Entrevista com uma puta
Sentei frente a ela. A casa somente iria abrir em duas horas, mas algumas meninas já começavam a chegar. Ruidosas, roupas provocantes, observavam-me com curiosidade. Nenhuma me despertou interesse nenhum. Estavam gastas demais, mesmo as mais jovens.
Minha entrevistada deveria ter ao redor dos 40, mas com aparência de dez anos a mais. O cabelo vermelho manchado não era muito bem cuidado e as unhas da mesma cor estavam descascando. Ela pouco parecia se importar com isto, enquanto me encarava soltando longas baforadas de um cigarro fedido.
- Uma entrevista, então? - ela não parecia muito paciente.
- É, sabe como é… prometo não tomar muito tempo da senhora. Tenho um trabalho na faculdade e…
- Você cursa o quê? Jornalismo?
- Sociologia.
- Nunca pensei que seria assunto para trabalhos acadêmicos - concluiu a mulher, suspirando - Bem, o que você quer saber?
- Quando começou nesta vida? - resolvi perguntar direto, sem dar chance para o meu constrangimento avançar.
- Desde sempre -ela respondeu, sem rodeios - Acho que sou puta de nascença. Começou com meu pai. Ele me pegava desde os cinco anos. Virou rotina. Eu achava que era normal.
- Mas… e a sua mãe?
- Mãe? - ela riu, amarga - Vivia bêbada. Não estava nem aí. Depois do meu pai, vieram meus dois irmãos.
Eu escrevia rapidamente, tentando me manter neutro.
- O que mais você quer saber?
- Eu… quando a senhora começou a ganhar dinheiro vendendo seu corpo?
- Pouco dinheiro, você quer dizer. Bem, comecei a me prostituir aos doze anos, em troca de um prato de comida. Depois, engravidei de um cliente. Parei por um tempo, o infeliz me sustentou... Mas não me tirou da vida. Ele caiu fora e eu voltei para as ruas. Tinha um filho para criar.
- E doenças? Pegou alguma?
- Ih, várias - ela falava tão natural sobre aquilo que, aos poucos, fui ficando mais relaxado - Depois comecei a usar camisinha. Mas isto foi só depois do meu terceiro filho. Minhas meninas são obrigadas a usar preservativo aqui na casa. Se alguma engravidar ou arranjar uma pereba, que assuma a responsabilidade.
- E a senhora ainda… se prostitui? Ou só gerencia o negócio?
Ela chegou mais para frente e me sorriu, tentando ser sedutora.
- Meu querido, eu tenho meus clientes preferenciais. Alguns deles só querem a mim. Preferem este corpinho aqui a minhas meninas mais fresquinhas. Sabe o motivo? Porque eu sei mexer direitinho.
- Já deu para fazer um pé de meia?
- Só me preocupo em criar os meus meninos. Eles já têm idade para trabalhar agora. Se viram, põe comida dentro de casa. Então consigo guardar mais um pouco. Ainda bem que não tive filha mulher. Concorrência dentro de casa não.
- E seus filhos aceitam seu trabalho?
- E eles têm alternativa? É aceitar ou aceitar. E se você quiser saber o que eu penso realmente, meu anjinho, eu vou lhe dizer. Anota aí. Sou puta e não tenho vergonha de dizer isto. Alguns usam a força do intelecto para ganhar grana. Outros usam o trabalho braçal. Eu uso meu corpo. Simples assim. Simples e algumas vezes muito gostoso. Quando eu não conseguir mais dar conta, só vou ficar gerenciando, quieta no meu canto. Mas enquanto o que eu tenho no meio das pernas fizer meus homens felizes, vou estar na ativa. Gosto de sexo. Sempre vou gostar.
Ela fez uma pausa, me encarou e perguntou:
- Você não?
Levei um susto.
- Eu o quê?
- Você gosta de sexo?
- Ora, quem não gosta? - senti meu rosto arder.
- Tem muita gente que não gosta. Mas você gosta, então? Quanto, numa escala de zero a cem?
- Cem - respondi. Será que ela estava dando em cima de mim?
- Sabe que você é um garoto muito simpático? Qual sua idade?
- Eu… fiz vinte e três.
- Ora, tem muita coisa a aprender.
Ela falou com tal desdém que mexeu com meus brios. Eu retruquei, rapidamente:
- Não é isto que falam minhas namoradas.
- Então você é expert no sexo? Sabe tudo?
Eu comecei a me excitar e aquilo me incomodou.
- Eu vim aqui para entrevistar a senhora e não…
- Qual o seu medo? - ela me fuzilou com seus olhos negros.
- Medo? - eu ri, sem vontade nenhuma - Não tenho medo de nada.
- Quer uma aula de sexo? Vamos lá em cima, a casa ainda vai demorar a abrir.
Confesso que fiquei de pau duro. A aparência daquela mulher não me excitava em nada, muito pelo contrário. Porém, seus olhos eram hipnotizadores e a voz rouca do cigarro me estontearam. O perfume barato dela me envolveu quando ela se inclinou para frente e apertou minha mão.
- De vez em quando eu adoro chupar um franguinho. Carne nova, sabe?
Droga. Lembrei da noite passada e do corpo branco e macio da Paulinha. Lembrei também que minha atual ficante era tão bobinha que nem sexo oral quisera fazer em mim. Era nojento, segundo ela.
Saí de lá quando a casa abriu. Guardei minhas anotações dentro da pasta quando eu já estava sentado no ônibus, relembrando do sexo selvagem que acabara de fazer. Saciado? Não, eu não estava. Eu queria mais.