O Pequeno Vagabundo
Zé Timbé tinha só sete anos quando foi para a diretoria da escola pela primeira vez. Ele aprontara novamente, chutando a bola e quebrando a vidraça da sala de aula. Dona Célia, a diretora tentou novamente chamar a mãe na escola, mas a pobre tinha problemas de varizes e mal podia andar.
Zé Timbé era menino pobre, morador da favela do Jacú. Filho de dona Maria e mais ninguém, pois o pai nunca apareceu para dar as caras.
Zé e mais onze, isso mesmo, onze irmãos viviam na mais intensa pobreza. Faltava dinheiro pra tudo e leite não tinha nem de domingo.
No meio da sujeira e do esgoto a céu aberto, Zé Timbé cresceu e não faltava um dia sequer no campinho da várzea pra jogar futebol. Moleque mirrado, fraquinho mas que sabia chutar forte. Aliás, chutava com os dois pés e isso chamou a atenção do Seu Rodolfo, um homem negro e forte, com setenta anos de idade e um vigor de dar invejá a muito garotão.
Seu Rodolfo levou Zé Timbé pra tentar entrar no time de base da cidade. O pobrezinho não foi aceito por ser magro e muito miudinho. Mesmo assim Seu Rodolfo treinou o Zé até ele virar craque.
Aos poucos as coisas foram mudando. Os primeiros dos onze irmãos foram crescendo e indo trabalhar fora pra ajudar dentro de casa.
Zé melhorou a alimentação e foi crescendo. Finalmente entrou no time de base dos juniores. Foi se destacando e aos dezessete já era jogador da primeira divisão.
Em um curto espaço de tempo, Zé virou artilheiro do campeonato estadual. Ninguém podia com o molequinho da favela. Molequinho que virou homem, ajudou a família e ficou conhecido na sociedade.
Zé Timbé sonhava tudo isso. Achava que um dia iriam descobri-lo para o esporte mas isso nunca aconteceu.
Nossa real história termina na parte que o pobre e mirrado vagabundo da favela foi rejeitado pelo time de base por ser muito fraquinho. Zé foi pra casa triste, dormiu e sonhou o estrelato, que nunca aconteceu.
Hoje, trabalha numa padaria de ajudante geral, e de tão cansado nem aguenta mais jogar no campinho. Zé é igual você e eu. É menino pobre, do povo, que como todo mundo sonhou em ser estrela, cujo brilho nunca existiu na mídia da sociedade. Apenas permaneceu no olhar do menino pobre, filho da gente, gente da gente.