As artes com Mau-Mau
Quem conta um conto aumenta um ponto. De boca em boca a estória se modifica, torna-se cada vez mais difícil de digerir, uma pequena arte se torna uma peça, a peça toma vulto e se transforma em grande armação e o arteiro, de inocente se transforma em vilão.
A professora ficara doente, não foi ao colégio e depois de longa espera, como não havia substituta, a turma foi dispensada.
Voltar para casa mais cedo e ter que explicar que a professora faltara não era muito convincente, porque não aproveitar e fazer algo diferente?
A gurizada saiu em grupo e foi tentar jogar bola na parte de trás da igreja, ao lado da casa paroquial. Lá era o ponto de encontro de grande parte dos meninos desocupados que ali brincavam protegidos pelos olhos do padre, que neles visse talvez a continuidade do seu rebanho. Assim, naquele local se reuniam todas as espécies do rebanho. Meninos que deixavam de ir às aulas, mais ou menos como nós, os desocupados, os iniciantes nos vícios e os apadrinhados do vigário que depois das brincadeiras iam fazer lanches no salão paroquial.
Tínhamos na época em torno de onze a treze anos e por falta da bola, brincávamos de pique. Lá pelas tantas, quando já estávamos suados de correr e gritar, surgem dois garotos maiores com uma bola e um deles, o Maurício, se arvorou como o dono do time e já foi dividindo o grupo em duas partes, um para cá e outro para lá e assim foi. Ao gordinho, o Bola Sete, meu colega de turma, escalou como goleiro em um dos lados.
- Se esse moleque correr cairá morto. Vai para o gol!
A mim, escalou para o seu time, imaginando que eu fosse muito bom de bola, procurei não decepcioná-lo.
Maurício saiu por um instante, foi até ao pé da escadaria que dava acesso à igreja, pegou no chão um toco de cigarro amassado, ajeitou-o a seu modo, acendeu-o e ficou a fumar fazendo pose de artista. Os demais o observavam sem ninguém nada comentar. Somente depois de completar o ritual, expelindo a última fumaça pelo nariz, ele voltou e deu início ao nosso jogo.
Maurício, tinha como apelido Mau-Mau e disso se vangloriava por capturar rolinhas no jardim em frente à igreja e arrancar impiedosamente seus pescoços para prepará-las com farofa.
Bola que corre pra cá e bola que corre pra lá com uma porção de pés que tentam alcançá-la e lá vai ela para o outro lado da rua em direção a um posto de gasolina.
Fui buscá-la e vi que um caminhão descarregava gasolina e exalava um forte odor do combustível. Quando retornei comentei com o grupo que o caminhão descarregava gasolina e deixava escapar o líquido no chão. E o jogo recomeçou até que nova leva de meninos chegou e alguns pararam de jogar enquanto outros entraram no jogo.
Dentro os que pararam estava eu e o Mau-Mau.
Nesse ínterim o caminhão já havia descarregado a gasolina e saía, deixando para trás o rastro do combustível na rua de paralepípedos. Mau-Mau que estava a uns dois metros na minha frente, se abaixa, risca um fósforo e logo a labareda surgiu, seguindo em direção ao caminhão e para o outro lado, rumo ao posto.
Por sorte a trilha do combustível não era contínua e o fogo se interrompeu não atingindo nem o caminhão nem o posto e felizmente sem queimar ninguém.
Logo os comentários surgiram de quem viu os fatos e de quem não viu e o meu nome ficou envolvido.
Quando cheguei em casa logo em seguida chegou o meu pai e não deu tempo nem de dar explicações. Fiquei com as costas todas marcadas e doloridas, mas da estória aprendi a lição e daí pra frente sempre escolhi muito bem as minhas companhias.
Quem conta um conto aumenta um ponto. De boca em boca a estória se modifica, torna-se cada vez mais difícil de digerir, uma pequena arte se torna uma peça, a peça toma vulto e se transforma em grande armação e o arteiro, de inocente se transforma em vilão.
A professora ficara doente, não foi ao colégio e depois de longa espera, como não havia substituta, a turma foi dispensada.
Voltar para casa mais cedo e ter que explicar que a professora faltara não era muito convincente, porque não aproveitar e fazer algo diferente?
A gurizada saiu em grupo e foi tentar jogar bola na parte de trás da igreja, ao lado da casa paroquial. Lá era o ponto de encontro de grande parte dos meninos desocupados que ali brincavam protegidos pelos olhos do padre, que neles visse talvez a continuidade do seu rebanho. Assim, naquele local se reuniam todas as espécies do rebanho. Meninos que deixavam de ir às aulas, mais ou menos como nós, os desocupados, os iniciantes nos vícios e os apadrinhados do vigário que depois das brincadeiras iam fazer lanches no salão paroquial.
Tínhamos na época em torno de onze a treze anos e por falta da bola, brincávamos de pique. Lá pelas tantas, quando já estávamos suados de correr e gritar, surgem dois garotos maiores com uma bola e um deles, o Maurício, se arvorou como o dono do time e já foi dividindo o grupo em duas partes, um para cá e outro para lá e assim foi. Ao gordinho, o Bola Sete, meu colega de turma, escalou como goleiro em um dos lados.
- Se esse moleque correr cairá morto. Vai para o gol!
A mim, escalou para o seu time, imaginando que eu fosse muito bom de bola, procurei não decepcioná-lo.
Maurício saiu por um instante, foi até ao pé da escadaria que dava acesso à igreja, pegou no chão um toco de cigarro amassado, ajeitou-o a seu modo, acendeu-o e ficou a fumar fazendo pose de artista. Os demais o observavam sem ninguém nada comentar. Somente depois de completar o ritual, expelindo a última fumaça pelo nariz, ele voltou e deu início ao nosso jogo.
Maurício, tinha como apelido Mau-Mau e disso se vangloriava por capturar rolinhas no jardim em frente à igreja e arrancar impiedosamente seus pescoços para prepará-las com farofa.
Bola que corre pra cá e bola que corre pra lá com uma porção de pés que tentam alcançá-la e lá vai ela para o outro lado da rua em direção a um posto de gasolina.
Fui buscá-la e vi que um caminhão descarregava gasolina e exalava um forte odor do combustível. Quando retornei comentei com o grupo que o caminhão descarregava gasolina e deixava escapar o líquido no chão. E o jogo recomeçou até que nova leva de meninos chegou e alguns pararam de jogar enquanto outros entraram no jogo.
Dentro os que pararam estava eu e o Mau-Mau.
Nesse ínterim o caminhão já havia descarregado a gasolina e saía, deixando para trás o rastro do combustível na rua de paralepípedos. Mau-Mau que estava a uns dois metros na minha frente, se abaixa, risca um fósforo e logo a labareda surgiu, seguindo em direção ao caminhão e para o outro lado, rumo ao posto.
Por sorte a trilha do combustível não era contínua e o fogo se interrompeu não atingindo nem o caminhão nem o posto e felizmente sem queimar ninguém.
Logo os comentários surgiram de quem viu os fatos e de quem não viu e o meu nome ficou envolvido.
Quando cheguei em casa logo em seguida chegou o meu pai e não deu tempo nem de dar explicações. Fiquei com as costas todas marcadas e doloridas, mas da estória aprendi a lição e daí pra frente sempre escolhi muito bem as minhas companhias.