O Estudo Secreto de Evan

Evan trabalhava numa fábrica de alfinetes. Todos os dias ele e mais três rapazes cuidavam da manutenção de dezenas de maquinas, das sete horas da manhã às seis da tarde. Com folga de uma hora para o almoço. Formavam uma equipe Evan de rapazes praticamente da mesma idade. Sendo que o mais velho e com mais tempo de casa era o encarregado de “vigiar” o comportamento dos colegas. Entre eles, Tonico, o mais brincalhão de todos.

Às sete horas da manhã, quando tocava o apito da fábrica, eles deviam entrar nos banheiros, vestir cada qual sua roupa de trabalho e entrar no pavilhão onde se encontravam as máquinas que administravam durante o dia inteiro.

Ali, eles deviam ligar as máquinas e observar o funcionamento delas. Verificar se acabou o arame e colocar outro rolo. Às vezes as máquinas se engasgavam com o arame e ficavam paradas fazendo um barulho esquisito que chamava a atenção da chefia. Quando um dos rapazes corria até ela e a desligava rapidamente.

Era esse o serviço que Evan fazia todos os dias. Secretamente, pensava em sair da fábrica, pois já estava cansado dessa mesma rotina todos os dias, em troca de um salário mínimo mensal, menos o desconto do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), que lhe garantiria a aposentadoria quando estivesse velho.

Aos vinte anos de idade, tudo que um rapaz que quer vencer na vida deve fazer é gastar ao menos um pouquinho do dinheiro que ganha em cursos de aprendizagem para conseguir novos empregos. Mais rendosos e mais fáceis de executar tarefas diárias.

Pois Evan, decidido a mudar de vida, entrou mais que depressa num curso de datilografia. Lá, sentou-se pela primeira vez diante de uma máquina de escrever e sorriu, por estar novamente diante de uma máquina. Se bem que a de escrever fosse muito diferente da que pilotava para fabricar alfinetes.

Decidido a encontrar um emprego em escritório, seguiu as lições da professora Denise com dedicação e carinho. Seguia sem pestanejar a orientação da mestra digitando o conhecido “asdfg hjklç”. Nas primeiras lições essa atividade lhe parecia uma brincadeira de criança. Mas depois, começou a sentir-se entediado. Principalmente ao chegar à escola no segundo dia e descobrir que precisava repetir os mesmos exercícios do dia anterior.

- “De novo!”, ele se perguntou. “Até quando repetirei isso?” Calma, Evan, ele mesmo disse mentalmente a si próprio. Você está aqui por que quer mudar de vida, lembra-se? Sim, ele se lembrava muito bem desse fato. Estava ali para aprender a técnica de escrever palavras em formato tipográfico, com a ajuda da barulhenta máquina de escrever. Máquina? Sempre máquina! Máquina lá na fábrica, máquina na escola.

- “Em vez de reclamar, Evan, dedique seu potencial no aprendizado da técnica de escrever à máquina. Lembre-se de que a decisão de estudar datilografia para conseguir emprego em escritório é sua e de mais ninguém”, ouviu a voz bem lá dentro da sua mente dizer isso. Sim eu lembro, dizia ele para ele próprio, sempre em pensamentos vagos. Mas poderia ser mais fácil ganhar dinheiro para a manutenção da vida. “Não existe método para ganhar dinheiro que seja fácil, Evan”, seu pai sempre lhe dizia. “A não ser que seja empurrando bêbado na ladeira.” Rsrs!

No terceiro dia de aula Evan conheceu o esposo da professora Denise, professor de datilografia também, e este lhe deu novo exercício. Ah, agora sim! Evan suspirou; pelo menos agora eu saio do cansativo “asdfg hjklç”.

O que ele queria e bem depressa era aprender a escrever palavras, como as do seu próprio nome, ou uma frase contendo declaração de amor a Marcinha, garota que amava muito.

Sob o comando do professor Aldo, esposo da professora Denise, ele passou a digitar as letras da parte de cima do teclado, as conhecidas e também famosas “qwert yuiop”. Letras do lado esquerdo do teclado com os dedos da mão esquerda. Letras do lado direito do teclado com os dedos da mão direita.

Na fábrica, Evan decidiu que não contaria aos colegas que fazia curso de datilografia à noite, numa escola não muito longe dali. Os colegas poderiam rir dele, pois diziam que escrever à máquina é atividade de moças. “Homem que é homem precisa ganhar dinheiro trabalhando no pesado”, diziam. “Derramando suor no rosto.” Talvez pensassem isso porque as datilógrafas da fábrica fossem mulheres e não homens.

Por isso Evan decidiu não contar nada a eles.