Eu e a moda.

Domingo cinza e nada para fazer o almoço sai sempre depois das duas horas da tarde. Estava pensando no que vestir e olhando para as minhas roupas no closet, parecia haver outras três mulheres dividindo o mesmo espaço.
As roupas além de terem suas tendências falam muito de nós, demonstram exatamente o que de fato somos, no que diz respeito ao nosso dia a dia, as roupas pretas no closet eu tenho certeza que são minhas mas e as outras? O que fazia aqui uma camisa de seda javanesa florida de roxo,verde e amarelo? E essa calça de popeline com rebites? São invasoras! Só podem ser.

Foi assim que começou a faxina em meus armários e a medida em que eu encontrava outras peças que pareciam ter vindo dos confins dos anos 80 e 90, eu me deparava com uma outra pessoa. Apesar de que para muitas mulheres seria maravilhoso descobrir uma coleção vintage numa manha de um domingo tedioso.
As lembranças começaram a voltar e lembrei-me de um dia em que eu entrei em minha casa, vestindo meu velho quimono, já que eu vinha da academia de kung-fu (naquele tempo todos eram fãs do Bruce Lee) e vi minhas irmãs prontas pra irem para a “danceteria”. Isso mesmo: danceteria! A minha irmã mais velha olhou pra mim com todo o desprezo que se poder sentir por alguém e perguntou se eu iria também. Pensei em dizer sim, eu adorava dançar, mas olhei talvez não apenas com desprezo, mas também decepcionada pois teria que me vestir como elas para ir a tal danceteria, já que eles estavam no top da moda e sabiam o que era moderno, mas eu, eu não tinha nada daquilo no meu guarda-roupa.

O mais próximo da moda que poderia ter ali no pequeno espaço reservado para minhas coisas seria uma minissaia preta. De resto seriam apenas calças jeans surradas, camisetas da banda Led Zeppelin, do Mothorhead, do Deep purple, da Janis e a novíssima do Ozzy que eu tinha acabado de compra na galeria e blusões do Mackenzie e muitas, muitas camisas masculinas. É que eu sempre gostei de usar camisas masculinas de algodão e sendo vendedora de loja de roupa masculinas era sempre muito fácil adquiri-las com meu vale mercadoria. Para desespero de minha mãe que várias vezes sugeriu que eu fosse chegada a meninas, mas que nada, eu namorava o meu professor de Kung-fu há mais de um ano, e eu adorava minhas camisas masculinas usadas apenas com uma tanguiha por baixo, já sabia do que eu gostava e definitivamente eu jamais gostei daquelas roupas dos anos 80 e nem de meninas. Bem eu olhei novamente para minhas irmãs que só estavam esperando o resto da turma chegar e parece agora que vejo-as como se olhasse para uma fotografia e posso novamente descrevê-las:
_A mais velha usava uma bota com franjas, saca? Parecia uma apache e uma calça que vinha até as costelas numa cor que sei dizer se era coral ou alaranjada, mas era feia, muito feia! E uma jaqueta jeans com golas enormes, pareciam pedaços de pizza gigantes sendo que em cada extremidade havia um botão, cada um deles parecia um pires devidamente pregados em suas lapelas. Aquilo era realmente horrendo. A minha outra irmã (a do meio), que já fazia seus desfiles e modelava em passarelas e que sempre foi muito mais alta do que nós duas... ela estava simplesmente formidável
com suas botas até o joelho com colagens, recortes e franjas dependuradas, meias calças claras, não sei se eram brancas e com um vestido estilo militar com ombreiras enormes e todos os botões, medalhas e botons que se pudesse imaginar estavam lá, no vestido da minha irmã e seus cabelos, inacreditavelmente armados, bem ao estilo Cindy Lauper no vídeo Girl just want have fun.

Lembro que desisti de qualquer passeio e que fiquei realemente triste por não ter essas peças tão preciosas em meu guarda-roupa, mas acabei saindo com os meus amigos metaleiros que eram muito mais normais, apesar de dizerem o contrário e pensarem que todos nós não passássemos de maconheiros disfarçados de roqueiros (Yeah!!) mas não era bem assim, aliás a maioria do grupo se formou, tem família e ainda curte basicamente o mesmo estilo simples de se vestir e de viver sem muita preocupação com o que dizem.


Mas depois de tantas lembranças, já havia ao meu lado um cesto cheio de roupas vintage que eu já não sabia mais o que fazer, se eu jogava fora ou se simplesmente colocaria em uma caixa pra quando batesse saudade daqueles tempos, que faziam parecer uma estranha em meu próprio ninho.
Descobri também que entre vários vestidos de seda e floridos eu tenho um de onça (ou sei lá que bicho é) na cor violeta que nunca usei e acabei pegando um jeans largo e uma camiseta preta do da banda U2 e meu velho e bom all star marron que nunca sairam de moda. O que ficou no armário terei que ver o que faço, porque ontem escureci os cabelos novamente e não sei o que favorece o meu novo visual...mas é claro que eu não ligo nem um pouco para isso! Talvez um pouquinho só.

Cristhina Ra
ngel.
Cristhina Rangel
Enviado por Cristhina Rangel em 21/08/2011
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