NÃO ABRA A PORTA! 

 Com a velocidade das mudanças e inversões de valores éticos, morais e religiosos acabamos por nos deparar com situações inusitadas que fogem a compreensão, ou diria, a ordem , natural, dos acontecimentos.
Numa daquelas noites, já previsíveis num bairro qualquer carioca, após o jantar, Marisa e Carlos ouvem os disparos bem próximos a sua residência. O que antes era motivo para muito alarde, agora apenas era apenas tomar algumas precauções e agradecer a Deus por já estarem todos em casa.
Não demorava muito, talvez continuasse pela madrugada, mas naquela noite algo curioso aconteceu.
Na perseguição entre a polícia e bandidos, um jovem ficou mortalmente ferido bem enfrente ao portão de Marisa e Carlos. A rua já estava em silêncio e nenhum morador ainda não ousava sair de suas casas, pois ainda podia ouvir disparos.
Mas u m som era ouvido,o choro e o lamento do rapaz deitado ali no chão a beira da morte, pedindo socorro. Entre os seus gemidos, ele dizia sentir frio.
Num impulso Marisa quis sair e olhar o rapaz, Carlos, rapidamente segurou a mulher:
-Não abra a porta!
Tudo se passou em poucos instantes que nem Marisa poderia explicar suas atitudes. Foi até o quarto, do armário tirou um lençol, abriu a porta da sala, e pelo portão, vista por alguns vizinhos que já começavam a sair de suas casas, cobriu o corpo todo ensangüentado do rapaz que tinha nos olhos o horror estampado, de dor e desespero.
Logo um carro da polícia passou e recolheu o corpo do rapaz como um saco de lixo qualquer!
Madrugada movimentada com mais disparos. Depos uma noite de sono tranqüilo, e uma nova manha de volta a rotina diária e uma história que movimentou o bairro por alguns dias.
Passados alguns meses, num caloroso domingo, Marisa e Carlos, almoço em família, a casa cheia de gente, alguém bate palmas no portão e chama:
- Tia, Tia!
Marisa olha pela janela da sala, não reconhece o rapaz bem vestido com um sorriso nos lábios, Carlos olha:
_ Abre a porta, mulher, vai logo ver quem é!
Marisa chega ao portão sorrindo para atender ao jovem de bermunda e um blusão solto no corpo, tênis novo, cordão luzindo no pescoso.
- Tia, minha mãe mandou que eu viesse trazer de volta o lençol que a senhora me emprestou e agradecer! Esta lavado e passado!Retiraram nove balas do meu corpo, mas escapei desta! Tô de volta na pista! Valeu mesmo!
E com o mesmo sorriso se afastou. Marisa fechou o portão, entrou e fechou a porta.
Lá fora continuava tudo a mesma coisa! O caos e calor da cidade.
Marisa ainda pensou em perguntar ao marido o que faria com o o lençol. Mas apenas o guardou de volta no armário!
 


Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 15/08/2011
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