Primeiro dia no internato

Seus pais decidiram voltar para São Paulo, a filha mais nova precisava de uma cirurgia, a única opção era trabalhar em São Paulo, e para isso era necessário distribuir os três filhos.

O menino ficou com a avó paterna e quando chegasse o período de aulas iria ficar com uma tia na cidade. O bebê que precisava de cuidados ficou com a avó materna, que era apaixonada pela menina e dava uma atenção especial. E Nai, então com nove anos, iria para o internado com uma tia freira.

Nai não tinha noção do que era internato, ficou feliz em ir para escola, a única escola que conhecera era a que sua mãe era a professora. Tudo era novidade.

A viagem foi longa, dois dias, enjoo muito, tentava dormir o tempo todo para que ao acordar já estivessem chegado. Antes de chegar, sua tia fez uma parada na cidade vizinha a do internato, e na casa visitada tinha uma televisão, que Nai não chegou a ver ligada, mas que se encantou com a possibilidade.

Continuaram a viagem. Chegando ao internato Nai foi apresentada a diretora, que a levou para conhecer o lugar. Nai estava eufórica, o banho era de chuveiro (frio, mas não mais de bacião rs), a água saia de torneiras, tinha luz, o colégio era imenso, os quartos eram grandes também, ela ia ter uma cama de verdade só sua (o que ela só tinha quando ia pra casa da Vovô Ana), e tinha também a mesinha que era uma espécie de armário miniatura para guardar suas coisas (que não eram muitas – cabia tudo ali). Não tinha TV, mas ela não se importou.

Sua tia a deixou sob os cuidados da diretora e foi para casa. Nai então ficou sozinha, as demais internas estavam em horário de aula, e ela ficou sem o que fazer. Saiu andando, explorando o lugar, se afastou um pouco do colégio, viu um portão que dava acesso a um quintal cheio de arvores, tinha pé de manga, siriguela, laranja, carambola (esta ela conheceu durante a viagem)... um paraíso para uma criança do sertão, onde a arvore que realmente dava fruto era o umbuzeiro.

Ela entrou, começou a fazer suas descobertas e depois de algumas horas foi encontrada pela cozinheira do dono da casa. Nai contou que era recém-chegada ao internato e a boa mulher lhe deu suco e um pedaço de bolo que acabara de fazer, e Nai sentou no alpendre sentindo-se uma princesa, estava feliz.

Era finalzinho da tarde, já escurecendo, quando o dono da casa chegou, era o padre da paróquia e responsável pelo internato. Ele ficou surpreso e divertido com o que estava acontecendo. Nai não sabia das regras do internato que teria que seguir dali em diante, uma delas era que não podia sair sem autorização e sem a companhia de um adulto. Isso era muito esquisito, pensou Nai, inimaginável, ela sempre fora livre, muitas vezes só aparecia para as refeições, quando ouvia sua mãe gritar seu nome.

Quando voltou para o internato, tomou bronca da diretora, que estava preocupada e envergonhada por perder a interna nova. Conheceu as colegas de quarto, que estavam ansiosas por sua chegada, todas falavam ao mesmo tempo, tinham muitas perguntas, muitas estórias pra contar. E foi assim seu primeiro dia no internato.

Nai estava feliz, achava estranho não sentir saudades, estava encantada e adorava as novidades, não via a hora de amanhecer e ter o seu primeiro dia de aula...mas aí já é outra história.