O MEIO DO HOMEM

Terezinha Pereira

O homem alto deitou-se no chão. Numa praça. Bem no centro da cidade. Fechou os olhos. Sentia fugir-lhe o ar. Sentia que ocupava o espaço do ar, um ar seco e denso. Quase podia pegá-lo.

Onde estão as árvores?

O homem ouvia o ruído da pouca água do rio que corre perto daquela praça. Água que, algum dia, fora incolor. Sem cheiro. Com sabor de água. Hoje, essa água corre cor de ferrugem, cheiro de enxofre, com gosto de muita coisa, menos de água. Corre pela cidade quase em silêncio. O homem já viu peixes nadando naquele rio. Peixes alegres. Cardumes inteiros nadando, pra lá e pra cá.

Para onde foram os peixes?

O homem abre os olhos. "Havia uma montanha bem ali na frente. Montanha de ferro."

Para onde levaram a montanha?

Buzinas. Arranques de veículos. Apitos. Veículos da mídia ambulante: -Olha a uva do sul!

-Abacaxi, abacaxi massa amarela.

-Os melhores móveis de jacarandá-da-baía, você compra nas Lojas do Pedro!

-Jacarandá? Ainda existe? Cerejeira? Sucupira? Mogno? Uva e abacaxi têm gosto de mofo. Bom seria para o homem alto, que colocasse um algodão no ouvido para ficar na saudade até do cocô de passarinho, que algum tempo atrás, sujava toda aquela praça.

Para onde foram os passarinhos?

O homem alto levanta-se. Parece sentir-se mais alto ainda. Cabeça bem distante dos pés. Olha a seu redor. Vê a poeira avermelhada que cobre os telhados das casas. Vê um restinho de grama no jardim que-já-foi-verde.

E eu? Para onde vou?

Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 06/07/2005
Código do texto: T31576