O sentido da vida.

-Qual o sentido da vida? - perguntou-se Rômulo, enquanto caminhava, como fazia todo dia pela manhã: saía de sua casa, andava por dois quilômetros até a padaria, e depois voltava.

Enquanto caminhava, metido em sua camiseta regata branca e sua bermuda azul-escura, com seus tênis cinza e laranja, passou por uma senhora, que empurrava um carrinho de bebê, entrando numa praça.

-Ah, a beleza de nascer. O nascituro é tão importante que o seu nascimento é o segundo maior período por que uma mãe deixa de trabalhar, atrás apenas do câncer. O bebê tem atenção a hora que quiser, mal começa a chorar, e já é acalentado nos ternos braços da mãe, em abraços de amor. Noites sem dormir em razão única daquela vida que surge, que brotou dos laços de amor entre pai e mãe. Ser recém-nascido é bom, é ser amado, é ser cuidado.

O neném passou, e sorriu para Rômulo, ou este imaginou isso, mas seguiu, com a alma mais leve, só de pensar no milagre da vida.

Logo em frente à entrada da praça havia um parque, crianças no balanço, para lá e para cá, na gangorra, no trepa-trepa, no escorregador, descendo e escalando-o, fazendo mil coisas que só a imaginação infantil permite.

-Há quanto tempo fui criança?, fazendo tudo que minha imaginação permitia!, quando ainda não havia a responsabilidade, quando os dias eram repletos de diversão, jogar bola, bolinha de gude, rodar peão, soltar pipa; e cinco minutos era muito tempo. Cada dia era um dia novo, repleto de desconhecido, inexplorado; cada dia era diferente do outro, não havia rotina, não havia trabalho, não havia correria, não havia nada, a não ser fantasia..., doces sonhos de criança.

As crianças foram ficando para trás, aquele mundo de imaginação foi deixado de lado para dar espaço ao resto da praça, onde jovens andavam de skate, jogavam cartas, ou apenas conversavam ou namoravam.

-Como é gostosa a adolescência, período de transição entre a infância e a maturidade, ffase de novas sensações, experiências. Época de descobrir mais sobre si, de abrir os olhos para a vida. Idade das contradições: a responsabildade da vida, e a irresponsabilidade da infância; a rotina, e as descobertas e novidades; um corpo de adulto numa mente de criança. Os jovens querem deixar de ser crianças, não aceitando a sua real idade, e acabam jogando fora essa parte tão bela da vida, tão importante quanto as outras, tão dependente das outras, e relacionada com elas, mas tão distinta e especial.

Seguindo pela praça estavam os pais das crianças do parque, sentados em bancos, olhando as crianças.

-A fase adulta, independência e responsabilidade. O prazer de ser útil à sociedade e, se não puder tornar o mundo um lugar melhor, pelo menos fazê-lo com sua casa. Lutar pela sobrevivência, ganhar o próprio dinheiro, casar, ter filhos, cuidar deles... se estressar durante a semana, mas chegar ao final dela com a sensação de dever feito. Independência é a palavra-chave para o progresso, cuidar de si mesmo, cuidar dos outros, e da pessoa amada. Mas ser cuidado não é o fim da independência, o homem independente não é um homem solitário, mas sim um homem responsável, completo.

No outro lado do parque havia um casa de velhinhos dando comida aos pombos, serenos, felizes:

-A velhice, o maior bem que alguém pode ter, o de chegar à terceira idade com saúde, de envelhecer ao lado da pessoa amada, de encher o peito e dizer: “vivi bem a minha vida, com honestidade, valores, felicidade e amor.” Idade dos sábios, que já viveram muito e têm muito para ensinar; dos que olham para os mais jovens, e sorriem: “Tomara que eles cheguem até a velhice como eu, e tenham uma vida boa como a minha.”

Rômulo continuou sua caminhada até a padaria, e comprou uma água de coco. No caminho de volta, passou pelo casal de velhos, pelos pais das crianças, pelos adolescentes, pelas crianças, e pelo bebê no carrinho. Saiu da praça bebendo sua água e foi para casa. Quando chegou lá, olhou para seu cachorro, e disse:

-Bom dia, Faraó. Agora já estou melhor, já entendi o sentido da vida. E você?