queremos que terminem jamais. Isso se você neles estivesse. Ando de abismo em abismo procurando pelo seu corpo, ausente corpo cheiroso, doce, infernal. Antes de qualquer coisa, o amor me cansa. Sorrir me cansa. O silenciar das pessoas enquanto pensam me cansa. Olhar pássaros na praça me cansa. Cansa escrever a palavra cansa. A tela deste maldito computador me cansa. Odeio a canseira.

Abro a janela deste obscuro apartamento e me debruço no parapeito. Carros passam rápidos, cometas em forma de lataria e borracha. O som que toca no rádio me cansa. Anseio por seu corpo que tarda e talvez nem chegue. Oh! Asas de plumas que me faltam para voar agora, voar, pois voar não deve cansar. Cansa-me colocar parágrafos num texto.

Canseira.

Resumir minha canseira seria o mesmo que traduzir a bíblia do latim para o grego. Os passos no corredor cansam meus ouvidos. Ponho-me a olhar pela última vez os carros lá embaixo. Voar. Bater asas não deve cansar. Experimentar para gostar... Cansei e desisto de tentar... Afinal, o homem não foi feito para voar, e sim para se cansar...

Felipe Terra
Enviado por Felipe Terra em 23/08/2011
Código do texto: T3176564
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