Sala de espera

Minha espinha doendo de tanto eu fuxicar por tédio e ansiedade para que as horas passem rápidas na sala de espera, ela ali plantada na minha cara como minha única diversão no momento e antes era o meu monstro que me apavorava a me olhar no espelho, talvez sua existência valesse apena, tirou de mim o tédio por minutos que pareciam horas. Perguntava-me se as pessoas que estavam no sofá do lado, simplesmente folhando revistas com um olhar de desinteresse, parecendo obrigadas a folhar, será que o tédio delas era maior ou menor que o meu? Isso de pouco interessava na verdade, mas sempre busco algo para ocupar a mente por mais idiota seja a ocupação. Enquanto minha médica não agilizava o atendimento para ter minha gratidão, a qual ela nem se interessava em ter, cansei da espinha e peguei um chiclete. Olhei mais adiante, uma criança invejando meu chiclete. Ai ela se deitou no chão e se foi para debaixo das cadeiras. Fiquei reparando, ela pegou um daqueles chicletes mastigados colados em baixo dos acentos e começou a mastigar com muito gosto. Parecia nojento, por isso desviei o olhar para a primeira coisa possível. Tinham uns cartazes falando sobre algumas doenças, pareciam informativos importantes, mas ninguém estava interessado. Nem eu, eu queria era ser atendida de uma vez e resolver o meu problema na cabeça. De vez em quando eu perdia a memória totalmente, não sabia quem eu era, o que estava fazendo, etc. Só depois de alguns minutos começava a me lembrar das coisas. Comecei a brincar na minha cabeça com minhas memórias, elas pareciam cenas de filmes fáceis de serem modificadas, o silencio do ambiente fazia com que as imagens viessem mais claramente e me fizesse pensar em várias possibilidades de mudar os fatos, que na verdade não iriam mudar, mas naquele momento mudavam, mas em menos de um segundo tudo sumiu, foi como se eu estivesse sonhando aquelas memórias e acordasse sem precisar abrir os olhos, pois esses nunca haviam se fechado. Não estou mais agüentando ter que esperar, penso até em desistir e voltar depois, mas seria tempo desperdiçado e ainda teria que esperá-los novamente em um novo dia. Pego então uma revista para ver se ela me ajuda a fazer o tempo passar, nada que contem na sala estava ajudando, nem mesmo a revista que escolhi, a capa já revela a decepção que viria a seguir falava sobre tecidos, não queria ver sugestões de tecidos! Isso é chato, a sala é chata, será que nada vai acontecer de interessante? Como abrirem a porta e me chamarem? A porta então se abriu. O paciente pareceu sair um pouco apavorado. Foi com pressa falar com a secretária no balcão. Ela saiu rapidamente com ele, sua cara era de apavoramento. A médica estava passando mal? Que cosia estranha. Enquanto isso, o que me incomodava, era somente o fato de não terem me chamado. Ninguém tinha visto aquela cenas, ou não estavam interessados em conversar sobre, continuavam absorvidos numa leitura invisível, vendo as figurinhas das revistas do ano passado. Dois minutos, cinco e nada daquela porta se abrir novamente. Se abriu. Saiu somente o paciente e se mandou. Não me agüentei e dei uma espiada pela fresta da porta. A secretária e a médica estavam mortas no chão, cheias de sangue, como se estivem sido esfaqueadas.

Gritei: “ELAS ESTÃO MORTAS!”. O pessoal se ligou e correu pra ver. Não bastou um segundo para que todos começassem a entrar num estado de pânico geral. “quem era o paciente?” perguntaram. Pulei pro outro lado da mesa da secretária e dei uma olhada nos nomes. Estava lá. Peguei o telefone para chamar a polícia. Alguém me impediu, segurando meu braço, um senhor um tanto quanto franzino, eu mesmo poderia empurrá-lo metros adiante sem muita força. “Que foi? Foi ligar pra polícia, não está vendo?”, falei. As pessoas não concordaram umas senhoras já estavam mexendo nos corpos e passando paninhos para limpar o sangue. Eu disse: “Estão loucos? Não podem mexer nesses corpos até a perícia chegar”. Não adiantou, todos estavam desorientados, uns dois desmaiados e as senhoras seguiam achando que limpando o sangue resolveria alguma coisa. A criança relaxada seguia mastigando seu chiclete, sem entender muito o que estava acontecendo, o que para ela não parecia nada diferente de alguns filmes que tinha visto na sua árdua infância. Entre aquele bando de malucos, só poderia fazer uma coisa: sair para a rua e chamar a polícia com o meu celular. Desci as escadas que davam para a rua, mas fui surpreendida pelo paciente assassino que esperava embaixo das escadas. Ele me pegou numa gravata e fiquei meio impassibilizada. Fiquei tentando ver se conseguiria acertar um chute no saco, mas vi que não daria certo.

Ele estava com uma faca no meu pescoço e me disse: “Eu vi tudo que fez, era para ter ficado quietinha, coloquei os recados, pra todo mundo ficar quietinho caso vissem algo estranho acontecer. Estava lá em todas as revistas, por que desrespeitou meus recados?”. Merda também, logo onde ele foi colocar os recados. Tentei me explicar dizendo que não lia revistas e que todos, mesmo com os recados, entraram em pânico quando viram os assassinados. Foi aí que ele deu um vacilo e eu, não sei até hoje como, mas consegui me virar e empurrar aquela faca para dentro da barriga dele. Estava morto.

Subi as escadas com o corpo do assassino e o coloquei juntos com suas

Vítimas, lá no consultório. Eu era como ele uma assassina, algo impressionante, legítima defesa seria, teria várias testemunhas, mas aquelas pessoas eram impressionadas demais, começou a me dar medo. Não havia nem motivos de levar o cara lá pra cima. Ai aproveite e disse para aquele povo todo: “lembrem-se de ficar quietinhos, heim... mas em todo caso, ele se matou”. Desci as escadas e quando cheguei na rua movimentada, me deu um branco. Agora que recuperei a memória, acordo aqui nesta cama, muita gente estranha, mas parece que finalmente estou sendo atendida pelos médicos sem esperar numa fila.

Shauldin e Dollee
Enviado por Shauldin em 15/08/2011
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