Fome de Amor
Os gritos começaram.
Mais uma vez.
Por quê?
A pergunta ocupa a mente, aperta o coração. Apesar da pouca idade já conhece o amargo sabor da tristeza.
Amor tem fim? Pensava que seus pais se amavam e que o amor entre eles nunca acabaria. Não consegue entender como e qual o motivo de olhares, antes amorosos, agora cheios de ódio. Desistiu de perguntar porque a resposta que ouviu várias vezes o fez silenciar: “Não é da sua conta. Saia daqui!”.
Já aprendeu. Não é necessário que o lembrem. Quando os gritos começam, ele vai para o quarto.
Falam tantas palavras ásperas um para o outro, procuram motivos para acusar e humilhar; envoltos pelo egoísmo de uma subjetividade que ignora o sentimento da criança, preocupados em ferir mais e mais um ao outro, não percebem – e nem poderiam – que o menino volta e meia vai até a cozinha, cata pedacinhos de pão, olha para os pais e volta para o quarto. Coloca com carinho cada pedacinho de pão no parapeito da janela e espera. Como que a sentir a tristeza a ave pousa devagar, olha para o menino e afaga com o bico a migalhinha de pão. Parece perceber que isso faz os olhinhos da criança brilharem e antes de engolir cada pedacinho, como se fosse um ritual, repete tudo outra vez. O menino sente que não está só. Nas migalhas que oferece sente-se protegido e acomodado sob as asas da ave.
Da cozinha vem o som de gritos. O menino sente fome.
Fome de amor.
(Publicado na Coletânea Tudo Num Só - ASES - 2009)
Mais uma vez.
Por quê?
A pergunta ocupa a mente, aperta o coração. Apesar da pouca idade já conhece o amargo sabor da tristeza.
Amor tem fim? Pensava que seus pais se amavam e que o amor entre eles nunca acabaria. Não consegue entender como e qual o motivo de olhares, antes amorosos, agora cheios de ódio. Desistiu de perguntar porque a resposta que ouviu várias vezes o fez silenciar: “Não é da sua conta. Saia daqui!”.
Já aprendeu. Não é necessário que o lembrem. Quando os gritos começam, ele vai para o quarto.
Falam tantas palavras ásperas um para o outro, procuram motivos para acusar e humilhar; envoltos pelo egoísmo de uma subjetividade que ignora o sentimento da criança, preocupados em ferir mais e mais um ao outro, não percebem – e nem poderiam – que o menino volta e meia vai até a cozinha, cata pedacinhos de pão, olha para os pais e volta para o quarto. Coloca com carinho cada pedacinho de pão no parapeito da janela e espera. Como que a sentir a tristeza a ave pousa devagar, olha para o menino e afaga com o bico a migalhinha de pão. Parece perceber que isso faz os olhinhos da criança brilharem e antes de engolir cada pedacinho, como se fosse um ritual, repete tudo outra vez. O menino sente que não está só. Nas migalhas que oferece sente-se protegido e acomodado sob as asas da ave.
Da cozinha vem o som de gritos. O menino sente fome.
Fome de amor.
(Publicado na Coletânea Tudo Num Só - ASES - 2009)