O CORTE DE CABELO
Sou a mais velha de quatro irmãos, então tenho muitas estórias da nossa infância.
Morávamos em um povoado muito pobre no sertão da Bahia, não tinha água, não tinha luz, não tinha escola, faltava muita coisa, mas não faltava imaginação.
O destino das pessoas daquela região era tentar a vida em São Paulo, foi isso que meus pais fizeram. Minha mãe foi primeiro e deixou meu irmão e eu (na época éramos só dois) com meu pai. Este antes de viajar para encontrar com minha mãe, levou os dois filhos para ficar com os avós maternos. Eu adorava a casa de Vovó Felizana e Vovô Aristides, la eu reinava.
Antes de viajar meu pai fez as recomendações e comentou com minha Vó que o cabelo do meu irmão estava muito grande, que deixava ele amarelo, anêmico (rs)
Foi a deixa.
Peguei uma tesoura de costura e chamei meu irmão. De imediato ele não quis acordo, tive que fazer muitas promessas, muita chantagem emocional para convencê-lo me deixar cortar seus belos cachos. Que eram belos mesmo, parecia um anjo barroco.
Depois do trabalho feito, fui feliz da vida mostrar o meu feito, nossa avó tomou um susto, me deu uma bronca e um castigo (que não lembro qual foi, pois ela sempre perdoava nossas peraltices).
Até hoje, todos que tiveram a oportunidade de ver o belo corte de cabelo que fiz em meu irmão, dizem que ficou horrível cheio de buracos, mas na minha lembrança não é assim. Lembro que cortei bem chanel, sem um “buraco” ou ponta, foi corte mais perfeito que existiu naquelas bandas.