'' EU MENINA.....

                              no fundo do quintal me escondia, subia naquela goiabeira frondosa que meu avô tinha plantado quando ele ainda era um ''moleque de calças curtas ''.

                              E ele me contava que tinha encontrado aquela muda lá na beira do rio Jaguari quando por lá vivia pescando lambaris e ele desconfiava que ela, a goiabeira , havia sido   plantada por algum passarinho que comendo da linda, gostosa,  deliciosa goiaba da'' árvore mãe'' tinha engolido a semente e depois havia '' cagado'' por lá na beira do rio e minha avó ralhando com ele por dizer a palavra...

                              '' Cagado '', grande coisa!! pensava eu, eu sabia o que significava e sabia tambem muito mais do que minha avó achava que eu sabia, mas meu avô sabia e nem se importava, e quando ele tinha que dizer algum palavrão dizia em alto e bom som, mas ensinava aos filhos e depois aos netos isto não fazer..

                              E ele a goiabeira plantou lá no fundo da chácara e cuidou dela anos e anos, e esperava agora o primeiro fruto aparecer, ele gostava da goiaba branca, queria que fosse da branca, não foi, foi da vermelha côr da paixão, ele ficou chateado mas minha avó que era amiga da irmã dele veio um dia e colheu a primeira goiaba vermelha, ela amou e meu avô amou-a na hora e a goiabeira tambem, cuidava melhor ainda depois que minha avó conheceu e quando se casaram aquela árvore passou a ser o lugar preferido deles.

                               Meu avô colocou uma mesa grande e bancos embaixo da goiabeira e era ali que as grandes festas e reuniões da familia acontecia, de um lado, que do outro lado colocou balanços para os filhos e depois para os mais queridos de todos, os netos e netas....

                                Eu nasci e cresci na mesma casa que meu avô nasceu, cresceu, viveu e morreu e quando minha avó tambem faleceu os filhos dividiram a chácara e a parte que coube para meu tio, irmão de minha mãe, continha a linda goiabeira de frutas doces e vermelhas e anos depois quando ele faleceu a familia dele resolveu e vendeu aquela parte, grande, do quintal, a cidade crescia, a casa ficava na esquina e aquela parte do terreno tinha ''face'' para duas ruas e valia um bom dinheiro, foi dividido em dois bons terrenos,  e o novo proprietário, o da direita, para fazer sua casa teve que por abaixo a goiabeira, foi em um fim de semana, eu fiquei sabendo e sai na sexta e so´voltei na segunda pela manhã e quando vi o ''buraco'' deixado pela ausência da goiabeira sentei na escadinha do fundo do meu quintal e chorei.

                          Eu mulher crescida chorando feito menina desamparada e tudo pela saudades que eu senti de tudo naquela hora...tudo em nome do progresso desvairado e da ganância desenfreada...a vida é assim mesmo, não ande, corra, o tempo é curto, a vida passa rápida..ontem eu tinha vinte, hoje tenho mais de quarenta quase cincoenta....

                          Cruz credo, pensei, levantei correndo e fui tomar um gole do vinho chapinha...saúde!!!

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 10/08/2011
Reeditado em 10/08/2011
Código do texto: T3150553
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