A Saga de Valdirizinho - A maleta misteriosa

Nascido na comunidade de Vila Doze, o menino Valdirizinho não era muito diferente dos amigos. Brincava, jogava bola e soltava pipa. Da laje da sua casa podia observar o mar. Isto o deixava muito feliz e ao mesmo tempo assustado: “se toda essa água resolvesse entrar de uma só vez?”. E o moleque era esperto. De manhã ia lá embaixo no Seu Jorge buscar pão para mãe. Voltava na “carcunda” do Valdo, um pedreiro e antigo morador, amigo da família.

Os dias passavam assim. Até que Valdirizinho encontrou uma maleta. Pois é, certo dia no calçadão de Copa, passeando. Olhou para frente, ninguém parecia dar falta da maleta. Atrás dele vinham algumas pessoas caminhando e fazendo exercícios. Parecia não pertencer a ninguém o objeto encontrado. Um diabinho apareceu para Valdirizinho: “Vamos menino! Pegue logo essa mala e corre pra favela!”. Mas, teimoso, ficou do lado dela. Esperou um tempo, olhando para os lados. Catou a maleta e saiu correndo feito doido. Pulou por cima do banco, esbarrou na moça que vinha na ciclovia, tirou fino do ônibus ao atravessar a rua... Acabou do outro lado a duas quadras da comunidade.

A porta do barraco bateu forte. Valdirizinho estava afoito. Respirava com dificuldade. Num arremate tentou abrir a mala. Nada. Tinham uns números esquisitos numa rodinha de metal. Troço estranho. Abriu a gaveta da cozinha, viu a faca... Quase cortou o dedo duas vezes e abandonou a idéia. Parou e pensou.

Bateram na porta! Descobriram o pivete! Escondeu-se embaixo da cama. Escutou a voz do irmão mais velho. Mas tinha mais alguém com ele. Saiu, pegou a mala e a jogou pela janela. Alguém gritou lá fora, xingando porque quase acertaram uma mala na sua cabeça. A batida foi mais forte na porta. Valdirizinho abriu.

Assim que o irmão terminou de falar o moleque deu um jeito de ir lá fora. A mala estava no chão. Chegando mais perto dela... Estava aberta. O impacto deve ter dado um solavanco nas trancas. Com o canto dos olhos vasculhou o lugar. Agachou-se perto da mala e a abriu. Finalmente.

Dentro da mala havia muitos papéis e um pouco de dinheiro. Valdirizinho deixou tudo ali mesmo, dentro da mala, e a levou para dentro do barraco de novo. Lá dentro, o irmão que conversava com a namorada foi surpreendido pelo caçula e pediu para ver o que era. Abriu, deu uma olhada nos papéis... Falou pro moleque:

- Zinho, isso é de alguém importante, ta dizendo aqui ‘Ministério dos Transportes’.

- Ué, mas e daí? Isso tava lá no calçadão, tinha ninguém perto.

- Mas é importante Zinho, vou mandar pro João, que trabalha no jornal. O dinheiro fica pra você, vai comprar pipa.

Deu um tapa no cangote do pivete e saiu com os papéis e a namorada.

Valdirizinho acompanhou o casal, fechou a porta. Olhou pro céu e viu o malabarismo das pipas. Entusiasmado, saltou e subiu correndo as escadarias em direção a mercearia, onde compraria mais pipas. E a tarde iria transcorrer como qualquer outra tarde...

E o João aproveitou mesmo os papéis. No dia seguinte na capa do jornal estava estampado: “Em visita ao Rio de Janeiro, senadores planejavam indicar o nome de Cesare Battisti para o Ministério dos Transportes”. Deu-se um furo de reportagem.

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