O olhar de meu pai
Nos finais de tarde, após ajudar nas lides da lavoura eu e meu irmão costumávamos jogar bola no pátio. Aquele era o sagrado momento do descanso. Meus pais tomavam chimarrão na varanda e nós jogávamos bola. Depois de algum tempo minha mãe ia para a cozinha preparar o jantar e meu pai ficava na varanda tomando chimarrão e com o olhar voltado para o céu.
Entre uma jogada e outra eu o observava. E me intrigava aquela imagem.
– Está cansado pai? – perguntava. Ele respondia que não.
“Se não está cansado, então será que está triste?”, eu pensava.
- Pai, o senhor viu a jogada que eu fiz? – eu gritava do campinho improvisado. Ele acenava positivamente com a cabeça e eu continuava a jogar.
Não era de muita conversa, mas era um pai carinhoso, dizia que nos amava não com palavras, mas com o abraço e o afago antes de irmos dormir.
– Vão dormir, amanhã é dia de aula – dizia enquanto afagava meu ombro com a mão calejada.
Lembro que sentia felicidade, meu pai era um homem bom e nos amava. No entanto, o olhar dele voltado para o céu enquanto tomava chimarrão em silêncio nos finais de tarde, me intrigava. “Um dia vou perguntar por que ele fica assim”, pensava.
Eu não tinha coragem de perguntar, não por medo, mas sentia que não devia interrompê-lo. E assim passei a minha infância.
Passados alguns anos, num final de tarde estávamos eu e meu pai, já com 80 anos, tomando chimarrão na mesma varanda, enquanto meus filhos jogavam bola no pátio.
– Vô, o senhor viu a jogada bonita que eu fiz? – gritou, meu filho mais novo. Meu pai sorriu e fez um sinal positivo com a cabeça. A frase fez-me voltar à infância. Olhei para meu pai e perguntei:
– Pai, o senhor se lembra de quando eu e o Marcos jogávamos bola nos finais de tarde?
– Sim, me lembro – ele respondeu.
– Sempre tive curiosidade em saber por que o senhor tomava chimarrão e ficava a olhar para o céu.
– Eu agradecia ao Criador a bênção de nos ter concedido mais um dia e pedia uma boa colheita – respondeu, olhando para o céu. Naquele dia abracei meu pai como nunca o havia abraçado.
Publicado na Coletanea Terra, Grãos e Pespectivas (ASES - Associação Santa-rosense de Escritores)
Nos finais de tarde, após ajudar nas lides da lavoura eu e meu irmão costumávamos jogar bola no pátio. Aquele era o sagrado momento do descanso. Meus pais tomavam chimarrão na varanda e nós jogávamos bola. Depois de algum tempo minha mãe ia para a cozinha preparar o jantar e meu pai ficava na varanda tomando chimarrão e com o olhar voltado para o céu.
Entre uma jogada e outra eu o observava. E me intrigava aquela imagem.
– Está cansado pai? – perguntava. Ele respondia que não.
“Se não está cansado, então será que está triste?”, eu pensava.
- Pai, o senhor viu a jogada que eu fiz? – eu gritava do campinho improvisado. Ele acenava positivamente com a cabeça e eu continuava a jogar.
Não era de muita conversa, mas era um pai carinhoso, dizia que nos amava não com palavras, mas com o abraço e o afago antes de irmos dormir.
– Vão dormir, amanhã é dia de aula – dizia enquanto afagava meu ombro com a mão calejada.
Lembro que sentia felicidade, meu pai era um homem bom e nos amava. No entanto, o olhar dele voltado para o céu enquanto tomava chimarrão em silêncio nos finais de tarde, me intrigava. “Um dia vou perguntar por que ele fica assim”, pensava.
Eu não tinha coragem de perguntar, não por medo, mas sentia que não devia interrompê-lo. E assim passei a minha infância.
Passados alguns anos, num final de tarde estávamos eu e meu pai, já com 80 anos, tomando chimarrão na mesma varanda, enquanto meus filhos jogavam bola no pátio.
– Vô, o senhor viu a jogada bonita que eu fiz? – gritou, meu filho mais novo. Meu pai sorriu e fez um sinal positivo com a cabeça. A frase fez-me voltar à infância. Olhei para meu pai e perguntei:
– Pai, o senhor se lembra de quando eu e o Marcos jogávamos bola nos finais de tarde?
– Sim, me lembro – ele respondeu.
– Sempre tive curiosidade em saber por que o senhor tomava chimarrão e ficava a olhar para o céu.
– Eu agradecia ao Criador a bênção de nos ter concedido mais um dia e pedia uma boa colheita – respondeu, olhando para o céu. Naquele dia abracei meu pai como nunca o havia abraçado.
Publicado na Coletanea Terra, Grãos e Pespectivas (ASES - Associação Santa-rosense de Escritores)