Ao meio dia

A av. Floriano Peixoto está abarrotada de veículos e pedestres. João confere a hora no relógio digital de pulso que marca exatamente 12 horas e 35 segundos, abre o porta-luvas, pega uma carteira de cigarros, olha para seu lado direito e vê um mendigo sentado no chão da calçada da Telemar; os cabelos sebosos, a pele enrugada e cheia de manchas, as unhas imundas, vestido em trapos sujos, com o braço direito estendido a balançar uma cuia improvisada com uma lata de queijo do reino; o motorista enxuga o suor da testa, respira fundo balançando a cabeça em sinal de indignação, acende um cigarro e traga-o com ardência, no mesmo instante o semáforo fica verde; carros, motos, ônibus e pessoas disputam para ver quem chega primeiro, não se sabe onde. Neste exato momento, um rapaz apressado com o cérebro envolvido em processar e resolver a problemática do dia-a-dia, precipita-se sobre a faixa de pedestre, no entanto, no mesmo segundo um velho e acabado ônibus da prefeitura de Puxinanã move-se bruscamente e passa raspando o pé esquerdo do transeunte que pula para traz assustado ao perceber o finíssimo liame que separa a vida da morte. João dá o ultimo trago no cigarro e joga-o pela janela, se dá conta que a fila de automóveis está andando, engata a primeira marcha, faz mover-se o carro ao tirar levemente o pé da embreagem e, nesta mesma ocasião, uma dor pontiaguda toma conta do seu peito alastrando-se para o braço esquerdo, ao terceiro metro percorrido o automóvel pula, tosse e desliga fazendo barreira ao percurso dos demais. Logo as buzinas começam a gritar violentamente, um homem de meia idade desce de seu automotor aos berros a bradar com ar de ódio, “seu barbeiro imbecil! Comprou a habilitação?!”.

Autor: Guilherme Queiroz e Silva Filho

Guilherme Queiroz
Enviado por Guilherme Queiroz em 01/08/2011
Reeditado em 16/12/2014
Código do texto: T3131986
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