O lacrador de sacolas
Fim de ano, correria, gente demais nas ruas, tempo escasso. Resolvi entrar no supermercado, mesmo já portando um pacote com quatro pesados livros: dois volumes das “Obras Completas” de Borges, o “Marxismo e filosofia da linguagem”, de Bakhtin e “História do Pensamento Ocidental”, de Bertrand Russel.
Havia um senhor lacrando as sacolas. Coloquei meu embrulho na sacola que ele me oferecia e esta se rompeu, o plástico era muito fino. Então eu olhei para o pacote, lembrei-me do conteúdo e disse, mais para mim mesma:
“São livros; livros são muito pesados”.
E completei para ele:
“É o peso da sabedoria”.
Ele me disse:
“O peso da sabedoria... que bonito! Faz dezesseis anos que trabalho lacrando embrulhos e só agora eu escuto uma coisa tão bonita”.
Nesses milésimos de minuto eu me senti importante, feliz. E a fila crescia atrás de mim. Então eu lhe disse:
“Feliz natal para o senhor!”.
Entrei na loja e fui fazer minhas compras, com a sabedoria devidamente lacrada.